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2º Domingo da Páscoa

Ao anoitecer daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas, por medo dos judeus, as portas do lugar onde os discípulos se encontravam, Jesus entrou…

   O Evangelho se abre com um episódio ocorrido no próprio dia da Ressurreição. Ao cair da tarde, ainda os encontramos reunidos no Cenáculo. Temerosos de que os judeus viessem à sua procura e os levassem paraa prisão, fecharam bem todas as portas do local. Não obstante, enquanto conversavam, “Jesus entrou”.

   Neste caso, o medo que se apoderou dos Apóstolos foi útil, e até providencial, para lhes oferecer uma prova irrefutável da Ressurreição de Jesus em Corpo glorioso, pois se a casa estivesse aberta eles imaginariam que o Mestre havia entrado pelas vias normais. De fato, esse ato de transpor barreiras físicas decorre de uma das propriedades dos corpos gloriosos, a sutileza, pela qual os Bem-aventurados são capazes de atravessar outros corpos sempre que o queiram.

…e, pondo-Se no meio deles, disse: “A paz esteja convosco”.

   Esta passagem traz um aviso, um conselho e um convite para nós: sempre que procuramos a companhia de Jesus — seja no Santíssimo Sacramento, seja numa cerimônia litúrgica, seja em qualquer circunstância em que elevemos nossa alma até Ele — devemos estar em paz, pois só assim nos beneficiaremos inteiramente de sua presença. Isto é, precisamos aquietar as paixões, eliminar os apegos e as aflições com as coisas concretas e colocarmo-nos em atitude contemplativa.

Depois dessas palavras, mostrou-lhes as mãos e o lado. Então os discípulos se alegraram por verem o Senhor.

   Compreende-se que São João faça constar o quanto os discípulos se alegraram com isso. Haviam-se dissipado todas as inquietações, graças à paz infundida por Jesus, sem a qual não teriam desfrutado o imenso dom que Ele lhes oferecia ao manifestar-Se.

   Vemos ainda acentuada a necessidade de nunca abandonarmos o espírito contemplativo — quer estejamos em meio às atividades, quer enfrentando um drama, quer nas ocasiões de júbilo —, bem como a importância de vigiarmos sempre para impedir que nossas más inclinações nos dominem, roubando-nos a paz. No temor, na dor ou na confusão, na euforia, no entusiasmo ou na consolação, nunca devemos perder a paz! Nisto consiste o estado de santidade.

Novamente, Jesus disse: “A paz esteja convosco. Como o Pai Me enviou, também Eu vos envio”.

   Com que objetivo o Pai enviou Jesus ao mundo? Para salvar os homens, revelando, ensinando, perdoando e santificando, e é esta a missão que o Redentor transfere aos Apóstolos reunidos em plenário, já no primeiro encontro posterior à sua Ressurreição. Tal é a função da Igreja, de modo particular dos que são chamados ao ministério sacerdotal, mas também de todo apóstolo: quanto lhes seja possível, têm obrigação de instruir nas verdades da Fé e encaminhar para o perdão, promovendo a santificação das almas pelo exemplo e pela palavra.

E, depois de ter dito isso, soprou sobre eles e disse: “Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados; a quem os não perdoardes, eles lhes serão retidos”.

   O Filho de Deus lhes conferia o poder de perdoar os pecados, deixando a seu encargo “o principado do supremo juízo, para que, fazendo as vezes de Deus, a uns retenham os pecados e os perdoem a outros”. De fato, sem a assistência do Espírito Santo não é possível exercer missão tão elevada, pois o confessor deve tratar cada alma tal como Jesus o faria, sabendo discernir as disposições do penitente, dar-lhe o conselho adequado e estimulá-lo ao sincero arrependimento de suas faltas.

Tomé, chamado Dídimo, que era um dos Doze, não estava com eles quando Jesus veio. Os outros discípulos contaramlhe depois: “Vimos o Senhor!” Mas Tomé disse-lhes: “Se eu não vir a marca dos pregos em suas mãos, se eu não puser o dedo nas marcas dos pregos e não puser a mão no seu lado, não acreditarei”.

   Tomé, ausente do Cenáculo quando Jesus ali estivera junto aos discípulos,não havia se beneficiado do convívio com o Senhor, e, ao ouvir a notícia, recalcitrou em não acreditar, declarando que só se convenceria se comprovasse por si mesmo a Ressurreição.

