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Santo do Mês – Pio IX

 história

 7 de Fevereiro de 2011

Papa Pio IX

      O Papa Pio IX nasceu na Itália aos 13 de maio de 1792. Seus pais pertenciam à nobreza local e o batizaram com o nome de Giovanni (João) Maria Mastai Ferretti. Em 1809, transferiu-se para Roma a fim de continuar os estudos, sem ter se definido pelo sacerdócio.

      Foi ele quem mais longamente reinou na Igreja: 32 anos.

      A ele devemos a proclamação do Dogma da Imaculada Conceição, e a convocação do Concílio Vaticano I. Com Pio IX terminaram os Estados Pontifícios e a difícil relação política com a Itália, mais tarde restabelecida por Pio XI e completada, há pouco, por João Paulo II.

      Muitas vezes não entendemos os desígnios de Deus. Mas sempre acabaremos por descobrir que são desígnios de amor, de bênçãos e de paz para todos nós.

      Os católicos do século passado, os maus católicos, relaxados, não queriam que se definisse o dogma da Imaculada Conceição. Os bons o queriam. E Pio IX, que foi um grande Papa, definiu o dogma da Imaculada Conceição.

     Daí vem a conhecida oração: “Ó Maria Concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a Vós”. É uma linda jaculatória. Pela pureza inconcebível dEla que nós nem chegamos a excogitar, pedir que nos dê a integridade da pureza, da fé, e de todas as qualidades que Ela teve.

      A festa da Imaculada Conceição significa muitíssimo para a Igreja Católica.

O que quer dizer a Imaculada Conceição?

      Quando Adão e Eva pecaram, o gênero humano era constituído só por eles dois; não havia ainda outros homens e mulheres. E por causa disso, o pecado de Adão e Eva foi um pecado de todo o gênero humano. Isso nos dá uma explicação de como pode todo o gênero humano estar comprometido nesse pecado de Adão e Eva, ainda que nenhum de nós o tenha cometido pessoalmente.

       Esta explicação também nos dá uma ideia de que todos os homens depois do pecado original foram nascidos de pecadores; e como nascidos de pecadores, não poderiam ser imaculados. Isso porque o pai maculado(sem mancha) e a mãe maculada não podem ter filhos imaculados. O efeito tem as qualidades da causa. O filho tem os defeitos e algumas qualidades de seu pai.

       Ora, todos nós fomos concebidos no pecado original. E por causa disso muitas conseqüências sobrevieram para o gênero humano.

As consequências do pecado original

       Por exemplo, nós nos tornamos submissos à morte, quando por disposição de Deus o homem era sobrenaturalmente preservado da morte antes do pecado original. O homem está submetido às doenças e antes do pecado original não as tinha. O esforço cansa o homem, causa-lhe uma dor que se chama cansaço, que ele não tinha anteriormente.

       A mulher quando tinha seus filhos não os tinha com dôr, e sim, os gerava, os dava à luz com alegria. A mulher ficou submetida ao marido numa espécie de servidão, devido ao pecado original. Etc, etc.

A consequência mais grave

      Mas o mais grave de tudo não é nenhuma dessas consequências. É que se estabeleceu um desastre interno no homem. A razão indica ao homem os caminhos a seguir, mas os desejos indicam outros, fazendo-lhe oposição. Há então um conflito interior no homem. E esse conflito o faz sofrer tudo que ele tem que sofrer, para praticar a virtude.

      Considere tudo que os santos sofreram para praticar a virtude e aí se pode ver bem o que esse conflito interior significa. Você mesmo pode sentir em sua própria carne como é difícil praticar a virtude.

      Ainda que você seja tão jovem, a dificuldade em praticar a virtude é bem grande.

      É preciso pedir auxílio à Virgem Maria e por meio dEla a Deus Nosso Senhor, para se ter forças para praticar a virtude. Se não é assim, não se pratica. Essa é a verdade.

A Virgem Maria foi concebida sem pecado original

      Quando São Joaquim e Santa Ana A geraram, desde o primeiro momento de sua existência Nossa Senhora não teve pecado original. Esta lei Deus a suspendeu nEla por uma vontade onipotente, e assim Ela não ficou sujeita a nenhum dos efeitos, nem à dôr, nem à morte, nem à nada. Tudo, tudo, lhe foi dado de modo a que não sofresse as consequências do pecado original.

