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A anunciação do Anjo e a Encarnação do Verbo

Mons. João Scognamiglio Clá Dias

0055(1)E, estando Isabel no sexto mês, foi enviado por Deus o Anjo Gabriel a uma cidade da Galiléia, chamada Nazaré, a uma virgem desposada com um varão, que se chamava José, da casa de Davi, e o nome da Virgem era Maria. E, entrando o Anjo onde ela estava, disse-lhe: “Deus te salve, cheia de graça, o Senhor é contigo; bendita és tu entre as mulheres”.

E ela, tendo ouvido estas coisas, turbou-se com as suas palavras, e discorria pensativa que saudação seria esta. E o Anjo disse-lhe: “Não temas, Maria, pois achaste graça diante de Deus; eis que conceberás no teu ventre, e darás à luz um filho, e por-lhe-ás o nome de Jesus. Este será grande, e será chamado filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi; e reinará eternamente na casa de Jacó; e o seu reino não terá fim”.

E Maria disse ao Anjo: “Como se fará isto, pois eu não conheço varão?” E, respondendo o Anjo, disse-lhe: “O Espírito Santo descerá sobre ti, e a virtude do Altíssimo  te cobrirá com a sua sombra. E, por isso mesmo, o Santo, que há de nascer de ti será chamado Filho de Deus. Eis que também Isabel, tua parenta, concebeu um filho na sua velhice; e este é o sexto mês da que se diz estéril; porque a Deus nada é impossível”. Então disse Maria: “Eis aqui a escrava do Senhor, faça-se em segundo a tua palavra.” E o Anjo afastou-se dela. (Lc. 1, 26 – 38).

 

Primeiro Ponto

Nossa Senhora, jovem, – deveria ter aproximadamente seus quinze ou dezesseis anos – está em oração, está recolhida rezando, porque antes de  tudo Ela é criatura, e toda criatura  necessita de oração. Ela reza pedindo por si, pela humanidade, contemplando a situação do mundo naquele tempo e o seu futuro  –   Ela sabia perfeitamente quais eram os dramas, quais eram as conseqüências terríveis do pecado original. Ela queria que houvesse, o quanto antes, a Redenção. Ela conhecia – com o dom de Ciência, com o dom de Sabedoria,  porque Ela tinha estes dons em altíssimo grau – a origem do pecado já no paraíso terrestre, pela negação e pela desobediência de Adão e Eva. Em conseqüência, tinha Maria verdadeiro horror, indignação, inteira incompatibilidade com o pecado; Ela queria que houvesse quanto antes a vinda do Redentor, para que tudo se pusesse em ordem. E sabia perfeitamente que isso só se  obteria –  dom extraordinário – através da oração. Ela, por isso, rezava, e disso tinha necessidade. Nosso Senhor também rezou, e quantas vezes. Ele não precisava da oração, mas Ele rezava, e rezava pedindo por todos nós.

Explica-nos a teologia que tanto Nosso Senhor, quanto Nossa Senhora – Ele, por ser o Redentor, por ser o Salvador, e, portanto, o que há de mais alto em toda a ordem da criação, Ela por ser a mãe de todos os homens, a Rainha dos Anjos —  Ela e Ele tiveram um privilégio que foi de conhecer todos os homens até o fim dos tempos. Jesus, não só enquanto Deus, mas também enquanto homem, e Maria, enquanto mãe de todo o gênero humano, mãe de todos os santos, mãe de todos aqueles que são batizados, conheceram os homens  um por um. Nosso Senhor e Ela, portanto, tiveram em mente cada um e cada uma de nós que estamos aqui presentes hoje.

Nosso Senhor e Nossa Senhora tiveram um contato direto conosco antes que nós tivéssemos sido criados, e Eles nos viam. Nosso Senhor nos viu várias vezes. Nossa Senhora também.

Ela rezava, pedindo pela nossa salvação, quando lhe aparece o Anjo.

O Anjo aparece fazendo um elogio extraordinário, elogio que daria para deixar orgulhoso qualquer um. E, entrando o Anjo onde ela estava, disse-lhe: “Deus te salve, cheia de graça, o Senhor é contigo; bendita és tu entre as mulheres”. Ou seja, o Anjo elogia Nossa Senhora dizendo que Ela é a mais alta figura dentre todas as mulheres.

