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Os dias entre a ressurreição e a ascensão do Senhor

 

Caríssimos filhos, os dias entre a ressurreição e a ascensão do Senhor não foram passados na ociosidade. Pelo contrário, neles se confirmaram grandes sacramentos, grandes mistérios foram neles revelados.

No decurso destes dias foi afastado o medo da morte cruel e proclamada a imortalidade não apenas da alma mas também do corpo. Nestes dias, mediante o sopro do Senhor, todos os apóstolos receberam o Espírito Santo; nestes dias foi confiado ao apóstolo Pedro, mais que a todos os outros, o cuidado do rebanho do Senhor, depois de ter recebido as chaves do reino.

Durante esses dias, o Senhor juntou-se, como um terceiro companheiro, a dois discípulos em viagem, e para dissipar as sombras de nossas dúvidas repreendeu a lentidão de espírito desses homens cheios de medo e pavor. Seus corações, por ele iluminados, receberam a chama da fé; e à medida que o Senhor ia lhes explicando as Escrituras, foram se convertendo de indecisos que eram em ardorosos. E mais: ao partir o pão, quando estavam sentados com ele à mesa, abriram-se-lhes os olhos. Abriram-se os olhos dos dois discípulos, como os dos nossos primeiros pais. Mas quão mais felizes foram os olhos dos dois discípulos ante a glorificação da própria natureza, manifestada em Cristo, do que os olhos de nossos primeiros pais ante a vergonha da própria prevaricação!

Durante todo esse tempo, caríssimos filhos, passado entre a ressurreição e a ascensão do Senhor, a providência de Deus esforçou-se por ensinar e insinuar não apenas aos olhos mas também aos corações dos seus que a ressurreição do Senhor Jesus Cristo era tão real como o seu nascimento, paixão e morte.

Os santos apóstolos e todos os discípulos ficaram muito perturbados com a tragédia da cruz e hesitavam em acreditar na ressurreição. De tal modo eles foram fortalecidos pela evidência da verdade que, quando o Senhor subiu aos céus, não experimentaram tristeza alguma, mas, pelo contrário, encheram-se de grande alegria.

Na verdade, era grande e indizível o motivo de sua alegria: diante daquela santa multidão, contemplavam a natureza humana que subia a uma dignidade superior à de todas as criaturas celestes, ultrapassando até mesmo as hierarquias dos anjos e a altura sublime dos arcanjos. Deste modo, foi recebida junto do eterno Pai, que a associou ao trono de sua glória, depois de tê-la unido na pessoa do Filho à sua própria natureza divina (dos Sermões de São Leão Magno, papa. Sermo 1 de Ascensione, 2-4: PL 54,395-396).

 

(Extraído do Ofício da Leituras de quarta-feira da 6ª semana da Páscoa)

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O Ato Penitencial

   Em todas as missas, logo no início, nos reconhecemos pecadores e pedimos perdão a Deus. Meditemos neste pedido que, quantas e quantas vezes fazemos maquinalmente em nosso ato penitencial!

   Senhor, tende piedade de nós! É o grito dos dez leprosos quando se encontram com o Salvador . Todos nós somos chagados pela lepra do pecado, somos estropiados e cegos… Mostremos então ao Mestre, já no início da missa, as nossas chagas. Façamos como os pobres mendigos que apresentam suas misérias à beira do caminho em dias de romaria… Senhor, tende piedade de nós!

   Mais ainda! Mostremos a Deus Pai as cinco chagas de Cristo, serão elas nossa bandeira de glória. Que tesouro são essas cinco chagas! Foram abertas por nosso amor, por amor de ti, meu irmão, quem quer que sejas. Elas valem muito mais que todos os tesouros do mundo. Santo Agostinho nos diz que elas foram abertas para que nós, pecadores, pudéssemos entrar e aí repousar dos trabalhos do nosso prolongado exílio. Essas chagas são um oásis neste deserto e uma luz nas trevas deste mundo.

   Jesus se fez hóstia por que nos ama. Hóstia tão grande que uniu a terra e o céu… e ao mesmo tempo, hóstia tão pequenina que cabe na mão do celebrante… e nós deixamos Ele só em seu calvário, e não queremos nos imolar com ele! Senhor, tende piedade de nós!

  Ficamos espantados quando os dois discípulos de Emaús, encontrando o Mestre pelo caminho não o tenham reconhecido. E nós? Quantas vezes desconhecemos ou até negamos ao Senhor em certas contrariedades que diariamente nos aparecem? Senhor, tende piedade de nós!

   O Senhor uniu-se talvez misticamente às nossas almas, numa união comparável, mais muito superior à dos esposos. Ele nos chamou para si, nos atraiu até seu Divino Coração para que fossemos um com Ele. E nós andamos para outros caminhos, a procura de outras uniões, e prendemos o nosso coração a mil outras coisas! Cristo, tende piedade de nós!

   As vezes o sacerdote sente-se confundido ao subir ao altar! É que ele foi elevado à “mais alta dignidade da terra” e vive talvez bem perto das sombras da morte, ou quem sabe, talvez, dentro delas… E ao ver as suas sombras, ao ver que é todo sombra, não pode deixar de repetir como os dez leprosos: Cristo, tende piedade de nós!

   E tu, meu irmão, sentando em teu lugar na missa e que daqui a pouco estará diante do Cristo na Eucaristia e que és todo sombra também, não sentes o mesmo anseio de repetir este pedido? Cristo, tende piedade de nós!

   Sabes bem que todos nós somos membros do Corpo Místico de Cristo. Todos os homens são irmãos em Cristo. Ferir um dos nossos irmãos é ferir o próprio Cristo. Se a cada dia lembrássemos disso, quantas faltas de caridade poderiam ser evitadas?!

   Devemos rezar por todos, sem exceção. Ah! Se nós tivéssemos fé no valor da oração, mas uma fé verdadeira, viva, uma fé cega para todas as inconstâncias e vaidades deste e pronta para combater todas as desconfianças… Mas não. Somos homens de pouca fé. Reconheçamos isso para pedir ao Senhor que aumente nossa fé. Depois digamos, Senhor, tende piedade de nós!

   Meu irmão, dos dez leprosos curados, apenas um apareceu para agradecer! Pois bem, os outros nove, somos nós, somos os ingratos! Deus nos concede um alma em graça, vida pura, nos faz templos do Espirito Santo, mas trazemos esse tesouro em vasos  de barro, frágeis.

Que o reconhecimento de tantos dons e o temor de perder tudo nos faça pedir todos os dias, Senhor, tende piedade de nós.

   A humilde confissão da nossa insuficiência, das nossas faltas, glorifica imensamente a Deus, exalta a sua Onipotência, a sua Santidade. Reconhecer a própria baixeza e subir. Os joelhos que se curvam para a terra fazem com que Deus desça do céu. Digamos pois com o sacerdote: Senhor, tende piedade de nós!

CONVITE

Obra consultada:

A Missa e a Vida Interior, Artigos publicados na “Opus Dei” por D. Bernardo de Vasconcelos”, Edição da Opus Dei, Braga, 1936.

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