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Jejum e abstinência durante a quaresma

06 de março de 2019

A quaresma é o tempo litúrgico que nos prepara para o maior acontecimento da história, acontecimento este sem o qual “nossa fé seria vã”: a ressurreição de Cristo. Nesse tempo, através da riqueza dos símbolos e dos textos litúrgicos, somos chamados de forma particular à verdadeira conversão.

Este período se inicia na Quarta-feira de cinzas, dia em que o sacerdote deposita as cinzas em nossa cabeça para recordar nossa condição de pecadores, pronunciando a fórmula: “Memento homo quia pulvis es et in pulverem reverteris – Lembra-te,  homem, de que és pó e ao pó hás de voltar”. A partir desse momento somos convidados a mergulhar em um tempo de reflexão, oração e penitência, de apelo à misericórdia divina, como nos ensina o salmista: “Tende piedade de mim, Senhor, segundo a vossa bondade. E conforme a imensidade de vossa misericórdia, apagai a minha iniquidade” (Sl 50, 3). 

Por isso a quaresma é favorável à prática da penitência através do jejum e da abstinência [1]. Práticas estas que são distintas entre si: “O jejum consiste na privação de alimentos” e “a abstinência consiste na escolha de uma alimentação simples e pobre, abstendo-se de carne”. Para a prática do jejum, o aconselhado é fazer apenas uma refeição ao dia e, se necessário, mais duas simples em proporções menores que o habitual.

 

Para melhor cumprir o preceito penitencial, aconselha-se observar outras práticas que podem ser vividas nesse período como a oração e a esmola,  “pois o jejum, a oração e a esmola completam-se mutuamente, em ordem à caridade” [2]. Segundo o Código de Direito Canônico, no que se refere a oração, “poderão cumprir o preceito penitencial através de exercícios de piedade mais generosos, tais como: o exercício da via sacra; a recitação do Rosário; a recitação de Laudes e de Vésperas do ofício das horas; a participação na Santa Eucaristia; uma leitura prolongada da Sagrada Escritura”. No que diz respeito à esmola, “poderão cumprir o preceito penitencial através da partilha de bens materiais. Essa partilha deve ser proporcional às posses de cada um e deve significar uma verdadeira renúncia a algo do que se tem”.

Todos esses atos nos preparam mais dignamente para receber o Sacramento da Reconciliação, por onde nossos pecados serão lavados e teremos direito à árvore da vida e a entrar na Jerusalém Celeste (Cf. Ap. 22, 14). Não hesitemos em reencontrar a amizade de Deus perdida com o pecado, pois é no encontro com o Senhor que experimentamos a alegria do seu perdão. Neste início de Quaresma, procuremos, mais ainda do que a mortificação corporal, aceitar o convite que a Liturgia sabiamente nos faz, combatendo o amor próprio com todas as nossas forças.

Referências:
[1] Cf. CIC, Cân. 1249-1253.
[2] Idem.

Outros materiais consultados:
Quarta-feira de Cinzas
Entenda: Porque jejuar nas sextas-feiras da Quaresma?

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Fieis recebem sacramentos do Crisma e Primeira Comunhão na Sede dos Arautos

18 de novembro de 2018

Neste domingo, 25 fieis receberam o sacramento da Confirmação e 1 recebeu sua Primeira Comunhão pelas mãos do Pe. Paulo Sérgio Vieira Leite, Vigário Episcopal para o Vicariato Soledade.

O sacramento da Confirmação (ou Crisma) é um dos Sacramentos da iniciação cristã. Por este sacramento, os batizados “são mais perfeitamente vinculados à Igreja, enriquecidos com uma força especial do Espírito Santo e deste modo ficam mais estritamente obrigados a difundir e a defender a fé por palavras e obras, como verdadeiras testemunhas de Cristo” (Lumen Gentium, 11).

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Festa da Dedicação da Basílica de São João de Latrão – II

Parte 2

A polêmica marca o início da vida pública de Jesus

Estava próxima a Páscoa dos judeus e Jesus subiu a Jerusalém.

   A magnífica cena da expulsão dos vendilhões do Templo, descrita por São João, ocorreu durante a primeira Páscoa da vida pública de Nosso Senhor Jesus Cristo.