Nós sabemos perfeitamente como age em nós o orgulho, como age em nós a vaidade, como age em nós o amor-próprio, e, se aparecesse um Anjo para um ou uma de nós no quarto, enquanto este ou esta rezava, e o Anjo fosse São Gabriel cheio de luz — maravilha! — iluminaria o quarto inteiro, sentir-se-ia até o odor de um perfume extraordinário, e ele dissesse nada mais nada menos para nós homens, que somos o primeiro entre todos, ou então, para uma mulher: “Sois a mais alta criatura, a mais excelente de todas as mulheres…” Como nós tomaríamos um elogio destes?

Seria um elogio que nos colheria de surpresa e nos deixaria pasmos, mas ao mesmo tempo nosso amor-próprio, nosso orgulho, nossa vaidade, nosso desejo de aparecer, nosso desejo de ser o primeiro, a primeira, tomariam um grau de calor extraordinário dentro de cada um de nós. Nós ficaríamos rachando de orgulho.

No entanto, o que aconteceu com Nossa Senhora ao ouvir esse elogio? Qual foi a reação dela? São Lucas nos diz: “turbou-se com as suas palavras, e discorria pensativa que saudação seria esta. Olhemos para Ela. Não é verdade que Ela merece este elogio? Pois claro! Puríssima, virginalíssima, virtuosíssima, santíssima — Ela merecia este elogio. E se não houvesse outra razão, bastaria que o Anjo dissesse, e se este  disse é porque foi enviado por Deus para dizê-lo — “Anjo”, significa mensageiro de Deus — e o Anjo falou, é isto!

Ela, ao invés de pensar: “Então quer dizer que eu sou a primeira entre todas as mulheres!”, ao invés de Ela ficar contente, cheia de si, turbou-se, ficou perturbada. Perturbou-se porque tinha medo de ofender a Deus, atribuindo a si qualquer coisa que não lhe pertencesse. Medo de ofender a Deus. Medo de apropriar-se de algo que pertencia a Deus. Medo de consentir em ter um prazer, em ter uma complacência, em se julgar a primeira das mulheres.

Como seria bom se nós nos perturbássemos quando fôssemos elogiados. Maria nos dá esse exemplo. Na Anunciação Ela nos dá um exemplo extraordinário, porque se perturbou ao ouvir este elogio. E diz o texto de São Lucas: turbou-se com as suas palavras, e discorria pensativa que saudação seria esta. Como é que é isso? Um Anjo me aparece e diz isso?

Vejam que Ela não se assusta com a aparição do Anjo, Ela não fica com pânico de que lhe apareça um Anjo. Era tradição de todo o Antigo Testamento que quando um Anjo aparecia a alguém, esse alguém podia contar seus dias, pois estavam inteiramente postos numa seqüência que ia dar na morte próxima. A aparição de um Anjo era tida como prenúncio da morte. E todos aqueles que recebiam uma aparição de um Anjo se assustavam, e assim foi que aconteceu com Zacarias, esposo de Santa Isabel. Zacarias, quando viu o Anjo, ficou em pânico e pensou que fosse morrer. Nossa Senhora não se assusta com a aparição do Anjo. Ela era tão extraordinária que tinha  convívio com os Anjos; mas nada disso levava Nossa Senhora a se considerar como a primeira das mulheres.

Nós, que temos um convívio não com os Anjos, mas, tantas vezes, com o espelho; nós, que aparecemos diante do espelho e ficamos conversando com o espelho – e quantas e quantas vezes o espelho não mente dizendo que nós somos o primeiro dos homens ou a primeira das mulheres? Às vezes o espelho mente e nos diz que somos o primeiro ou a primeira; e nós, muitas vezes, acreditamos facilmente no que nos diz o espelho. E Nossa Senhora, com o elogio feito por um Anjo, se perturba e fica se pondo o problema: o que quer dizer isso? De onde é que saiu esta saudação? De onde vem isso? Eu, de minha natureza, não sou nada. Eu sou vazia. Eu sou a escrava do Senhor. Eu não tenho nada de mim mesma que valha alguma coisa. Eu nunca consegui nada por mim mesma, tudo vem de Deus. Agora vem este Anjo dizer que eu sou a primeira das mulheres. Que humildade!