   Deus permitiu isso também para que os outros Apóstolos, já trabalhados por Nosso Senhor, tivessem um choque com atitudetão incrédula, e ficasse patente para eles a diferença entre quem ouvira duas vezes “A paz esteja convosco” e quem não fora objeto deste favor. Tomé vinha com a agitação da atividade, com as aflições de quem está alheio à contemplação e, em consequência, fraquejou na fé.

Oito dias depois, encontravam-se os discípulos novamente reunidos em casa, e Tomé estava com eles. Estando fechadas as portas, Jesus entrou, pôs-Se no meio deles e disse: “A paz esteja convosco”.

  Apesar de todas as graças recebidas na ocasião anterior, os Apóstolos ficam mais uma vez amedrontados. E é compreensível, pois, se a aparição de um Anjo incute temor, como não causaria a de um Deus feito Homem, ostentando em seu Corpo marcas de glória? Por isso Nosso Senhor lhes deseja outra vez a paz. Pazsobrenatural que Ele próprio comunica à alma de cada um.

Depois disse a Tomé: “Põe o teu dedo aqui e olha as minhas mãos. Estende a tua mão e coloca-a no meu lado. E nãosejas incrédulo, mas fiel”. Tomé respondeu: “Meu Senhor e meu Deus!”

   Assim como fizera aos outros, Jesus apresentou as mãos a Tomé e afastou a túnica, de modo a mostrar a chaga do lado, para que o Apóstolo incrédulo também se tornasse testemunha da Ressurreição. O felix culpa! Ao tocar nas sagradas chagas, São Tomé deu-nos a prova de que era realmente o Corpo do Divino Mestre, curando “em nós as chagas de nossa incredulidade. De maneira que a incredulidade de Tomé foi mais proveitosa para nossa fé do que a fé dos discípulos que acreditaram, porque, decidindo aquele apalpar para crer, nossa alma se afirma na fé, descartando toda dúvida”

   Há ainda nesta passagem outro aspecto que merece nossaatenção: tudo isto aconteceu depois de São Tomé receber a paz de Nosso Senhor. Do contrário, embora ele pusesse a mão na chaga de nada aproveitaria, porque é na paz que a fé, a esperança, a caridade — enfim, todas as virtudes — se desenvolvem.

Jesus lhe disse: “Acreditaste, por que Me viste? Bem-aventurados os que creram sem terem visto!”

   Este versículo ressalta o contraste entre o caráter divino da Igreja e o seu elemento humano. Este último é incrédulo e, no fundo, infiel, pois é constituído de pessoas concebidas no pecado original e que, portanto, têm debilidades. Mas, enquanto instituição erigida por Cristo para santificar e salvar, ela é impecável, e nenhuma imperfeição humana atinge sua divindade.

Jesus realizou muitos outros sinais diante dos discípulos, que não estão escritos neste livro. Mas estes foram escritos para que acrediteis que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que,crendo, tenhais a vida em seu nome.

   Impossível seria narrar tudo o que o Divino Mestre fez, pois a vida d’Ele foi um sinal permanente. Por esta razão, o Evangelista selecionou os episódios mais adequados à finalidade que tinha em vista, dentre os quais os dois encontros de Jesus com os discípulos, mencionados neste Evangelho. Com efeito, eles nos levam a concluir facilmente que Nosso Senhor Jesus Cristo é o Filho de Deus Vivo e que n’Ele devemos ver mais o lado divino do que o humano.

   Tenhamos sempre presente que, se não nos coube a graça de conviver com Nosso Senhor, nem ver e tocar suas divinas chagas, nos foi reservada, conforme a afirmação do Divino Mestre, uma bem-aventurança maior do que a deles: crer na Santa Igreja Católica Apostólica Romana. Bem se poderiam aplicar a nós as palavras de São Pedro na segunda leitura (I Pd 1, 3-9) deste domingo: “Sem ter visto o Senhor, vós O amais. Sem O ver ainda, n’Ele acreditais. Isso será para vós fonte de alegria indizível e gloriosa, pois obtereis aquilo em que acreditais: a vossa salvação” (I Pd 1, 8-9)

Obra consultada: DIAS, João S. Clá, O Inédito sobre os Evangelhos Vol I, Libreria Editrice Vaticana, Città del Vaticano, 2013

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Tríduo Pascal

17 a 19 de abril de 2014

Abundantes graças foram derramadas do céu nesta Páscoa; sobretudo nas cerimônias do Tríduo Pascal que vivenciamos.

