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Fátima: Mensagem de advertência e anúncio de vitória

Pe. Alex Barbosa de Brito, EP

No início de 1916, Lúcia, Francisco e Jacinta levavam uma vida tranquila de pastorzinhos, na pequena aldeia de Aljustrel, até então praticamente desconhecida, mesmo pelos portugueses. Lúcia, a mais velha, ainda não completara 10 anos. Aprouve à Divina Providência escolher estas inocentes crianças para um encargo de enorme importância e repercussão a nível mundial.

Um celestial mensageiro 

Ora, quando Deus chama alguém para uma missão especial, não só lhe proporciona os dons naturais e sobrenaturais adequados para ela, como o prepara com antecedência, seja pela voz da graça ressoando no mais íntimo da alma, seja por meio de algum celestial mensageiro.

No caso dos videntes de Fátima, quis a Soberana dos Céus e da Terra que um Príncipe da corte celeste viesse prepará-los. Quem era ele?

O reino luso, destinado a cruzar os mares e abrir continentes inteiros para a propagação da Fé, não tinha ainda acabado de nascer e já Deus havia designado um Anjo para protegê-lo. Por ocasião do seu Batismo, em 1109, Dom Afonso Henriques, primeiro rei de Portugal, foi a ele consagrado, e no decorrer dos séculos firmou-se a devoção popular ao Anjo Protetor dos portucalenses. Em 1504, o Papa Leão X oficializou seu culto, instituindo a festa do Anjo Custódio do Reino.

Foi este o Anjo escolhido pela Mãe de Deus para preparar os pastorzinhos de Fátima. E ele cumpriu sua particular incumbência em três aparições sucessivas, no ano de 1916.

O Anjo havia cumprido seu papel

As aparições do anjo mudaram a vida dos pequenos, pois agora sua principal preocupação seria a de expiar pelos pecadores, por meio de sacrifícios e assídua oração. O Anjo cumprira seu papel: estavam eles bem preparados para acolher com olhos límpidos e corações abertos a mensagem que a “Senhora vestida toda de branco, mais brilhante que o Sol” viria confiar-lhes no ano seguinte, e para transmiti-la ao mundo inteiro.

Que mensagem é esta? A quem se destina? Como foi acolhida?

Anúncio do Reino de Maria

Uma parte essencial da mensagem, a Virgem Santíssima a transmitiu já durante a primeira aparição, apresentando-Se de mãos postas e portando na destra um Rosário. Era um gesto que reforçava, com mudo e eloquente incentivo, a exortação repetida em todas as aparições: “Rezem o Terço todos os dias”. Instava também a que se tenha devoção a Ela, por vontade de Deus: “Ele quer estabelecer no mundo a devoção ao meu Imaculado Coração”.

Além deste convite, cabe destacar na mensagem de Fátima duas ideias primordiais, a primeira das quais é: Deus está muito ofendido pelos pecados que vão se avolumando dia a dia. Se eles não deixarem de ser cometidos, o mundo sofrerá uma terrível punição, na qual várias nações serão aniquiladas.

Bem observou a este propósito o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira: “Os pecados da humanidade se tornaram de um peso insuportável na balança da justiça divina. Esta [é] a causa recôndita de todas as misérias e desordens contemporâneas. Os pecados atraem a justa cólera de Deus. Os castigos mais terríveis ameaçam, pois, a humanidade. Para que não sobrevenham, é preciso que os homens se convertam”.

A segunda ideia dominante da mensagem é: “Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará”. É a mais alentadora das profecias, feita pessoalmente pela Rainha dos Profetas. O uso do verbo triunfar indica uma absoluta certeza na vitória final da Santa Igreja, alcançada de forma esplendorosa e esmagadora. Em outros termos, Fátima anuncia a instauração do Reino de Maria previsto por São Luís Maria Grignion de Montfort e diversos outros Santos.

A maternal mensagem foi rejeitada

Grande erro seria julgar que, em Fátima, Nossa Senhora falou apenas aos homens daquele início de século. Mais do que a eles, suas proféticas palavras são dirigidas a nós, neste terceiro milênio. “Parecem ditas para os nossos dias, para nossa Pátria, para cada um de nós, para ti, leitor…”.

Cem anos são decorridos e, enquanto as décadas se sucediam umas às outras, o gênero humano ia-se afundando irremediavelmente nos pecados mais abomináveis, de tal forma que hoje só uma coisa pode causar surpresa: a demora no desencadeamento do castigo purificador prenunciado pela Mãe de Misericórdia.