O que foi obrigado o Anjo a dizer a Ela? O Anjo vai continuar o elogio. O Anjo lhe diz: “Não temas, Maria…” Não temas o quê? Não é ao Anjo, porque ele está ali e Ela, em nenhum momento, teve temor dele. Ela tinha medo das palavras, porque tinha medo de perder a humildade, tinha medo de apropriar-se de algo de Deus. O Anjo vai tranqüilizá-la: “Pois encontraste graça diante de Deus.” Ah bom! Se é por uma ação de Deus, por uma ação da graça, e não por mim mesma que obtive, e sim porque Deus teve misericórdia, Deus contemplou a minha miséria, Deus contemplou o meu nada, aí eu fico tranqüila, porque já não sou Eu, já não vem de mim. Não é algo que eu possa dizer “eu sou”.

Se há algo de bom em mim, esse algo de bom vem de Deus e não de mim, ou seja, o que tranqüilizaria Maria era saber que esse elogio feito pelo Anjo não vinha da natureza dela, esse elogio feito pelo Anjo vinha de uma predileção de Deus. Deus é que teve amor por ela, Deus é que deu a graça a Ela. Deus é que a fez a primeira das mulheres. Se for vontade de Deus, que seja feita. Eu, jamais quereria ambicionar ser a primeira das mulheres, a primeira das criaturas saída das mãos de Deus — nunca! Se Deus o quer, eu estou de acordo com a vontade de Deus. “Eis aqui a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra”.

O Anjo vai dizer mais, uma vez que Ela se tranqüiliza sabendo que é pela ação da graça, ele lhe diz: “eis que conceberas no teu ventre, e darás à luz um filho, e por-lhes-á o nome de Jesus. Este será grande, e será chamado filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi; e reinará eternamente na casa de Jacó; e o seu reino não terá fim.”

Imaginem uma virgem que fez voto de virgindade, que não quer saber de maneira alguma de ofender a Deus, e recebe esta notícia de ser Mãe do Filho de Deus. Qualquer um de nós diante dessa situação diria: Ótimo, que coisa extraordinária, vamos direto, façamos logo isto. Maria perguntou ao Anjo. “Como se fará isto, pois eu não conheço varão?” É a preocupação:  Ela é virgem com a promessa de ser virgem até o fim da vida, porque não se pode falar em morte dela com toda a segurança. Ela queria permanecer na virgindade.       Nós encontramos, então, aqui outro ponto para  meditarmos, que é a virgindade, a castidade. Nesta cena nós vamos ter três representações da virgindade, três representações da castidade. A primeira delas é Deus. Deus é a Virgindade, Deus é a Castidade e, toda virgindade, toda castidade que há na face da Terra é um reflexo desta substância Virgindade, Castidade que é Deus. Nós temos o Anjo, que é puro por natureza, é a pureza enquanto reflexo da pureza de Deus. Então nós temos Deus enquanto sendo a Virgindade, o Anjo representante da Virgindade e a Virgem, também representante desta Virgindade de Deus, desta Castidade de Deus.

Ela virgem, o Anjo, virgem, Deus a Virgindade. Ela, tão Virgem que no começo da história da Igreja era chamada de Santa Maria Virgem. Aos poucos, isto que era sobrenome dela, Santa Maria Virgem, passou a ser o nome, porque hoje nós dizemos Virgem Maria. E Deus, que ama tanto a virgindade, quer tanto a virgindade, quer tanto a castidade, que Ele a fez permanecer virgem antes, durante e depois do parto. E aí está Ela neste primeiro mistério gozoso ressaltando muitíssimo esta virgindade. Ela diz: “como se fará isto…” E o que tranqüiliza Maria é quando o Anjo diz: “O Espírito Santo descerá sobre Ti, e a força do Altíssimo Te envolverá com a Sua Sombra, e por isso mesmo o santo que há de nascer de Ti será chamado Filho de Deus….” O Anjo dá uma prova: “… Eis que também Isabel, tua parenta, concebeu um filho na sua velhice; e este é o sexto mês da que se diz estéril; porque a Deus nada é impossível.” Aí então Nossa Senhora diz: “Eis aqui a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra.”