Para os nossos leitores ficarem em dia  do que aconteceu, venho aqui lhes mostrar como transcorreram as cerimônias na casa dos Arautos do Evangelho em Recife.

Em meio às tristezas da Paixão, a alegria da instituição da Eucaristia e do Sacerdócio fez brilhar a noite de Quinta-Feira Santa e no final desta tivemos  a transladação solene do Santíssimo Sacramento ao “Monumento”. Concluída a Missa, toda a Igreja, revestindo-se novamente de luto e dor, procede a cerimônia da desnudação dos altares.

Entrada da Santa Cruz

Sexta-Feira Santa: um dia para chorar particularmente nossas culpas. Depois de ouvirmos o cântico da Paixão de Nosso Senhor, segundo São João,  tivemos a oração universal, quando se reza pelas necessidades da Igreja e do Povo de Deus. Um dos momentos mais marcantes foi a entrada e a adoração da Santa Cruz. Por fim, há a comunhão com as partículas consagradas no dia anterior que ficaram guardadas no monumento.

A atmosfera festiva enriqueceu ainda mais este Sábado Santo em que pudemos assistir a três batismos e dez primeiras comunhões. Depois da benção do fogo novo e a procissão do Círio Pascal todos puderam participar ativamente de toda liturgia e cerimônias daquela noite que é considerada a mãe de todas as Vigílias.

 

 

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Quinta-Feira Santa

A Desnudação dos Altares

Este cerimonial ocorre na Quinta-Feira Santa após a solene Missa, onde há incenso, flores e paramentos brancos, pois trata-se do dia da instituição da Santíssima Eucaristia. Mas a alegria não é nota dominante neste dia, pois, mesmo devendo ser este um dia de júbilo, ele não o é. Foi nessa mesma noite que o Senhor foi entregue, há quase dois mil anos. Poucos instantes após o rito de comunhão, o Santíssimo Sacramento será trasladado para o “monumento”, um receptáculo semelhante ao sacrário, que representa a prisão do Senhor. O cortejo que acompanha Jesus Eucarístico, na volta, já manifesta a profunda dor do luto que se aproxima. Os paramentos passam a ser negros e até mesmo a iluminação torna-se mas tênue tornando o ambiente profundamente sério e recolhido.

É nesta hora que se dá o desnudamento do altar. Acompanhado pelo canto recitativo dos salmos penitenciais de Davi, o celebrante recolhe a toalha do altar em sinal de dor, porque no próximo dia já não haverá mais missa: o Senhor está preso, e em breve será morto. As flores, os adornos e tudo que possa manifestar alegria são retirados do presbitério. As velas são apagadas, enquanto o crucifixo, coberto, é reclinado sobre o altar. Depois, o séquito litúrgico põe-se a caminhar grave e solenemente rumo à sacristia. Assim dá-se início ao Tríduo Pascal.

Qual é o simbolismo desse ato litúrgico? Representar as duas vezes em que Nosso Senhor foi despojado de suas vestes: na flagelação e na crucifixão.

Na flagelação Ele foi  despojado de suas vestes para ficar somente com o tecido que o cobriria da cintura até os pés.  Por fim, após todos os tormentos já passados, era chegado o momento da crucifixão. O Homem-Deus novamente seria despojado de suas vestes, e aquela túnica, segundo a tradição confeccionada por sua Santíssima Mãe, foi posta à sorte entre seus algozes, cumprindo com mais uma das profecias sobre a paixão (Sl 21).

Explicado o simbolismo da cerimônia na Quinta-Feira Santa, cabe-nos ter em mente que Nosso Senhor Jesus Cristo padeceu todos esses sofrimentos por cada um de nós. Se assim o fizermos, não seremos daqueles que apedrejavam Nosso Senhor, mas sim, um consolo para Ele que, do alto da Cruz, viu as fidelidades e as infidelidades de todos os homens até ao fim do mundo, e por elas se alegrou ou entristeceu.

