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O Ato Penitencial

   Em todas as missas, logo no início, nos reconhecemos pecadores e pedimos perdão a Deus. Meditemos neste pedido que, quantas e quantas vezes fazemos maquinalmente em nosso ato penitencial!

   Senhor, tende piedade de nós! É o grito dos dez leprosos quando se encontram com o Salvador . Todos nós somos chagados pela lepra do pecado, somos estropiados e cegos… Mostremos então ao Mestre, já no início da missa, as nossas chagas. Façamos como os pobres mendigos que apresentam suas misérias à beira do caminho em dias de romaria… Senhor, tende piedade de nós!

   Mais ainda! Mostremos a Deus Pai as cinco chagas de Cristo, serão elas nossa bandeira de glória. Que tesouro são essas cinco chagas! Foram abertas por nosso amor, por amor de ti, meu irmão, quem quer que sejas. Elas valem muito mais que todos os tesouros do mundo. Santo Agostinho nos diz que elas foram abertas para que nós, pecadores, pudéssemos entrar e aí repousar dos trabalhos do nosso prolongado exílio. Essas chagas são um oásis neste deserto e uma luz nas trevas deste mundo.

   Jesus se fez hóstia por que nos ama. Hóstia tão grande que uniu a terra e o céu… e ao mesmo tempo, hóstia tão pequenina que cabe na mão do celebrante… e nós deixamos Ele só em seu calvário, e não queremos nos imolar com ele! Senhor, tende piedade de nós!

  Ficamos espantados quando os dois discípulos de Emaús, encontrando o Mestre pelo caminho não o tenham reconhecido. E nós? Quantas vezes desconhecemos ou até negamos ao Senhor em certas contrariedades que diariamente nos aparecem? Senhor, tende piedade de nós!

   O Senhor uniu-se talvez misticamente às nossas almas, numa união comparável, mais muito superior à dos esposos. Ele nos chamou para si, nos atraiu até seu Divino Coração para que fossemos um com Ele. E nós andamos para outros caminhos, a procura de outras uniões, e prendemos o nosso coração a mil outras coisas! Cristo, tende piedade de nós!

   As vezes o sacerdote sente-se confundido ao subir ao altar! É que ele foi elevado à “mais alta dignidade da terra” e vive talvez bem perto das sombras da morte, ou quem sabe, talvez, dentro delas… E ao ver as suas sombras, ao ver que é todo sombra, não pode deixar de repetir como os dez leprosos: Cristo, tende piedade de nós!

   E tu, meu irmão, sentando em teu lugar na missa e que daqui a pouco estará diante do Cristo na Eucaristia e que és todo sombra também, não sentes o mesmo anseio de repetir este pedido? Cristo, tende piedade de nós!

   Sabes bem que todos nós somos membros do Corpo Místico de Cristo. Todos os homens são irmãos em Cristo. Ferir um dos nossos irmãos é ferir o próprio Cristo. Se a cada dia lembrássemos disso, quantas faltas de caridade poderiam ser evitadas?!

   Devemos rezar por todos, sem exceção. Ah! Se nós tivéssemos fé no valor da oração, mas uma fé verdadeira, viva, uma fé cega para todas as inconstâncias e vaidades deste e pronta para combater todas as desconfianças… Mas não. Somos homens de pouca fé. Reconheçamos isso para pedir ao Senhor que aumente nossa fé. Depois digamos, Senhor, tende piedade de nós!

   Meu irmão, dos dez leprosos curados, apenas um apareceu para agradecer! Pois bem, os outros nove, somos nós, somos os ingratos! Deus nos concede um alma em graça, vida pura, nos faz templos do Espirito Santo, mas trazemos esse tesouro em vasos  de barro, frágeis.

Que o reconhecimento de tantos dons e o temor de perder tudo nos faça pedir todos os dias, Senhor, tende piedade de nós.

   A humilde confissão da nossa insuficiência, das nossas faltas, glorifica imensamente a Deus, exalta a sua Onipotência, a sua Santidade. Reconhecer a própria baixeza e subir. Os joelhos que se curvam para a terra fazem com que Deus desça do céu. Digamos pois com o sacerdote: Senhor, tende piedade de nós!

CONVITE

Obra consultada:

A Missa e a Vida Interior, Artigos publicados na “Opus Dei” por D. Bernardo de Vasconcelos”, Edição da Opus Dei, Braga, 1936.

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28º Domingo do Tempo Comum

13 de Outubro de 2013

O mundo inteiro noticiava e comemorava em 1968 o grande feito do coronel Borman, do major Anders e do capitão Lovell, os famosos tripulantes da Apollo 8. A imprensa já lançava a pergunta “como homenagear tais heróis?”, ou “o mundo tem uma dívida de gratidão para com esses valetes, como pagar?”. A primeira circum-navegação lunar e as inéditas fotos do satélite eram  uma aventura comparada àquela empreendida por Cristóvão Colombo.

A gratidão é uma virtude e, segundo São Bernardo, a ingratidão é um “péssimo vício” que “torna ineficaz a oração”. Ora, se podemos dizer que os militares da Apolo 8 eram credores de uma dívida de gratidão, o que dizer de Deus quando vemos os benefícios que Ele nos oferece? Neste 28º Domingo do Tempo Comum Jesus lamenta a ingratidão daqueles a quem fez um grande favor. É a mesma queixa do Sagrado Corações de Jesus a Santa Margarida Maria Alacoque. “Eis aqui o coração que tanto amou aos homens e, em troca, não recebe deles mais que ingratidão. Aquele samaritano que voltou para agradecer é do grupo dos verdadeiros devotos do Sagrado Coração de Jesus!