   Cumpre ressaltar que, segundo consta nos outros Evangelhos, Jesus tomou semelhante atitude nesse recinto sagrado ao menos duas vezes. Uma foi no início de sua pregação, narrada neste trecho, e outra alguns dias antes da paixão. Em ambas as situações encontramos Nosso Senhor manifestando um aspecto de sua divina personalidade que desconheceríamos se não fosse a circunstância referida pelo texto sagrado: a cólera do próprio Deus, a indignação do Onipotente, vista através dos véus da natureza humana.

No Templo, encontrou os vendedores de bois, ovelhas e pombas e os cambistas que estavam aí sentados.


   Por ocasião da Páscoa, reuniam-se em Jerusalém judeus vindos de toda a parte para cumprir o preceito de visitar o Templo. A Lei prescrevia o oferecimento de vítimas em holocausto — bois, cordeiros, pombos e rolas —, mas, como é compreensível, quase ninguém trazia de longe os animais para esse fim. Os peregrinos também deviam pagar o imposto anual do Templo em moeda judaica. Como na época havia israelitas dispersos por inúmeras nações, cada qual com a moeda própria, ao chegarem de viagem eram obrigados a procurar negociantes que efetuassem o câmbio.6 As moedas estrangeiras, sobretudo a romana, circulavam livremente pela Judeia.

   As necessidades do culto acima descritas deram margem ao estabelecimento de um verdadeiro comércio de animais e de uma praça de cambistas no átrio do Templo, chamado Pátio dos Gentios, onde o acesso aos estrangeiros ainda era permitido. Ali a movimentação se assemelhava à de um mercado ou de uma feira cheia de vida dos dias de hoje, acrescida de manifestações do temperamento oriental, muito comunicativo e afeito a cânticos e discussões. A soma de todos esses elementos resultava num tumulto inadmissível naquele recinto incomparavelmente sagrado, a ponto de a simples lembrança desses fatos nos dar a impressão de um Templo profanado.  

Mãos que abençoam também castigam

Fez então um chicote de cordas e expulsou todos do Templo, junto com as ovelhas e os bois; espalhou as moedas e derrubou as mesas dos cambistas.

   Como devemos entender o fato de Jesus, a substância da própria Bondade, dar vazão ali à sua divina cólera?

  Aquelas mãos feitas para abençoar, em determinado momento decidem dar uma bênção especial, com um hissope peculiar: um látego. Jesus, conhecedor de todos os segredos da natureza, terá escolhido fibras adequadas para tecer esse instrumento com maestria única. Não imaginemos que Ele acariciasse com suavidade e doçura as costas dos que lá se encontravam. Pelo contrário, usa de violência pondo-os para fora e derrubando as mesas dos cambistas, de maneira a fazer rolar as moedas pelo chão. Segundo se calcula, eram nada menos que duas mil pessoas transitando nessa área, e Cristo as expulsou sozinho, valendo-Se apenas de um chicote. Isso nos ajuda a medir não apenas a intensidade da cólera e a força de seu braço, mas, sobretudo, o ímpeto vindo do fundo de sua Alma, inteiramente aliado à ira divina.

E disse aos que vendiam pombas: “Tirai isto daqui! Não façais da casa de meu Pai uma casa de comércio!”

   De fato, essa situação criada com o passar dos anos proporcionava renda ilícita não só aos vendedores e cambistas, mas em primeiro lugar aos membros do Sinédrio, de maneira particular à família sacerdotal de Anás. Haviam eles instituído um sistema de controle desse comércio e um monopólio sobre todos os trâmites ali efetuados. Livres de qualquer concorrência, aproveitavam-se das exigências legais para impor valores inflados, configurar roubos e extorquir do povo as mais variadas quantias

A verdadeira origem da indignação do Divino Mestre

Seus discípulos lembraram-se, mais tarde, que a Escritura diz: “O zelo por tua casa me consumirá”.

   Em nossos dias, muitos manifestam dificuldade em compreender a conduta do Salvador nesse episódio, por não vislumbrarem ali os efeitos de sua misericórdia. Lembremo-nos de que Jesus assim procedeu para benefício das almas, com enorme empenho em perdoar, corrigir e conceder a salvação. É com o intuito de favorecer todos, movido pelo mesmo zelo que manifesta pela casa de seu Pai, que vê maculada por um tumulto comercial e por interesses alheios à Religião.

Então os judeus perguntaram a Jesus: “Que sinal nos mostras para agir assim?”