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Saiba mais sobre o horário das Cerimônias de Semana Santa na Sede dos Arautos do Evangelho em Recife; clique aqui!

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Domingo de Ramos

   Na Antiguidade, os grandes heróis militares e os atletas vencedores eram saudados com ramos de palma, para honrá-los pelo triunfo alcançado. Portanto, Jesus quis que sua Paixão, cujo ápice se deu no Calvário, fosse marcada pelo triunfo já na abertura, antecipando a glória da Ressurreição que viria depois.

  À vista deste contraste podemos ficar surpresos: como a Igreja combina ambos os aspectos nesta circunstância?

   Este primeiro aspecto da celebração de hoje nos ensina o quanto é uma falha conceber a Redenção operada por Nosso Senhor centrando-se só na dor. Também, e talvez principalmente, ela comporta o gáudio da Ressurreição, pois, se os padecimentos de Jesus se estenderam da noite de Quinta-Feira até a hora nona de Sexta-Feira, e sua Alma tenha se separado do Corpo por cerca de trinta e nove horas ― como se pode deduzir das narrações evangélicas ―, o período de glória prolongou- -se por quarenta dias, aqui na Terra, e permanece por toda a eternidade no Céu.

   Foi esta a noção que faltou aos Apóstolos ao verem o Divino Mestre entristecer-Se, suar Sangue e deixar-Se prender por vis soldados; em consequência, O abandonaram. Nossa Senhora, pelo contrário, embora cheia de dor e com o coração transpassado por uma espada (cf. Lc 2, 35), não desfaleceu, porque guardava no fundo da alma a certeza de que seu Filho ressuscitaria.

Uma clave para considerar a Paixão do Senhor

   Contemplemos a Liturgia de hoje com esta perspectiva, revivendo aqueles momentos de gozo em que Jesus entra na Cidade Santa, com vistas a passarmos depois pelas angústias da Paixão e pelas alegrias da Ressurreição. Que as graças derramadas sobre todos os participantes dessa primeira procissão, na qual estava presente o Redentor, desçam sobre nós e cumulem nossas almas, fazendo-nos compreender bem o papel do sofrimento em nossa vida de católicos apostólicos romanos, enquanto meio indispensável para chegar à glória final e definitiva. Dor e triunfo encontram-se aqui magnificamente entrelaçados. Per crucem ad lucem! ― É pela cruz que alcançamos a luz!

A bondade divina manifestada na Paixão

   Para salvar a humanidade, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade quis Se encarnar, tornando-Se igual a nós em tudo, exceto no pecado.

   Aquele que, com um simples ato de vontade, poderia ter impedido a ação dos que promoveram sua morte, aceitou todos os ultrajes descritos por São Mateus no Evangelho da Missa.

   Experimentamos aqui a misericórdia de Deus, infinitamente solícito em nos perdoar. Se um só de nós houvesse incorrido em alguma falta e todos os demais homens fossem inocentes, teria Ele padecido igual martírio para resgatar esse único réu! Como aponta o padre Garrigou-Lagrange, no mistério da Redenção “as exigências da justiça terminam por se identificar com as do amor, e é a misericórdia que triunfa, porque é a mais imediata e profunda expressão do amor de Deus pelos pecadores”.

A maldade humana vinga-se do bem recebido

   Ante tanta benevolência, vemos o povo contente e reconhecendo autêntica e sinceramente estar ali, de fato, o Messias. Contudo, não de forma profunda, mas superficial e carente de raízes… Se hoje Jesus foi recebido com honras ― “Hosana ao Filho de Davi! Bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana no mais alto dos Céus!” ―, dentro de alguns dias essa mesma multidão estará na praça, diante do Pretório, preferindo Barrabás Àquele que antes acolhera com regozijo, e gritando “Seja crucificado!”, como lemos no texto da Paixão.

   Por quê? Pelo ódio dos que não querem aceitar o convite para uma mudança de vida.

Não devemos colocar nossa esperança no mundo

   A Paixão do Senhor nos mostra, de maneira eloquente, o quanto é preciso pôr nosso empenho em servi-Lo, pouco nos importando se nos atacam ou nos elogiam, se nos recebem ou nos repudiam, mas, isto sim, se Lhe agradamos com a nossa forma de proceder.