      Nela tudo era harmonioso e belo. E sem esforço, porque toda a sua personalidade era voltada à virtude. Ela não estava sujeita às tentações a que nós estamos sujeitos. Ela poderia ter sido tentada, mas não era essa tentação em que a vontade fica dividida. É como uma pessoa a quem um mau amigo faz um convite para o mal e que não fica nem um pouco seduzido. “Vá embora, fulano. Não quero saber disso!”

Assim foram as tentações do demônio à Santíssima Virgem Maria.

      É muito mais agradável pensar nisso assim, do que pensar em Nossa Senhora com inclinações para o mal e combatendo-as. Não é pensável. É a Mãe de Deus! Não, por favor! Essa é uma maneira sumária de ver a Imaculada Conceição.

       Em virtude disso o demônio foi esmagado, porque ele havia arrastado todo o gênero humano ao pecado, arrastando o primeiro casal que existiu.

       Quando Deus suspendeu a lei do pecado, suspendeu para Nossa Senhora e para a humanidade santíssima de Nosso Senhor Jesus Cristo. É natural. Uma mulher, a Mãe, e um homem, o Filho, começaram uma nova humanidade, espiritualmente. Porque depois que Nosso Senhor morreu na Cruz foi possível aos homens entrarem no Céu; os homens receberam uma torrente de graças. Inclusive no momento em que vocês estão lendo este artigo, todos nós recebemos graças. É por causa disso que chegaremos a nos salvar.

O sofrimento de Maria Santíssima

        A Virgem então não sofreu? Sofreu mais do que todos . E não foi por causa do pecado, nem do cansaço, nem da geração e nascimento de Nosso Senhor. O Natal de Seu Filho foi sem nenhuma dor, foi suavíssimo. A causa de seu sofrimento foi a Paixão de Jesus Cristo. Ela é chamada de Mater Dolorosa(Mãe Dolorosa) porque sofreu mais do que todas as mulheres da história, não em razão de pecados seus, que Ela não os teve.

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A toalha de Natal

A  TOALHA  DE  NATAL

 

          Todas as  revistas costumam publicar um conto de Natal nesta altura do ano. E quantas vezes esse conto não passa de uma linda invenção. Mas este que o leitor terá diante dos olhos, ainda que pareça estranho, é verdadeiro e aconteceu há vários anos numa vila marítima dos Estados Unidos. 

          Um ciclone varreu as costas americanas. O redemoinho de vento se arremete com fúria em torno da igreja erguida numa elevação de terreno, próximo ao mar.

          O furacão faz estremecer as paredes do templo e deita abaixo uma vasta superfície de rebôco, ainda úmido, da parede por trás do altar-mor. O rebôco tinha sido recém colocado aí.

          Foi um aborrecido contratempo que o pároco teve que resolver, na antevéspera do Natal. Era preciso reparar essa brecha, que destoaria da solenidade de tão grande festa. Mas como? Não havia tempo e nem os pedreiros se prontificariam a repor a argamassa na parede danificada, ocupados que estavam em preparar a festa em família. De alguma forma era preciso remediar o desastre.      

          Com mais essa preocupação ocupando os preparativos para a Missa do Galo, o pároco vai a um leilão para o Natal das crianças carentes. Entre outras prendas, o leiloeiro apregoa uma grande e bonita toalha de mesa de quatro metros, adornada com primorosas rendas. Certamente pertenceu a alguma rica e nobre família da Europa.

          Uma idéia atravessa repentinamente o espírito do padre. Aquela grande toalha não seria o forro de tamanho ideal para cobrir o buraco que enfeiava a parede por cima do altar mor?

          Ele dá o lance, compra a toalha, leva para a igreja e manda encobrir com ela a parte da argamassa caída. Feliz e inspirada idéia!  Quem visse a toalha reluzir entre as dezenas de lampadinhas coloridas, e rodeada de ramos verdes de azevinho, pensaria que tinha sido posta ali de propósito para adorno do altar em dia tão solene. 

          No dia 24 ao meio-dia, o sacerdote dirige-se à igreja. Já próximo dela, ao passar pelo ponto de ônibus vê uma senhora de idade, de rosto triste, olhar cansado, aspecto de amargura e até de fome. No seu traje, pobre mas limpo, e em todo o seu semblante há qualquer coisa de distinto, que não a confunde com qualquer mulher.

          ¬ Minha senhora, se quiser, pode esperar na igreja. Ainda faltam três quartos de hora para a passagem do primeiro ônibus. Dentro da igreja estará mais abrigada e não apanhará tanto frio ¬ sugere o padre, delicadamente.