   Se realmente esperavam um sinal, deveriam reconhecer que o fato de um só homem afugentar milhares de pessoas era a demonstração claríssima de estar agindo por força sobre-humana. Numa época em que não existiam as armas de fogo, Ele nem sequer Se serviu da espada ou da lança, mas teceu um chicote de cordas, de si insuficiente para amedrontar todos os presentes. Em tese, bastaria dominar o seu braço para impedi-Lo de continuar e a vitória dos negociantes estaria assegurada. Eles poderiam tê-Lo prendido, interrogado e levado à morte no mesmo dia.

   É evidente que não o tentaram fazer porque estavam tomados de pavor. Na verdade, ninguém teve coragem de se levantar contra Ele! Que outro sinal buscavam? Essa falta de reação dos maus, paralisados pelo temor imposto por Nosso Senhor, era demonstração de um tão extraordinário poder, que bem poderia afirmar Jesus: “O sinal que vós quereis é o medo que tendes de Mim!”. Todavia, Ele vai atendê-los, concedendo por misericórdia aquilo que pedem. 

Um Templo superior ao Templo

Ele respondeu: “Destruí este Templo, e em três dias o levantarei”. Os judeus disseram: “Quarenta e seis anos foram precisos para a construção deste Santuário e Tu o levantarás em três dias?”. 21 Mas Jesus estava falando do Templo do seu Corpo. Quando Jesus ressuscitou, os discípulos lembraram-se do que  Ele tinha dito e acreditaram na Escritura e na palavra d’Ele.

   A partir do momento em que Deus, Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, Se encarna e assume a nossa natureza, seu Corpo passa a ser o Templo perfeitíssimo de Deus — não apenas do Filho, mas também do Pai e do Espírito Santo — estabelecido na face da Terra como pedra angular, peça principal e Cabeça da Santa Igreja. Esse Templo, encontramo-Lo ainda hoje de forma invisível, mas real, na Eucaristia. E Deus deseja que se construam templos para abrigar o Templo verdadeiro da Santíssima Trindade, o Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo, oculto sob as Sagradas Espécies.

III – Nós também somos templos de Deus

Nosso templo deve ser sempre embelezado

   Na medida em que somos íntegros, enriquecemos e aprimoramos nosso templo com vitrais, pinturas, símbolos, cores e belos mármores, e conforme crescemos em piedade eucarística, entregamo-nos a Nosso Senhor, fugimos do pecado e combatemos os nossos defeitos e caprichos, mais as suas paredes se tornam abençoadas e somos penetrados pela presença da Santíssima Trindade, que passa a falar com mais frequência no interior da alma.

Não permitamos a profanação desse templo

   Não permitamos de maneira alguma o estabelecimento de um comércio ilegítimo em nossa alma, pior que o câmbio de moedas ou a venda de animais: a admiração pelas coisas do mundo que nos distanciam de Deus. Em quantas ocasiões da vida, especialmente neste tempo em que o pecado campeia por toda a Terra, corremos o risco de transformar nosso templo num “covil de ladrões”! Tomemos muito cuidado nessas circunstâncias para não trocarmos a “moeda” da eternidade pela do mundo.

Senhor, purificai este templo!

   Se em alguma ocasião nosso templo foi profanado, hoje é o dia de pedir: “Senhor, vinde com vosso chicote e expulsai os vendilhões que estão dentro de mim!”. Este é o dia da expulsão dos vendilhões do templo de nossa alma, caso tenhamos permitido que nela se fizesse comércio, transformando-a num “covil de ladrões”. Aproveitemos esta festa para assimilar com ardor o ideal de integridade e sermos verdadeiramente honestos, abandonando qualquer má inclinação que possa macular, ainda que seja num ponto mínimo, o vitral de nosso templo. Façamos desde já o propósito de tratar nosso corpo com todo respeito e veneração, e de nunca usá-lo para ofender a Deus. É preferível morrer que pecar, pois ao manter-se livre de qualquer comércio, o templo de cada um ressuscitará com a glória extraordinária que lhe é prometida  por Aquele que recebeu do Pai o poder de fazer justiça.