 

Segundo Ponto

Então nós vemos três características lindíssimas nessa Anunciação. A primeira é o recolhimento e a oração. Exemplo para nós de quanto é conveniente que nós estejamos em oração, porque é na oração que Deus se comunica conosco. A segunda é a virgindade de Maria, o quanto Ela aqui faz transparecer a beleza da virgindade. E a terceira é a completa despretensão, a humildade plena. Então, recolhimento, despretensão, e portanto  humildade, e a virgindade são para nós exemplos. Exemplo neste mundo que diz exatamente o contrário, neste mundo que hoje em dia é um mundo dissipado, feito de orgulho e de impureza; a castidade vai desaparecendo, a castidade vai se retirando deste mundo.

Discutem se é bom desarmar, se é bom não desarmar. Eu julgo que para se ter a verdadeira paz seria preciso que os homens e as mulheres todos praticassem a castidade. A prática da castidade é fecunda. Nós vemos aqui este exemplo. Ela, Virgem, passa a ser a Mãe de Deus, e por sua alta  humildade, alta virgindade, alto recolhimento, Ela não só é Mãe de Deus, mas recebe como filiação toda a humanidade. Ela é Mãe de toda a humanidade.

A castidade produz efeitos, produz frutos magníficos. Não há paz onde não há castidade. De maneira que, além de saber se os homens devem ter armas ou não devem ter armas, eu seria favorável a que também se pusesse o problema: os homens devem ou não devem ser castos? Eu digo os homens? É a humanidade, homens e mulheres. Neste século XXI, se os homens e as mulheres resolvessem, diante de Deus, abraçar a castidade com amor — ela custa nos seus primeiros passos, mas com a graça de Deus tudo é possível –  a humanidade seria outra. A paz desceria sobre a face da Terra. E hoje, que acontecem tsunamis, tufões, tremores de terra, guerras, assaltos e seqüestros,  insegurança, tudo vem desta falta de santidade; falta de santidade, falta de castidade, falta de humildade. O mundo está dando as costas para Deus. Esperemos que Deus não dê as costas para os homens, porque  aí será o fim do mundo.

 

Terceiro Ponto

Entretanto, sendo Nossa Senhora a nossa medianeira, disse em Fátima, “Por fim o Meu Imaculado Coração triunfará”.

O triunfo do Imaculado Coração dela será através do espírito de piedade, fazendo os homens voltarem-se para Deus com  humildade, reconhecendo tudo o que há de bom no Reino de Deus, na prática da castidade e de todas as outras virtudes. É só assim que se entende verdadeiramente o que significa o triunfo do Imaculado Coração de Maria no mundo.

Devemos pedir neste final de meditação à Virgem Maria que derrame sobre nós estas graças que Ela, durante séculos, tem represadas em suas mãos, que derrame sobre cada um de nós, no mais fundo de nossas almas, a ponto de fazer-nos compreender bem a beleza de todas esses virtudes, a beleza das virtudes que existem nela. E que assim possa Ela, olhando para nós, dizer: “Por fim o Meu Imaculado Coração triunfou.” Como triunfou? Porque Ela obteve para nós essas graças todas.

Todos receberão essas graças. Essas graças habitarão em todos, uns em maior grau, outros em menor, mas todos receberão. Quem corresponderá, quem não corresponderá? Isto a história nos dirá, pois o importante é não só receber essas graças, mas também a própria fidelidade, a própria correspondência a elas.