          ¬ Muito obrigada, aceito! ¬ responde ela com voz sumida. 

          Entra na igreja, benze-se e reza com devoção. De repente, dirige com pressa os passos para o altar-mor, onde o pároco e os ajudantes dão os últimos retoques nas pregas da toalha.

          ¬ Era minha essa toalha! Exclama surpresa. Foi o meu marido que mandou fazer em Bruxelas. Olhe, aqui estão as iniciais dos nossos dois nomes!

          ¬ Acabo de a comprar num leilão e está nessa parede para tapar o estuque que caiu  com o ciclone de ontem.

          ¬ Gosto muito que esta toalha, de tantas saudades, sirva para adornar a casa de Deus.

          ¬ Por que é que a senhora a vendeu? ¬ pergunta com interesse o sacerdote.

          ¬ Vendi-a, como tenho vendido tudo quanto possuía. Pouco a pouco vou me desfazendo de todas as coisas: jóias, cobertores, a própria roupa do meu uso. Tudo tenho vendido para não morrer de fome.

          ¬ Roubaram-na?  Perdeu o que tinha em algum banco que faliu?

          ¬ Não, senhor padre. Explico tudo. Eu vivia em Viena de Áustria com o meu marido. Éramos felizes e nada nos faltava. Quando os nazistas invadiram a nossa pátria, fugi para a Suíça com o que consegui levar. O meu marido foi preso pelos alemães. Nunca mais soube nada dele. Morreu certamente em algum campo de concentração. Já lhe rezei tanto pela alma! Se ao menos soubesse com certeza que o meu marido tinha morrido, mas nem isso sei. 

          ¬ Minha senhora ¬ diz o pároco ¬ sou pobre, mas ajudá-la-ei no que puder. Tenho muito gosto em lhe oferecer a colcha para pôr na mesa nesta noite de Natal.

          ¬ Muito obrigada, senhor padre, mas não devo aceitar. Fica aqui melhor do que no miserável quarto em que vivo, onde nem sequer a poderia estender. Já estou resignada a nunca mais sair da pobreza.

          ¬ Mas por que não se oferece para governanta ou dama de companhia, ou mesmo professora de línguas? ¬ sugere o sacerdote, compadecido.

          ¬ Já várias vezes tentei oferecer-me para governanta, mas ninguém aceita. Acham-me cansada, fraca e velha demais.

          A senhora retirou-se humildemente para o ponto de ônibus, enquanto o sacerdote pensava no caso.  ¬ Que Natal tão triste o dessa mulher!    

          É noite. Bimbalham alegremente os sinos para a Missa da meia-noite, a Missa do Galo.

          Os fiéis acorrem de toda parte para a igreja, contentes, satisfeitos, bem defendidos do frio.

          Todos olham maravilhados para a toalha que rebrilha mais bela que nunca. O fulgor de centenas de lâmpadas faz ressaltar aos bordados a ouro e os adornos de marfim. Que bela idéia a do nosso pároco em ter colocado essa bonita colcha ali ¬ pensa o povo admirado.

          Começa a Missa. Os pequenos cantores entoam maravilhosos cânticos ao Menino Jesus, que no momento do Glória aparece lindo e corado no presépio entre Nossa Senhora, São José , os pastores e os reis magos.

          No fim todos depõem um beijo quente no pezinho rechonchudo do Divino Menino. 

          O povo vai saindo para o aconchego confortador de suas casas. Na igreja só fica um homem que diz ao sacerdote, quando ele também está para sair:

          Senhor padre, durante a Missa estive um pouco distraído a olhar para a toalha que puseram por cima do altar-mor. Quando eu vivia em Viena de Áustria com a minha saudosa esposa, tínhamos uma toalha igual. Se não for aquela, era parecidíssima. A minha mulher só a estendia na mesa quando o senhor Cardeal era hóspede em nossa casa. Tempos felizes, aqueles. A minha mulher fugiu para a Suíça quando os alemães invadiram a Áustria. Nunca mais soube nada dela. Suponho que já terá morrido.

          ¬ E se ela aparecesse?

          ¬ Seria o dia mais feliz da minha vida. Mas o senhor padre sabe alguma coisa dela?

          ¬ Talvez. Esta tarde esteve aqui na igreja uma senhora e disse-me que esta toalha tinha sido dela, que seu marido a tinha mandado vir de Bruxelas.

          ¬ E como era essa senhora? ¬ perguntou o homem.

