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Comemoração de Todos os Fiéis Defuntos

I – Após a morte, uma dívida pendente

   A Santa Igreja, em sua sabedoria e inerrância divinas, inseriu no calendário litúrgico a comemoração de Todos os Fiéis Defuntos no dia seguinte à Solenidade de Todos os Santos — no Brasil adiada para o domingo seguinte por motivos pastorais —, com o intuito de unir os três estados da Igreja, Corpo Místico de Nosso Senhor Jesus Cristo, do qual Ele é a Cabeça. Ontem, a Igreja militante — constituída pelos que na Terra, em estado de prova, combatem o bom combate para receber depois o prêmio da glória (cf. II Tim 4, 7-8) — festejava a Igreja triunfante, louvando e glorificando os Santos que já se encontram na eterna bem-aventurança. Hoje volta ela seu olhar para os irmãos que, sendo também justos, ainda estão no Purgatório — a Igreja padecente —, cumprindo as penas temporais devidas por suas faltas.

   Depois da Confissão, uma dívida pendente Não obstante, devemos nos lembrar de que se o Batismo perdoa a dupla pena à qual está sujeito o pecador — a eterna, em consequência da rejeição de Deus, e a temporal, devido à adesão desordenada às criaturas —, a Confissão, ao absolver da primeira, nem sempre livra totalmente da segunda, pois a remissão desta depende da intensidade e da perfeição do arrependimento de cada alma (assim nos ensina São Tomás). Assim, na maior parte dos casos, permanece pendente uma dívida que exige reparação, quer na Terra, por meio da penitência, quer na outra vida, submetendo-se a alma aos rigores do Purgatório.

   No que consiste, então, essa dívida, e como poderá a alma pagá-la? Imaginemos alguém que, andando pela rua num dia de chuva, se vê de repente coberto de lama da cabeça aos pés pela passagem de um veículo em alta velocidade. Por mais que essa pessoa lave o rosto, sabe que, além disso, precisa limpar a roupa, sobretudo se está a caminho de uma festa de casamento, onde jamais poderia aparecer manchada de barro.

A razão da existência do Purgatório

   Da mesma forma, no momento em que a alma se separa do corpo e comparece ao juízo particular, recebe um especial dom para lhe iluminar a memória e a consciência, recordando-lhe todos os detalhes de sua vida moral e espiritual. Percebe ela, então, como na Confissão lhe foram perdoadas as faltas contra Deus, bem como a pena eterna delas decorrente: seu rosto está limpo. Mas sua consciência grita, pois sente-se suja e necessitada de “trocar de roupa”, isto é, de pagar a pena temporal.

   Como obter o perdão da pena temporal e adequar os critérios, a fim de se estar pronto para ver a Deus? Na vida terrena podemos alcançar isto mediante a aquisição dos méritos que nos advêm das boas obras — penitências, orações, atos de misericórdia, etc. — ou pelas indulgências que a Igreja nos concede, pois, “usando de seu poder de administradora da Redenção de Cristo Senhor, […] por sua autoridade abre ao fiel convenientemente disposto o tesouro das satisfações de Cristo e dos Santos”.

   No caso de terem sido desdenhados estes meios, torna-se necessária a existência do Purgatório para, post mortem, “purificar [a alma] das sequelas do pecado” e obter a remissão da pena, como diz São Tomás, pagando durante um período a dívida imposta pela ofensa à consciência e à ordem do universo. “É portanto necessário” — continua o ensinamento da Igreja — “para o que se chama plena remissão e reparação dos pecados não só que, graças a uma sincera conversão, se restabeleça a amizade com Deus e se expie a ofensa feita à sua sabedoria e bondade, mas também que todos os bens, ou pessoais ou comuns à sociedade ou relativos à própria ordem universal, diminuídos ou destruídos pelo pecado, sejam plenamente restaurados”.

O reformatório de nosso egoísmo

   Desejando, pois, que entremos no convívio com Ele sem mancha alguma, puros e perfeitos — porque lá “não entrará nada de profano nem ninguém que pratique abominações e mentiras” (Ap 21, 27) —, Deus criou o Purgatório, à maneira de reformatório do nosso egoísmo, onde este é queimado no fogo e somos reeducados na verdadeira visualização de todas as coisas e no amor à virtude. Concluído este período, nossa alma está santificada e, por isso, pode-se afirmar que todos os que estão no Céu são santos.