 

Oração Final

Ó Mãe, Vós que sois a Rainha do Anjos, a Mãe dos homens, a mais piedosa de todas as mulheres, a mais humilde de todas as criaturas, o mais virginal de todos os seres saídos das mãos de Deus; minha Mãe, nesta meditação que vos oferecemos, nesta meditação que fazemos para reparar o Vosso Sapiencial e Imaculado Coração de tantos crimes, tantas abominações que hoje em dia se cometem, nós vos pedimos: dai-nos a graça de sermos como Vós, dais-nos a graça de sermos humildes, dai-nos a graça de sermos piedosos e recolhidos, dai-nos a graça de sermos castos e puros. Dai-nos a graça de sermos um reflexo de vosso Sapiencial e Imaculado Coração no que Ele tem de mais excelso, de mais excelente, que são essas virtudes e muitas outras. Minha Mãe, nós queremos ser um daqueles que constituirão o triunfo de Vosso Sapiencial e Imaculado Coração.

Assim Seja.

(trechos da meditação de primeiro sábado na Catedral da Sé, em São Paulo, no dia 1/10/2005 – Homilia adaptada à linguagem escrita, publicada sem conhecimento e/ou revisão do autor.)

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A Adoração das 40 horas – história

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Na Idade Média (pelo menos desde o século X), difundiu-se em muitos lugares a devoção ao Santo Sepulcro do Salvador. Mantinha-se este erigido desde a Adoração da Cruz, na Sexta-Feira Santa, até a Missa de Ressurreição do Domingo de Páscoa. Durante este tempo (cerca de 40 horas) os fiéis oravam diante dele, recitando ou cantando salmos e outras preces, em memória e reconhecimento da morte e sepultura do Senhor, que também esteve no Sepulcro cerca de 40 horas, segundo fundada opinião.

Ao princípio, punha-se no sepulcro o símbolo de Jesus Cristo: a Cruz. No século XII, depositava-se nele o Crucifixo ou a imagem de Cristo. Mais tarde, no século XIV, colocou-se em relicário, incrustado no flanco desta imagem, o mesmo Corpo sacramentado de Jesus (com o qual a função adquiria um caráter de viva realidade, que excitava extraordinariamente a devoção dos fiéis). Por último, colocou-se no Sepulcro ─ digamos Tabernáculo ─ unicamente Jesus Sacramentado.

Entretanto, esta devoção não seguiu em todas as partes o mesmo processo. Já no século X o santo Bispo Ulrico, de Augsburgo, depositava no Sepulcro somente o Santíssimo Sacramento. E no século XII os habitantes de Zara, metrópole da Dalmácia, também velavam Jesus Sacramentado, encerrado no Sepulcro, desde o entardecer de Quinta-Feira Santa até o meio-dia do Sábado Santo, por antecipar-se para este dia a Missa de Ressurreição, como se faz hoje.

Bastava que esta função ─ chamada já no século XIII Oratio XL Horarum in Passione Domini
─ se transferisse para outros dias do ano, para que dela resultasse a atual função das 40 Horas. O traslado fez-se no século XVI.

Em 1527, Antonio Belloto fundou na Igreja do Santo Sepulcro de Milão uma confraria, cujo objetivo precípuo era orar durante quarenta horas diante do Santíssimo posto no sepulcro, nas quatro principais festividades do ano, em memória da morte e sepultura de Jesus, com o fim de impetrar remédio para as grandes calamidades que então afligiam a Cristandade.

Dois anos mais tarde, o Pe. Tomás Nietto, OP, começou a propagar em todas as igrejas paroquiais de Milão essa devoção, divulgada em seguida por Santo Antonio Maria Zaccaria, com fruto ainda mais abundante, tanto em Milão como em Vicenza, pelos anos 1530 a 1534; com a particularidade de que este principiou a celebrar as 40 Horas com o Santíssimo Sacramento visivelmente exposto, como se fazia desde o século XIV em muitos lugares, em outras funções de Exposição.

Vale esclarecer que, quando foi introduzida a procissão de Corpus Christi, na segunda metade do século XIII, o Santíssimo era levado num vaso ou cálice cerrado e coberto por um véu. As custódias oumonstratoria, que através de um cristal deixavam ver o Santíssimo Sacramento, parece que começaram a ser usadas no século XIV, e somente em alguns lugares. Nos tempos de São Carlos Borromeo (1538-1584), observava-se em Milão um vestígio dessa disciplina antiga, pois, se bem que exposto o Santíssimo dentro de um vaso cilíndrico de cristal rematado em pirâmide, através do qual se podia ver a Sagrada Hóstia, tal vaso se cobria com um largo véu, por reverência à Sua Divina Majestade.