A maternal advertência feita pela Virgem das virgens em 1917, na Cova da Iria, foi, pois, brutalmente rejeitada pela humanidade.

Ela mesma nos prepara para os acontecimentos

Santuário de Fátima- Cova de Iria, Fátima, Portugal

Comentamos no início deste artigo como Nossa Senhora enviou à Terra o Anjo da Guarda de Portugal com a incumbência de preparar os pastorzinhos de Fátima para suas aparições, as quais, por sua vez, preparam os homens para a vinda do prêmio e do castigo.

Se, como bem observou Mons. João Scognamiglio Clá Dias, “quanto mais importante o acontecimento previsto, tanto maior a grandeza dos sinais que o precedem, a autoridade dos profetas que o anunciam e o tempo de espera”, compreende-se que, depois de enviar o Anjo com o objetivo de preparar três inocentes crianças para suas aparições em Fátima, tenha Maria Santíssima querido vir, em pessoa, a fim de nos preparar para os grandiosos acontecimentos por Ela mesma profetizados.

Entusiasta da mensagem de Fátima e profundo conhecedor da História, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira ainda comentava: “O Império Romano do Ocidente se encerrou com uma catástrofe iluminada e analisada pelo gênio de um grande Doutor, que foi Santo Agostinho. O ocaso da Idade Média foi previsto por um grande profeta que foi São Vicente Ferrer. A Revolução Francesa, que marca o fim dos Tempos Modernos, foi prevista por outro grande profeta que foi ao mesmo tempo um grande Doutor, São Luís Maria Grignion de Montfort. Os Tempos Contemporâneos, que parecem na iminência de se encerrar com nova crise, têm um privilégio maior. Veio Nossa Senhora falar aos homens”.

Há, todavia, uma grande diferença entre estes profetas do Novo Testamento e a Celestial Mensageira da Cova da Iria. “Santo Agostinho não pôde senão explicar para a posteridade as causas da tragédia que presenciava. São Vicente Ferrer e São Luís Grignion de Montfort procuraram em vão desviar a tormenta: os homens não os quiseram ouvir. Nossa Senhora a um tempo explica os motivos da crise e indica o seu remédio, profetizando a catástrofe caso os homens não A ouçam. De todo ponto de vista, pela natureza do conteúdo como pela dignidade de quem as fez, as revelações de Fátima sobrepujam, pois, tudo quanto a Providência tem dito aos homens na iminência das grandes borrascas da História”.

Trata-se, portanto, de duas preparações. A primeira, feita por um alto Príncipe da corte celeste; a segunda, pela própria Mãe de Deus. A primeira recebeu dos videntes de Fátima ótima acolhida; à segunda, a humanidade respondeu até agora com a mais terrível rejeição aos maternais apelos e advertências da Virgem Santíssima…

E nós, como celebraremos o próximo centenário das aparições? Não estaremos recebendo ainda uma oportunidade para bem acolhê-las? Voltemos nossos corações para Nossa Senhora e efetivamente atendamos o seu chamado à conversão e à mudança de vida, para podermos, passada a tormenta, contemplar o triunfo de seu Imaculado Coração.

(Revista Arautos do Evangelho, nº 181 Jan/2017)

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No século do ateísmo, o anúncio do Reino de Maria

Mons. João Clá Dias, EP

imagem de Nossa Senhora em OlindaEm Fátima, Nossa Senhora não se dirigiu apenas à geração do início do século XX, mas sobretudo às que vieram depois. E à medida que as décadas vão passando, (…) as palavras proféticas da Mãe de Deus tomam mais realidade. Parecem ditas para os nossos dias, para nossa Pátria, para cada um de nós, para ti, leitor…

O que veio a Santíssima Virgem anunciar à humanidade pecadora? O que veio implorar? Quem teria coragem de recusar um pedido premente da Mãe de Deus?

Deus faz preceder suas grandes intervenções na história por numerosos e variados sinais. Com frequência, serve-se Ele de homens de virtude insigne para transmitir aos povos suas advertências, ou predizer acontecimentos futuros.

Assim procedeu o Padre Eterno em relação à vinda do Messias, seu Filho Unigênito. A magnitude de tal fato, em torno do qual gira a história dos homens, exigia uma longa e cuidadosa preparação. Assim, foi prenunciado durante muitos séculos pelos Profetas do Antigo Testamento, de tal forma que, por ocasião do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo, tudo estava maduro para Sua vinda ao mundo. Até entre os pagãos, muitos esperavam algum acontecimento que desse uma saída para a crise moral na qual os homens de então estavam imersos.