Esperança no meio de grandes tormentos

   As almas do Purgatório sofrem terrivelmente, mas com uma grande vantagem sobre nós: a esperança segura do Céu. É esta uma virtude que causa alegria e consolação, porque nos promete uma posse futura. Todavia, nossa esperança nesta vida é duvidosa e incerta, porque estando aqui de passagem podemos em qualquer ocasião vacilar e cometer uma falta grave, arriscando perder a vida eterna se a morte nos colher logo depois. No Purgatório, pelo contrário, essa esperança já é absoluta, pois traz consigo a certeza de ter atingido o termo, isto é, de ter conquistado a salvação.

   O Venerável Estanislau Ghoscoca, dominicano polonês, estava certo dia rezando, quando lhe apareceu uma alma do Purgatório envolta em chamas. Ele perguntou-lhe, então, se aquele fogo era mais ativo e penetrante que o terrestre, e a alma, gemendo, exclamou: “Em comparação com o fogo do Purgatório, o da Terra parece uma rajada de ar leve e refrescante”. Como Estanislau, cheio de coragem, lhe pedisse uma prova, ela respondeu: “É impossível a um mortal suportar tais tormentos; contudo, se quereis uma experiência, estendei a mão”. Ele assim o fez e o defunto deixou cair nela uma gotinha de suor escaldante. No mesmo instante, dando um agudo grito, o religioso caiu desmaiado no chão, num estado semelhante à morte.

As almas do Purgatório desejam essa purificação

   Apesar de tais penas, as almas que se encontram no Purgatório não estão ali acorrentadas, desejando fugir. Pelo contrário, aceitam todos os sofrimentos. E se soubessem da existência de mil Purgatórios, ainda mais ardentes, quereriam neles se lançar, pois, na verdade, o que se lhes afigura mais intolerável é verem-se cobertas de manchas que as afastam de Deus.

II – A Igreja que luta reza pela Igreja que padece

   A Igreja, como Mãe amorosa, escolheu um dia do Ano Litúrgico para a comemoração dos Fiéis Defuntos, no qual concede aos sacerdotes o direito de celebrar três Missas, com “a condição que uma das três seja aplicada a livre escolha, com possibilidade de receber oferta; a segunda Missa, sem nenhuma oferta, seja dedicada a todos os Fiéis Defuntos; a terceira seja celebrada segundo as intenções do Sumo Pontífice”. 

   A Santa Igreja dá ainda aos fiéis o privilégio de obter uma indulgência plenária em favor de uma alma do Purgatório, recitando neste dia — ou nos dias subsequentes, até 8 de novembro — um Pai Nosso e um Credo em alguma igreja ou oratório, ou visitando um cemitério para rezar nessa intenção.

Um “negócio” com as almas do Purgatório

   Esta piedosa prática nos permite fazer amizade com aqueles que, por causa de nossas preces, saem do Purgatório e são admitidos no Céu, onde adquirem um poder de audiência colossal junto a Deus. Decerto, a gratidão deles nos beneficiará. Se nesta Terra somos agradecidos aos nossos benfeitores, quanto mais as almas que entram na glória saberão interceder em favor de quem por elas rezou.

   Nesse sentido, bem cabe aqui a aplicação da parábola do administrador infiel (cf. Lc 16, 1-8). Este homem, ao perceber que perderia o emprego devido à má gestão nos negócios de seu senhor, travou amizade com todos os devedores deste a fim de ser sustentado por eles na hora da amargura e da necessidade, já que, por sua avançada idade, carecia de forças para trabalhar. E, uma vez despedido, foi ele amparado por todos aqueles de quem fraudulentamente aliviara a dívida. Nosso Senhor não elogia o roubo do administrador, mas louva, isto sim, sua esperteza.

   Hoje é, então, o dia da esperteza! Devemos pedir por todos os que se encontram no Purgatório, sobretudo os mais ligados a nós. Este ato de caridade nos renderá bons amigos, que retribuirão em qualidade e quantidade o favor recebido e, por conseguinte, muito nos ajudarão na hora da dificuldade.

Fontes consultadas:  DIAS, João S. Clá, O Inédito sobre os Evangelhos Vol VII, Libreria Editrice Vaticana, Città del Vaticano, 2013

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O Escapulário do Carmo

   No dia 16 de julho de 1251, São Simão Stock suplicava a Nossa Senhora ajuda para resolver um problema da Ordem Carmelitana, da qual era o Prior Geral. Enquanto ele rezava, a Virgem apareceu- lhe, trazendo o Escapulário nas mãos, e disse essas confortadoras palavras: “Filho diletíssimo, recebe o Escapulário da tua Ordem, sinal especial de minha amizade fraterna, privilégio para ti e todos os carmelitas. Aqueles que morrerem com este Escapulário não padecerão o fogo do Inferno. É sinal de salvação, amparo e proteção nos perigos, e aliança de paz para sempre”. A Igreja assumiu o Escapulário e fez dele uma das devoções mais difundidas entre o povo de Deus.