A Exposição do Santíssimo ─ visível ou velado no cálice ─ para sua adoração pelos fiéis é uma das principais manifestações do desenvolvimento do culto direto a Jesus na Sagrada Eucaristia, que teve lugar, sobretudo a partir do século XIII, influindo não pouco sobre essa iniciativa o combate às heresias contra a presença real de Jesus Cristo no Sacramento, que apareceram a partir do século XI até o século XVI. Tais heresias, avivando a crença do povo cristão na divina Eucaristia, fizeram sentir a necessidade de render a Nosso Senhor a homenagem que reclamam Sua divindade e Sua bondade no Santíssimo Sacramento.

Claro que contribuíram para estender mais e mais as Exposições, públicas ou privadas, a Festa de Corpus Christi e o exercício das 40 Horas. Estas manifestações foram o termo feliz da evolução da devoção ao Santo Sepulcro de Nosso Senhor Jesus Cristo. Deus reservava aos tempos modernos esse foco de piedade da Exposição da Sagrada Eucaristia, que sua Providência nos depara com a habitual suavidade de seus traços divinos.

Por fim, o famoso pregador Pe. José de Fermo promoveu, nos anos 1537 e 1538, a instituição da Adoração Perpétua nas igrejas de Milão, pela qual nestas se sucedia, sem interrupção, a celebração das 40 Horas.

Santo Inácio de Loyola, com os seus, levou esta devoção a Roma. Foram também os jesuítas que a introduziram na Alemanha.

Paulo V a aprovou por primeira vez em 1539, e Clemente XI ordenou definitivamente seu rito, estabelecendo-a em Roma, em turno de Adoração Perpétua, mediante a famosa Instrução Clementina, publicada em 1705.

Da capital do orbe católico, estenderam-se as 40 Horas por todo o mundo.
(Pe. José Vendrell, Pe. Antonino Tenas, Pe. Pedro Farnés, Pe. Joaquín Solans, “Manual Litúrgico” – Subirana, Barcelona, 1955, 2º vol., pp. 351-352, 189-390)

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Quaresma… tempo de Misericórdia e Perdão

Em uma das obras de Santo Ambrósio (o nome não me recordo agora) há uma bela descrição do livro do Gênesis. Os dias da criação da explicados e comentados com profunda beleza. Deus dividiu a criação em seis dias, e após criar o homem no sexto dia, Ele “descansou”. Santo Ambrósio mostra então que o autor sagrado não diz que Deus tenha descansado após o primeiro, segundo, quinto, etc… mas apenas após o sexto dia. O Santo então diz que Deus “descansa perdoando”, e que descansou apenas depois que fez uma criatura a qual pudesse perdoar, ou seja, o homem!

Sagrado Coração de Jesus

A Quaresma é um Tempo Litúrgico que nos convida a nos aproximarmos do Sagrado Coração de Jesus, procurarmos seu perdão, suas consolações. Um santo certa vez disse que a cometermos um pecado não devemos fugir de Nosso Senhor, mas fugir para Nosso Senhor, refugiar-se no Sagrado Coração.

Na mensagem de amor confiada a Sóror Josefa Menendez, Nosso Senhor acentua estas palavras: “Não quero que os homens ignorem o quanto desejo salvá-los. Não tenham receio os mais miseráveis, não fujam os mais culpados. Venham a mim, que a todos espero de braços abertos, como Pai, para lhes dar a minha vida, a minha paz, a verdadeira felicidade”.

* * *

Espanha confessionário

“Numa igreja de Espanha venera-se um milagroso crucifixo, que tem um braço caído, pendente ao longo do corpo. Qual a sua história?

“Aos pés do confessor ajoelhara-se certa vez, um pecador que vem confessar um mesmo pecado. O confessor não ousava absolvê-lo, mas enternecido à vista das suas insistência deu-lhe finalmente a absolvição.

“Passados alguns dias reaparece o penitente. Por fraqueza reincidira na mesma falta. A muito custo foi de novo absolvido.

“Após breve lapso de tempo, a seus pés retorna o recidivo (que aparece de novo). Basta! Diz o confessor, para o teu caso não há mais perdão!