Fontes consultadas:  DIAS, João S. Clá, O Inédito sobre os Evangelhos Vol VII, Libreria Editrice Vaticana, Città del Vaticano, 2013

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Festa da Dedicação da Basílica de São João de Latrão – I

Parte 1

I – A cabeça e mãe de todas as igrejas

   A Igreja celebra com esplendor a festa da Dedicação da Basílica de São João de Latrão, que ostenta o título honorífico de “Omnium urbis et orbis ecclesiarum mater et caput”, ou seja, “Mãe e cabeça de todas as igrejas da cidade [de Roma] e do mundo”. É ela a Catedral do Papa, ao contrário do que se costuma pensar devido ao papel hoje desempenhado pela Basílica de São Pedro, a qual, na verdade, é apenas uma das quatro basílicas papais da Cidade Eterna.

   Até o exílio dos Papas em Avignon, no século XIV, viviam eles no Palácio de Latrão, antiga propriedade da família Laterano, nome pelo qual ficou conhecido. O cônsul romano Pláucio Laterano, por suspeita de conspiração, foi morto pelo infame Nero que lhe confiscou os bens, dentre os quais esse edifício, na mesma época em que movia a perseguição aos cristãos.1 Não imaginava o tirano que, anos mais tarde, tudo aquilo seria doado à Igreja pelo Imperador Constantino, e tornar-se-ia residência dos sucessores de Pedro e primeira Basílica da Cristandade. O Papa São Silvestre dedicou-a no ano 324.

   Nesta Basílica encontramos não só vestígios de variados estilos artísticos, graças às obras de embelezamento e ampliação realizadas ao longo dos séculos, mas também numerosas e valiosíssimas relíquias. Dentre as principais contam-se a mesa onde foi celebrada a Santa Ceia (cf. Mt 26, 20-28; Mc 14, 18-24; Lc 22, 14-17), parte do tecido purpúreo com que os soldados revestiram o Divino Redentor na Paixão (cf. Mc 15, 17; Jo 19, 2), as cabeças de São Pedro e de São Paulo, e a taça na qual São João Evangelista, segundo uma antiga tradição, foi obrigado a tomar um veneno que, por milagre, não lhe fez mal. 

Nascida sob o signo da perseguição

   Para melhor compreendermos a importância desta data, lembremo-nos de que a Santa Igreja Católica nasceu sob o signo  da perseguição, em circunstâncias por vezes tão violentas que obrigavam os primeiros cristãos a se refugiar nas catacumbas — os cemitérios cristãos — para praticar o culto. Era costume na Roma Antiga escavar extensas galerias subterrâneas, verdadeiros labirintos, nas quais sepultavam os mortos. Transitar por elas era perigoso, pois quem o fizesse podia se perder com facilidade, sem ter como retornar. Nas épocas de perseguição, os irmãos que nos precederam com o sinal da Fé precisavam embrenhar-se nessas profundezas — naquele tempo sem dispor de luz elétrica —, com grande risco de serem denunciados, presos e supliciados. No Coliseu e no Circo Máximo grande número de cristãos manifestaram sua adesão à Fé com a própria vida, ao serem mortos pelas feras na arena diante do público ou em meio a terríveis tormentos.  

   A liberdade de culto outorgada por Constantino com a promulgação do Edito de Milão, em 313, por influência de sua mãe Santa Helena, e o consequente pulular de incontáveis igrejas por todo o império — dentre as quais a Basílica de Latrão ocupa um posto proeminente — representaram para os fiéis indescritível alívio e alegria.

   Expressivo é o testemunho de Eusébio de Cesareia ao retratar o exultar do povo cristão com o advento dessa nova era da História da Igreja: “um dia esplendoroso e radiante, sem nuvem alguma que lhe fizesse sombra, ia iluminando com seus raios de luz celestial as igrejas de Cristo pelo universo inteiro, […] transbordávamos de indizível gozo, e para todos florescia uma alegria divina em todos os lugares que pouco antes se encontravam em ruínas pela impiedade dos tiranos, como se revivessem, depois de uma longa e mortífera devastação. E os templos surgiam de novo desde os fundamentos até uma altura imprevista, e recebiam uma beleza muito superior à dos que anteriormente haviam sido destruídos”

   Por isso a festa da Dedicação da Basílica do Latrão foi instituída em Roma, expandindo-se mais tarde, e hoje consideramos com júbilo esse templo grandioso, que até nossos dias impressiona por seu esplendor.

 

Fontes consultadas:  DIAS, João S. Clá, O Inédito sobre os Evangelhos Vol VII, Libreria Editrice Vaticana, Città del Vaticano, 2013
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