   São Cláudio de La Colombière, afirma: “Não basta dizer que o Escapulário é um sinal de salvação. Eu sustento que não há outro que faça tão certa nossa predestinação”. 

 Dom Marcos Barbosa na obra “O Escapulário de Nossa Senhora do Carmo”  narra que em Santo André (SP), uma menina de 5 anos caiu dentro de um poço de 20 metros de profundidade. Uma hora depois, foi encontrada boiando sobre a água, com o Escapulário no pescoço. A família, naturalmente, atribuiu o fato à proteção da Mãe do Carmelo.

   Em São Paulo, um jovem de 15 anos, ao atravessar de bicicleta uma via férrea, foi apanhado pelo trem. Passado todo o comboio, ele se levantou ileso e, beijando comovido seu Escapulário, exclamava: “Só tive tempo de gritar: ‘Nossa Senhora do Carmo!’ Foi o bentinho d’Ela que me salvou!”

   O Escapulário é um sinal de aliança com Nossa Senhora, e exprime nossa consagração a Ela. Seu uso é um poderoso meio de afervorar os que vivem em estado de graça e de converter os pecadores. Por isso, os Arautos do Evangelho convidam a todos a abraçarem esta aliança com a Mãe de Deus:

 Obra consultada: Revista Arautos do Evangelho, Jul/2004, n. 31, p. 18 a 20

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AVISO

 

 Excepcionalmente no próximo Domingo,

dia 13 de Julho

 Santa Missa

10H

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Solenidade de Pentecostes

   Como outras tantas festas litúrgicas, Pentecostes nos faz recordar um dos grandes mistérios da fundação da Igreja por Jesus. Encontrava-se ela em estado ainda quase embrionário — alegoricamente, poder-se-ia compará-la a uma menina de tenra idade — reunida em torno da Mãe de Cristo. Ali no Cenáculo, conforme nos descrevem os Atos dos Apóstolos na primeira leitura (At 2, 1-11), passaram-se fenômenos místicos de excelsa magnitude, acompanhados de manifestações sensíveis de ordem natural: ruído como de um vento impetuoso, línguas de fogo, os discípulos exprimindo-se em línguas diversas sem tê-las antes aprendido.

   Enquanto figura exponencial, destaca-se Maria Santíssima, predestinada desde toda a eternidade a ser Mãe de Deus. Dir-se-ia que havia atingido a plenitude máxima de todas as graças e dons; entretanto, em Pentecostes, mais e mais Lhe seria concedido. Assim como fora eleita para o insuperável dom da maternidade divina, cabia-Lhe agora o tornar-Se Mãe do Corpo Místico de Cristo e, tal qual se deu na Encarnação do Verbo, desceu sobre Ela o Espírito Santo, por meio de uma nova e riquíssima efusão de graças, a fim de adorná-La com virtudes e dons próprios e proclamá-La “Mãe da Igreja”.

   Em seguida estão os Apóstolos; constituem eles a primeira escola de arautos do Evangelho. Observavam as condições essenciais para estarem aptos à alta missão que lhes destinara o Divino Mestre, conforme nos relata a Escritura: “Todos eles perseveravam unanimemente na oração, juntamente com as mulheres, entre elas Maria, Mãe de Jesus, e os irmãos d’Ele” (At 1, 14).

Ao anoitecer daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas, por medo dos judeus, as portas do lugar onde os discípulos se encontravam, Jesus entrou e, pondo-Se no meio deles, disse: “A paz esteja convosco”.

   Qual seria o lugar onde estavam reunidos, não se sabe com exatidão. A hipótese mais provável recai sobre o Cenáculo.

   Outro particular interessante. Ele poderia ter preferido saudá-los logo à entrada, no entanto caminhou entre eles e foi colocar-Se bem ao centro. Esse deve ser sempre o posto de Jesus em todas as nossas atividades, preocupações e necessidades.

   Sua saudação também nos chama especialmente a atenção: “A paz esteja convosco”.

   Jesus, desejando-lhes a paz, oferecia-lhes um dos principais frutos desse Amor infinito que é o Espírito Santo.

Depois dessas palavras, mostrou-lhes as mãos e o lado. Então os discípulos se alegraram por verem o Senhor.