Este é o tema da meditação que Mons. João Clá Dias, em seu “Inédito sobre os Evangelhos” nos apresenta para o 28º Domingo do Tempo Comum.

Aconteceu que, caminhando para Jerusalém, Jesus passava entre a Samaria e a Galileia. Quando estava para entrar num povoado, dez leprosos vieram ao seu encontro. Pararam à distância, e gritaram: “Jesus, Mestre, tem compaixão de nós!”

Pelo relato evangélico vemos como esses dez leprosos cumpriam os preceitos legais, no que se refere à sua terrível doença. Por tal motivo não ousaram acercar-se demais de Jesus, e colocando-se a certa distância imploraram a cura, por misericórdia. Eles obedeceram à Lei, sim, mas faltou-lhes fervor para se ajoelharem todos juntos diante de Cristo, que decerto os teria tocado e curado naquele momento, como no episódio antes ocorrido com outro leproso (cf. Mt 8, 2-4; Mc 1, 40-45; Lc 5, 12-16). Este fato nos serve de lição para a vida espiritual: tratando-se do relacionamento com Jesus, devemos agir com plena confiança e intimidade irrestrita, nunca receando recorrer a Ele, por piores que sejam os deslizes morais que nos pesem na consciência.

Ao vê-los, Jesus disse: “Ide apresentar-vos aos sacerdotes”. Enquanto caminhavam, aconteceu que ficaram curados.

Podemos conjecturar que eles saíram em conjunto, experimentando grande consolação interior, pois Nosso Senhor ia criando graças para alimentar em suas almas a fé na própria cura. Entre eles, um mais silencioso pensaria, quiçá, numa lepra pior que a do corpo, que era a do pecado, pois vivia afastado da religião verdadeira… era samaritano. Confiante na cura, cogitava no modo de melhor estar à altura do prodígio de que em breve seria objeto.

Finalmente, durante o percurso, deram-se conta de que a lepra os abandonara e, sem dúvida, prorromperam em gritos de alegria. A gravidade do mal de que se viram livres concorre mais ainda para certificar a grandeza do milagre operado. Apressaram então o passo para obterem quanto antes o atestado de cura.

Um deles, ao perceber que estava curado, voltou glorificando a Deus em alta voz; atirou-se aos pés de Jesus, com o rosto por terra, e lhe agradeceu. E este era um samaritano.

Houve um, entretanto, que ao invés de caminhar rumo ao Templo, resolveu voltar para agradecer a Jesus, cantando as glórias de Deus e manifestando enorme alegria por ter encontrado Alguém em quem se apoiar e a quem seguir. Era aquele que contraíra não só a lepra física, mas também a lepra da alma.

Por cima do preceito legal de certificar a cura, a principal obrigação de todos era agradecer a quem os curara. Quando Nosso Senhor disse “ide apresentar-vos aos sacerdotes”, Ele não os proibiu de exprimir reconhecimento ao benfeitor. Deu-lhes apenas uma recomendação, não querendo ferir o livre-arbítrio dos leprosos por respeitar essa faculdade que nos é oferecida para escolhermos o bem, nem fazê-los perder o mérito que adquiririam pela gratidão.

Todavia, desdenhando a oportunidade, os outros nove resolveram caminhar em rumo contrário ao de Jesus. Mais ainda, nada contradiz a hipótese de que regressaram mais tarde a sua vida normal, esquecendo-se por completo de quem os tinha beneficiado.

 Então Jesus lhe perguntou: “Não foram dez os curados? E os outros nove, onde estão? Não houve quem voltasse para dar glória a Deus, a não ser este estrangeiro?” E disse-lhe: “Levanta-te e vai! Tua fé te salvou”.

Tal ingratidão em relação a Deus quiçá leve ao inferno, já que pode desencadear uma grande quantidade de outros pecados. “O primeiro grau de ingratidão”, ensina São Tomás de Aquino, “é a ausência de retribuição; o segundo é a dissimulação, ou seja, como que escondendo o fato de se ter recebido o benefício; e, finalmente o terceiro e mais grave consiste em não reconhecer o benefício, seja por esquecimento seja por qualquer outro modo”.

É preciso, sobretudo, considerar que, além da lepra física, padeciam eles também de uma lepra moral chamada mundanismo, que os tornava cegos de Deus e fazia com que pusessem sua felicidade no prestígio social. O Mestre os curou da primeira para que pudessem, no momento de voltar e agradecer, serem curados da segunda.

O milagre operado por Nosso Senhor ao curar os dez leprosos, Ele o continua a realizar a todo instante em favor de qualquer pecador que, arrependido, venha a suplicar o seu perdão. Ele exige apenas que seja obedecida a mesma recomendação dada aos leprosos: apresentar-se ao sacerdote. Esta prescrição legal não era senão uma pré-figura da absolvição sacramental, instituída por Nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual nossas almas são purificadas da lepra do pecado.

O Evangelho de hoje sugere-nos uma atualíssima aplicação. Não temos lepra física, porém, nem sempre podemos dizer que estamos isentos da lepra espiritual. E em quantas ocasiões fomos mais beneficiados que os dez leprosos… É preciso, pois, não agir como os nove ingratos, mas imitar o exemplo do samaritano: voltar para agradecer a Nosso Senhor Jesus Cristo por nos ter curado tantas vezes da lepra interior, a começar pela maldição do pecado original, também por Ele abolida.

Para ler mais, clique aqui

Obras Consultadas:
DIAS, João S. Clá, O Inédito sobre os Evangelho, Libreria Editrice Vaticana
Città del Vaticano, 2012, pag 401 – 413
ORIA, Mons. Angel Herrera, VERBUM VITAE – La Palavra de Cristo, BAC, Madrid, 1954
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