          ¬ Era alta e deve andar pelos sessenta anos. Pela pronúncia notei logo que não era americana. Disse-me que vivia em Viena antes da invasão dos alemães e que o seu nome e do marido estavam marcados na toalha.

          ¬ É, sem dúvida, a minha mulher. Bendito seja Deus! Mas como é que a hei de encontrar?

         ¬ A estas horas da noite é impossível. Rezemos ambos ao Menino Jesus para que a faça aparecer. Venha às Missas da manhã para ver se a encontra aqui. 

          O bom homem, que exercia agora o ofício de relojoeiro numa ourivesaria importante, passou o resto da noite em sobressalto. Que ânsias as de tornar a ver a sua dedicadíssima companheira!

          Pela manhã, lá está na igreja. Mas a mulher infelizmente não veio àquelas Missas. O sacerdote avisa o povo. Sai com o senhor austríaco guiando-se pelas informações que lhe fornecessem.

          Pouco antes do meio-dia já os dois esposos se abraçam. Como descrever aquela cena! Que efusão de sentimentos! Após tantos anos de dolorosa separação, sem nada saberem um do outro, raiou novamente a alegria naqueles dois corações. O que a ambos parecia impossível, realizava-se. Vêem-se, abraçam-se, tornam a viver unidos na paz e felicidade de um lar modesto. Foi o Natal mais feliz de suas vidas.

          Era um milagre da bondade do Menino Jesus, que no dia do seu nascimento quis alegrar aqueles dois bons cristãos com a maior felicidade que podiam desejar na terra. 

 

                                                                                                          Jornal “A Presença” – Lisboa- Portugal

                                                                                                                        Dezembro de 1997 – nº166

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O Castigo do caluniador

história

      Tinha a Rainha Santa Isabel, esposa do Rei Dom Dinis, um criado de confiança, muito bom e fiel, a quem costumava entregar as esmolas dos pobres.

Rainha

       Outro criado, invejoso e caluniador, levara a mal a confiança da Rainha.

      Ferido de ciúmes, vai ter com o rei e começa com grandes fingimentos, sem acabar de dizer o que queria. Por meias palavras dava a entender que o caso era grave e aguçava assim a curiosidade do rei. Até que ele, irritado, gritou:

       – Fala por uma vez, e fala já!

      Foi então que o invejoso se saiu com uma mentira muito feia contra o próprio amigo. Nada mais, nada menos, que andava a conquistar o amor da rainha.

      O rei acreditou. Furioso, saiu para o campo, a espairecer e, ao mesmo tempo, a preparar o castigo para o criminoso.

       Passando por um forno, onde se queimava cal, teve uma idéia. Era ali que haveria de morrer o malvado. E diz ao forneiro:

       — Amanhã, muito cedo há de vir aqui um homem a perguntar da minha parte: — Já  está feito o que o rei mandou? Quando ele disser tais palavras agarrai-o e arremessai-o ao forno. É um criminoso que merece tal castigo.

       No dia seguinte, pela manhã, chamou Dom Dinis o pajem, de confiança da rainha e disse-lhe que fosse ao forno de cal perguntar se já estava feito o que o rei tinha mandado.

       Partiu logo o inocente rapaz. Ao passar por uma igreja, ouvindo tocar os sinos, entrou e ficou até ao fim da missa. Seguiram-se mais duas e ouviu-as também. Ansioso o rei por saber do sucedido, mandou, passada uma hora, o seu criado (o invejoso) perguntar ao forneiro se já estava cumprido o que na véspera lhe tinha mandado.

        Partiu o caluniador, com grande pressa.

      O caluniador – Já está feito o que o rei mandou? – Mal acabava de perguntar e os homens do forno o agarraram-no. Apesar dos seus protestos e gritos amarraram-no e lançaram ao forno, onde em breve ficou reduzido a cinzas. Pouco depois compareceu o criado inocente, perguntando:

        —Já está feito o que o rei mandou?

        —Sim, está tudo feito e acabado.

        Correu o rapaz para o paço a dar a notícia. Ao vê-lo são e salvo assombrou-se Dom Dinis e não pôde conter-se sem bradar:

        —Como é isto? Que fizeste?

       —Senhor – confessou ingenuamente o pajem – eu ia cumprir a vossas ordens quando em uma igreja ouvi os sinos. Entrei e ouvi aquela missa e mais duas, porque o meu pai, à hora da morte me recomendou que ficasse até o fim das missas que ouvisse começar. Como sempre assim fiz, também hoje não quis faltar.

        Assombrado ficou o rei, vendo aqui a justiça de Deus.