“Nesse mesmo instante ouve-se um baque surdo. Jesus crucificado descrava o braço direito, cruza sobre o reincidente o sinal de absolvição, dizendo: Eu te perdôo, porque muito me custaste! (Maria, primeiro Evangelho do Espírito Santo, Pe. Santo Armelin, dições Paulinas – 1956)

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O Santo Padre convida a “superar o analfabetismo religioso” – “um dos grandes problemas de hoje”

A paróquia é “um lugar onde se aprende a viver a própria fé em meio aos outros”, lembrou Bento XVI na ocasião da visita pastoral à paróquia romana de São João Batista de La Salle al Torrino, na parte sul da cidade.

Na proximidade do Ano da Fé, o Papa convidou os fiéis a “fazer crescer e consolidar a experiência da catequese sobre as grandes verdades da fé cristã, e superar o ‘analfabetismo religioso’ que é um dos maiores problemas de hoje”.

Por causa da viagem ao México e a Cuba, a tradicional visita a uma das paróquias romanas no domingo “Laetare” (quarto domingo da Quaresma) , foi organizada para este segundo domingo, quando o Papa visitou os fiéis da paróquia de São João Batista de La Salle al Torrino.

Bento XVI segue, assim, a tradição de fazer visitas às paróquias romanas duas vezes por ano, na Quaresma e no Advento.

Em sua chegada o pontífice foi recebido com grande simpatia, afeto e calor.

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Bento XVI durante missa na paróquia romana
de São João Batista de La Salle al Torrino

Antes de entrar na Igreja para celebrar a Missa, ele saudou pessoalmente as crianças em cadeiras de roda que o esperavam. Os inúmeros fiéis que não puderam entrar na igreja, acompanharam ao vivo a missa no telão montado para esta ocasião.

“Obrigado por esta recepção calorosa, por este espírito de familiaridade que sinto, por isto me fazer sentir como um pai: isto me dá coragem!”, agradeceu o Papa.

A visita iniciou com uma saudação do pároco, Don Giampaolo Perugini, que presenteou o Santo Padre com uma camiseta do oratório, um círio pascal pintado pelo vigário Don Hiroto Tanaka, e um livreto com cartas e desenhos das crianças.

Na homilia, pronunciada improvisadamente, Bento XVI explicou o sentido das leituras do segundo Domingo de Quaresma e dirigiu palavras diretas e cordiais também à paróquia, recordando que ela deve ser “um lugar onde se aprende a viver a própria fé em meio a “nós” da Igreja.”

Comentando a história de Abraão, o Papa afirmou que “Deus não quer a morte, mas a vida”, mas doou o próprio Filho “para vencer o pecado e a morte, e para superar toda a ameaça que existe no mundo”. Graças a este dom de Jesus, “ninguém poderá nos acusar, ninguém poderá nos condenar, ninguém poderá nos separar de seu imenso amor”.

Em seguida, tratando da Transfiguração de Jesus, o Santo Padre observou que aqui se encontra o exemplo para nos fazer entender que ” o caminho para alcançar a glória, o caminho do amor luminoso que vence as trevas do mal, passa através do dom total de si mesmo, passa através do escândalo da Cruz”.

Porque “um mistério de sofrimento” é também “a beata paixão” de “um mistério de amor extraordinário de Deus” do qual “temos necessidade no nosso caminho cotidiano, com frequência assinalado também pela escuridão do mal!”

A paróquia de São João Batista de La Salle al Torrino de Roma foi “colocada no ponto mais alta do bairro”, observou o Papa, notando que “é uma indicação importante” de que nós também “precisamos subir ao monte da transfiguração para receber a luz de Deus”.

Bento XVI indicou também uma proposta pastoral concreta, convidando a viver o próximo Ano da Fé no aprofundamento da catequese para “superar o analfabetismo religioso”.

Às numerosas famílias presentes na paróquia, o Papa pediu para serem “o ambiente de vida no qual se movem os primeiros passos de fé” e uma “comunidade na qual se aprende a conhecer e a amar cada vez mais o Senhor”.

Fonte: Gaudium Press

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