   Por esta atitude do Senhor podemos bem avaliar o quanto o pavor havia penetrado na alma de todos, apesar de ouvirem a voz do Divino Mestre desejando-lhes a paz.

   Por isso tornou-se indispensável mostrar-lhes aquelas mãos que tanto haviam curado cegos, surdos, leprosos e inúmeras outras enfermidades, mãos que talvez eles mesmos tivessem, a seu tempo, osculado.

   Outra nota de bondade consiste no fato de Ele ter velado o esplendor de seu Corpo glorioso, caso contrário a natureza humanados Apóstolos não teria suportado o fulgor da majestade do Homem-Deus ressurrecto.

Novamente, Jesus disse: “A paz esteja convosco. Como o Pai Me enviou, também Eu vos envio”.

   Jesus Se dirige aos séculos futuros e, portanto, à própria era na qual vivemos. Também a nós Ele nos repete o mesmo desejo de paz formulado aos Apóstolos naquele momento, em especial à nossa civilização que tem suas raízes em Cristo — Rei, Profeta e Sacerdote —, cuja entrada neste mundo fez-se sob o belo cântico dos Anjos: “na Terra paz” (Lc 2, 14). Não foi outro o dom por Ele oferecido antes de morrer na Cruz, ao despedir-se: “Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz” (Jo 14, 27). Contudo, a humanidade hoje se suicida em guerras, terrorismos e revoluções. E qual a causa? Não queremos aceitar a paz de Cristo.

   A paz deve ser a condição normal e corrente para o bom relacionamento social, sobretudo na célula mater da sociedade, a família. Eis um dos grandes males de nossos dias: a autoridade paterna se autodestruiu, a sujeição amorosa da mãe se evanesceu e a obediência dos filhos foi carcomida pelo capricho, desrespeito e revolta. Essas enfermidades morais, transpostas para a vida da sociedade, redundam em luta civil, de classes e até mesmo entre os povos.

   Após esse segundo voto de paz, Jesus envia seus discípulos à ação, tornando claro o quanto é necessário jamais se deixar tomar pelo afã dos afazeres, perdendo a serenidade. Um dos elementos essenciais para o apostolado bem sucedido é a paz de alma de quem o faz.

E depois de ter dito isso, soprou sobre eles e disse: “Recebei o Espírito Santo”.

   A descida do Espírito Santo sobre Maria e os Apóstolos se deu depois da subida de Jesus ao Céu e talvez daí decorre o fato de alguns negarem a realidade do grande mistério operado por Ele na ocasião, narrada no versículo em análise. Esse erro, mais explícito no começo do século VI, foi solenemente condenado pela Igreja no V Concílio Ecumênico de Constantinopla, em 552: “Se alguém defende o ímpio Teodoro de Mopsuéstia, que diz […] que depois da Ressurreição, quando o Senhor soprou sobre os seus discípulos, dizendo: ‘Recebei o Espírito Santo’ (Jo 20, 22), não lhes deu o Espírito Santo, mas soprou só a modo de figura […], seja anátema”.

   No Evangelho de João essa doação do Espírito Santo tem em vista a faculdade de perdoar os pecados:

“A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados; a quem não os perdoardes eles lhes serão retidos”.

   Que grande dom concedido aos mortais por meio dos sacerdotes: o perdão dos pecados! E que imensa responsabilidade a de um Ministro de Deus! Dele diz São João Crisóstomo: “Se o sacerdote tiver conduzido bem sua própria vida, mas não tiver cuidado com diligência da dos outros, condenar-se-á com os réprobos”.

   Quanto se fala de paz, hoje em dia, e quanto se vive no extremo oposto dela! O interior dos corações se encontra penetrado de tédio, apreensão, medo, desânimo e frustração, quando não de orgulho, sensualidade e falta de pudor. A instituição da família vai se tornando uma peça de antiquário. A ânsia de obter, não importa por que meio, sem levarem conta o direito alheio, vai caracterizando todas as nações dos últimos tempos. Em síntese, não há paz individual, nem familiar, nem no interior das nações.

   Eis porque nossos olhos devem voltar-se à Rainha da Paz a fim de rogar sua poderosa intercessão para que seu Divino Filho nos envie uma nova Pentecostes e seja, assim, renovada a face da Terra, como melhor solução para o grande caos contemporâneo.

 Obra consultada:  DIAS, João S. Clá, O Inédito sobre os Evangelhos Vol I, Libreria Editrice Vaticana, Città del Vaticano, 2013

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