       Abriram-se-lhe, de repente, os olhos da alma. Reconheceu a inocência da rainha, a virtude deste pajem e a maldade do outro.

       Grande recompensa de quem tanto estimava a missa! E castigo tremendo para o criado caluniador.

Fonte: “O Clarin”, ano 55 – julho 2000 nº7

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Santa Teresinha – Somente rosas?

SantaTeresinha

No  dia 1º de outubro, festa de Santa Teresinha do Menino Jesus e da Sagrada Face, a maior santa dos tempos modernos, segundo São Pio X.

A santa prometeu fazer cair do Céu sobre a terra uma chuva de rosas, vale dizer, graças abundantes para a santificação das almas.

S. Teresinha 010Esse símbolo ficou de tal modo ligado ao seu nome, que, no mais das vezes, quando dela se fala, pensa-se logo nas pétalas de suave perfume, esquecendo-se dos espinhos.

Com efeito, um pouco por toda parte, formou-se uma idéia unilateral sobre a santa de Lisieux: meiga, atraente, havendo mesmo quem julgasse ter sido a jovem e heróica carmelita uma criatura mimada, tanto na família quanto no convento.

Na iconografia sulpiciana e tantas vezes deformada que correu o mundo não se nota o menor traço do sofrimento. Sua vida teria sido um mar de rosas…

Pelo contrário, essa santa, que via despontar em si, com toda clareza, a vocação religiosa aos dois anos de idade, confessa no leito de morte que sofreu incrivelmente, desde sua mais tenra infância. E insistia: “Sofri muito nesta terra; será preciso fazê-lo saber às almas”.(Carnnet Jaune, 31.7.1913)

É precisamente sobre esse aspecto quase desconhecido de Santa Terezinha que pretendemos discorrer no artigo de hoje.

Servimo-nos de anotações extraídas do abalizado livro do Pe. Alberto Barrios, CMF, “Santa Teresita, modelo y mártir de la vida religiosa” (Editorial Coculsa, Madrid, 1964).

No Alto do Carmelo

Dada a limitação do espaço, cingir-nos-emos ao verdadeiro martírio que representou para a santa os nove anos e meio que passou no Carmelo, cujas portas lhe foram franqueadas após luta intensa, aos 15 anos de idade.S. Teresinha 003

Mal acaba de transpor a clausura, ouve a amarga censura do Superior, Pe. Delatroette, perante os familiares e toda a Comunidade: “Quisestes que esta menina entrasse, Vós, e não eu, sereis os responsáveis”.

Mais tarde ele se arrependerá, confessando com os olhos rasos de lágrimas: “Ah, verdadeiramente esta menina é um anjo!”.

A heróica Teresa não tinha nenhuma ilusão sobre o que a aguardava no claustro. Ela mesma escreveu: “Deus me concedeu a graça de não levar nenhuma ilusão ao Carmelo. Encontrei a vida religiosa tal qual a imaginava. Nenhum sacrifício me surpreendeu”.

No tempo da santa, o Mosteiro de Lisieux foi dirigido por uma freira geniosa, “psiquicamente desequilibrada”, Madre Maria de Gonzaga.

Essa religiosa tornou-se efetivamente o instrumento de Deus para a santificação da Irmã Teresa.

Uma das religiosas declarou no processo de canonização: “Vejo-me obrigada a dizer que durante os anos que Soror Teresa do Menino Jesus passou no Carmelo de Lisieux, teve que sofrer esta Comunidade agitações deploráveis.

Existiam oposições de partidos, lutas de caracteres, cuja origem era o temperamento fastidioso de Madre Maria de Gonzaga, que durante mais de 20 anos foi Priora, em diversas ocasiões”.

Os processos fazem referência a fatos assim qualificados: “cenas espantosas estalavam com um a tempestade, a propósito de nada, porém a inveja era sua origem”.

Nesse ambiente a santa demonstrou “toneladas de prudência”. “Deus prova de grande cautela para evitar quanto pudesse agravar a situação já difícil. Procurava conciliar as coisas, acalmar os espíritos turbados, para que voltasse a paz e as almas pudessem retomar sua vida interior, abalada com frequência”.

Soror Maria Madalena depôs: “Neste ambiente, tão pouco edificante, Soror Teresa do Menino Jesus não cometeu jamais a menor falta”.

Era tal sua união com Deus que vivia como se estivesse no mesmíssimo Céu! Todas as dificuldades eram uma ocasião de progredir na virtude.