   Ao sermos batizados nos comprometemos ― seja por nós mesmos, seja na pessoa de nossos padrinhos ― a renunciar ao demônio, ao mundo e à carne, e ficamos marcados pelo sinal do combate. Não firmamos, em nenhum momento, o propósito de nos apoiarmos no aplauso dos outros. Assim sendo, ao celebrar o Domingo de Ramos devemos nos lembrar dessas promessas de luta, que exigem da nossa parte a determinação de enfrentar todas as batalhas que tais inimigos, por nós rejeitados no Batismo, nos apresentarão. E isso significa, a exemplo de Jesus, aceitar e carregar a cruz depositada sobre nossos ombros pela Providência.

A Cruz: de sinal de ignomínia a símbolo de glória

   Sim, Ele é Rei, e está sentado em seu trono. Que trono é esse? A Cruz, sinal de ignomínia por constituir o pior castigo, o suplício mais horrível daqueles tempos No entanto. tão poderoso é este Rei que, posto nesse pedestal de humilhação, Ele o transforma em trono de glória! Hoje em dia, ostentar a Cruz ao peito é uma honra, e nos admiramos ao vê-la sobre as coroas dos reis, nas grandes condecorações ou no alto das catedrais e dos edifícios eclesiásticos: é a exaltação da Cruz!

   Ao levar nas mãos, hoje, a palma como símbolo de triunfo, devemos crer que no Juízo Final toda a maldade será julgada e, entrando na eternidade, a História ficará bem definida: ou o gozo da visão beatífica ou o fogo que arderá sem nunca se extinguir. Não há terceira possibilidade.

O valor da luta

   Contrariamente à quimera sugerida por certa mentalidade muito alastrada, não é possível abolir a cruz da face da Terra, pois, em geral, todo ser humano sofre. Apenas nas produções cinematográficas e demais fantasias do gênero ― coroadas sempre pelo happy end ― encontramos figuras irreais de pessoas imunes a qualquer incômodo físico ou moral, bem-sucedidas em todos os seus empreendimentos e sem dificuldades no convívio social, não havendo sequer os pequenos aborrecimentos e decepções do cotidiano.

   Por mais que se fundem hospitais, por mais que se abram creches ou se construam abrigos para idosos, a dor é nossa companheira e só deixará de existir no Paraíso Celeste. É imprescindível ao homem, portanto, compreender o verdadeiro valor do sofrimento, pois uma impostação equivocada perante ele leva alguns a caírem no abatimento; outros, a revoltar-se contra a Providência; outros — quiçá a maioria — a querer se esquivar de carregar a própria cruz, tentativa que, além de ser inútil, a torna mais pesada, acrescentando-lhe o ônus da inconformidade com a vontade de Deus, que conhece e permite cada uma de nossas angústias.

   Se nossa existência transcorresse sem a presença de obstáculos, seríamos como um botão de rosa que nunca houvesse desabrochado ou um bebê que não crescesse nem se desenvolvesse, e jamais atingiríamos a plenitude espiritual de um concidadão dos Santos e habitante do Céu. O sofrimento constitui-se, então, um meio infalível de preparação para contemplar a Deus face a face.

A glória comprada pelo sofrimento

   Reportando-nos ao início da celebração do Domingo de Ramos, vemos que se a entrada triunfal em Jerusalém precedia as humilhações da Paixão, esta, por sua vez, prenunciava a verdadeira glorificação de Jesus, conforme suas próprias palavras aos discípulos de Emaús, depois da Ressurreição: “Porventura não era necessário que Cristo sofresse essas coisas e assim entrasse na sua glória?”

O combate do católico é sua glória

   A lição da Liturgia neste início de Semana Santa deve ser guardada na lembrança até o nosso último suspiro: somos combatentes! Não fomos feitos para apoiar aqueles que põem sua esperança no mundo, mas para defender Nosso Senhor Jesus Cristo.

   Nesta Semana Santa, unamo-nos a Nosso Senhor Jesus Cristo e façamos companhia a Nossa Senhora nas dores que ao longo dos próximos dias vão se descortinar diante de nossos olhos, com a certeza da glória que atrás delas espera para se manifestar.

Obra consultada: DIAS, João S. Clá, O Inédito sobre os Evangelhos Vol I, Libreria Editrice Vaticana, Città del Vaticano, 2013

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