Quase se poderia afirmar com segurança que, quanto mais importante o acontecimento previsto, tanto maior a grandeza dos sinais que o precedem, a autoridade dos profetas que o anunciam e o tempo de espera.

Dir-se-ia que, em sua infinita sabedoria, Deus, no trato com os homens, se pauta por determinadas regras para as quais muito dificilmente abre exceções.

Com efeito, “o Império Romano do Ocidente se encerrou com uma catástrofe iluminada e analisada pelo gênio de um grande Doutor, que fo Santo Agostinho. O ocaso da Idade Média foi previsto por um grande profeta, que foi São Vicente Férrer. A Revolução Francesa, que marca o fim dos Tempos Modernos, foi prevista por outro grande profeta, que foi ao mesmo tempo um grande Doutor: São Luís Maria Grignion de Montfort. Os Tempos Contemporâneos, que parecem na iminência de se encerrar com nova crise, têm um privilégio maior. Veio Nossa Senhora falar aos homens”.[1]

É fácil, à luz desta regra de História, avaliar a importância das profecias de Fátima, pois quem no-las anuncia não é um Anjo, nem um grande santo ou profeta, mas a própria Mãe de Deus.

Em Fátima, Nossa Senhora prediz inegavelmente o advento de grandes castigos para a humanidade (alguns dos quais já se cumpriram), caso esta não deixe de ofender a Deus. Porém, mais importante, num certo sentido, do que o anúncio das punições divinas, são os meios de salvação indicados pela Mãe de Deus: a oração do Rosário, a prática dos Cinco Primeiros Sábados, a devoção ao Imaculado Coração de Maria. Sua finalidade mais imediata é dar aos homens a possibilidade de sair das vias tortuosas do pecado. Se outro motivo não houvesse, seria esta suficiente para uma intervenção tão extraordinária como são as Aparições em Fátima.

No entanto, há algo mais, de importância primordial, que motivou a Mãe de Deus a vir em pessoa transmitir sua mensagem aos três pastorinhos. É o anúncio da vitória da Santíssima Virgem sobre o império de Satanás, ou seja, o Reino de Maria, previsto por São Luís Maria Grignion de Montfort e por vários outros santos: “Por fim o meu Imaculado Coração triunfará!” – afirmou Nossa Senhora, em Fátima.

“É uma perspectiva grandiosa de universal vitória do Coração régio e materno da Santíssima Virgem. É uma promessa apaziguadora, atraente e sobretudo majestosa e empolgante”[2]. (…)

Para que nossos olhos possam contemplar maravilhados o meio-dia desse sol – o triunfo do Imaculado Coração de Maria – cuja aurora despontou em Fátima naquele dia 13 de maio de 1917, a Virgem Maria nos dá os meios: “Se fizerem o que Eu vos disser, salvar-se-ão muitas almas e terão paz.”

Uma dificuldade surge, no entanto. Os pedidos de Nossa Senhora não foram atendidos; os homens continuam a pecar cada vez mais. Que razões temos para crer que Nossa Senhora dará cumprimento à sua promessa?

Suas próprias palavras. Pois a Santíssima Virgem só põe condições para evitar os castigos, mas não para fazer triunfar seu Imaculado Coração. O texto da Mensagem não deixa dúvidas. Após o anúncio da uma sucessão de calamidades que adviriam para a humanidade caso esta não se convertesse, Nossa Senhora concluir, categoricamente, sem antepor condição alguma: “Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará!”.

Como se chegará a essa vitória final sobre o pecado, não o sabemos, pois não parece tê-lo revelado a Mãe de Deus. Apenas é certo que todos quantos atenderem a seus pedidos se salvarão, e muito possivelmente serão chamados a participar desse magnífico triunfo do Imaculado Coração de Maria.

(João S. Clá Dias, Fátima, Aurora do Terceiro Milênio, São Paulo, Abril 1998, pp. 7-9)

 


[1] Plínio Corrêa de Oliveira, Fátima: explicação e remédio da crise contemporânea, in Catolicismo, nº 29, maio de 1953.

[2] Plinio Corrêa de Oliveira, Fátima numa visão de conjunto, in Catolicismo, nº 197, maio de 1967.

Comemoração do dia 13 de maio em Recife

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