Humilhações

É conhecido o episódio da teia de aranha. A noviça, após executar exemplarmente a limpeza, recebe da Superiora perante toda a Comunidade esta repreensão: “Bem se vê que o claustro foi varrido por uma menina de 15 anos! É uma calamidade. Vá tirar aquela teia de aranha e seja mais cuidadosa para o futuro!”.

S. Teresinha 002       “Durante seu postulantado, comenta Sóror Teresa de Santo Agostinho, foi tratada muito severamente pela Madre Priora. Nunca a vi rodeada de cuidados, nem de atenções. Esta maneira de comportar-se com a Serva de Deus não se modificou com os anos; mas a doçura e humildade com que aceitava as advertências, as repreensões, não se desmentiram nunca: ainda quando não eram merecidas”.

Um dia em que Madre Inês, irmã mais velha da santa revelou à Priora sua tristeza por ver a jovem irmã tão maltratada e sempre humilhada sem razão, Madre Gonzaga respondeu vivamente:

–“Aqui está o inconveniente de ter irmãs ( no convento)… Sóror Teresa é muito mais orgulhosa do que pensais; necessita ser constantemente humilhada”.

Mas o tratamento adverso não vinha apenas da Superiora. “Algumas religiosas – declarou Celina, a irmã carnal pouco mais velha que a santa – abusavam de sua heróica paciência.

Durante três anos, a santa cuidou com carinho maternal de uma religiosa – Soror San Rafael – “maníaca e sem inteligência, que faria impacientar a um anjo”.  Ao declínio mental se ajuntava a didropsia.

Seja por curta inteligência, seja por imaginar que Teresa não tinha sede, o fato é que todos os dias bebia sozinha a pequena jarra de cidra que colocavam para ela e para a santa, no refeitório. O mérito está em que Teresa jamais lhe disse uma palavra de advertência, privando-se de tomar a cidra que lhe correspondia.

Terrível Holocausto

Teresa repetiu mais de uma vez que não conheceu, em sua vida de carmelita, os consolos de Deus. Seus últimos dias foram particularmente marcados por terríveis sofrimentos físicos e morais.

Na Quaresma de 1897, a tuberculose revela-se em estágio desesperador. Todos os dias às 15 hora – “horário militar”, dirá a doente – uma forte febre a vai consumindo. As hemoptises tornam-se rotina, duas e até três num só dia.S. Teresinha 011

As crises de sufocação diurnas e noturnas são terríveis. A angústia a invade. Aspira éter, mas a opressão é tão forte que o remédio não produz efeito. Teresa sofre muitas séries de aplicações de pontas de fogo, mais de quinhentas numa só vez – “eu mesma as contei”, diz Celina. Ela chegou a ponto de não poder respirar sem dar pequenos gritos, de quando em quando.  Uma sede ardente a consome: “Quando eu bebo, é como se derramasse fogo sobre fogo”.

A tuberculose atinge outros órgãos, que começam a decompor-se pela gangrena, provocando sofrimentos lancinantes. Teresa já não suporta o menor barulho, mesmo o amarrotar de um papel ou palavras ditas em voz baixa. Uma fraqueza que não lhe permite sequer mexer as mãos, pesadelos aterradores, nervos à flor da pele – ela chega ao auge do seu calvário! Está tão magra que, em muitas partes, os ossos atravessam a pele e formam-se chagas dolorosíssimas. “Não desejeis conservá-las nesse estado, adverte o médico, é horrível o que ela sofre!”

“Nunca pensei que fosse possível sofrer tanto. Nunca! Nunca!” – exclama por sua vez a doente. Sua agonia foi longa e dolorosíssima: “Não encontro explicação para isto senão nos ardentes desejos que tive de salvar almas”, dizia a santa.

Sua morte foi grandiosa e impressionante na sua simplicidade. O êxtase transfigurou sua fisionomia.

“Ninguém imagine – advertia Teresa – que seguir nossa pequena via é levar uma vida de repouso, toda de doçura e de consolações. Ah! é bem o contrário! (…) Porque o amor não vive senão de sacrifícios, e quando alguém se entregou totalmente ao amor, deve estar para ser sacrificado sem nenhuma reserva”.

Eis o verdadeiro sentido da vida de Santa Teresinha do Menino Jesus e da Sagrada Face.

Infelizmente, ele é desconhecido de muitos, que formaram uma visão distorcida da extraordinária religiosa de Lisieux; fixaram apenas o símbolo da chuva de rosas, esquecendo-se porém dos espinhos.

Fonte: Desconhecida

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