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Louva, Sião, o Salvador

Custódia com o Santíssimo Sacramento                                                                                            Mons. João Clá Dias, EP

Como nasceu a comemoração de “Corpus Christi”

A festa litúrgica em louvor ao Santíssimo Sacramento foi instituída em 1264 por Urbano IV. Ela deveria marcar os tempos futuros da Igreja, tendo como finalidade cantar a Jesus Eucarístico, agradecendo-Lhe solenemente pro ter querido ficar conosco até o fim dos séculos sob as espécies de pão e vinho. Nada mais adequado do que a Igreja comemorar esse dom incomparável.

Logo nos primeiros séculos, a Quinta-feira Santa tinha o caráter eucarístico, segundo mostram documentos que chegaram até nós. A Eucaristia era o centro e coração da vida sobrenatural da Igreja. Todavia, fora da Missa não se prestava culto público a esse sacramento. O pão consagrado costumava ficar guardado numa espécie de sacristia, e mais tarde lhe foi reservado um nicho num ângulo obscuro do templo, onde se punha um cibório em forma de pomba, suspenso sobre o altar, sempre tendo em vista a eventual necessidade de atender a algum enfermo.

Mas durante a Idade Média, os fiéis foram sendo cada vez mais atraídos pela sagrada humanidade do Salvador. A espiritualidade passou a considerar de modo especial os episódios da Paixão. Criou-se por isso um clima propício para que se desenvolvesse a devoção à Sagrada Eucaristia. O último impulso veio das visões de Santa Juliana de Monte Cornillon, uma freira agostiniana belga, a quem Jesus pediu a instituição de uma festa anual para agradecer o sacramento da Eucaristia. A religiosa transmitiu esse pedido ao arcediago de Liége, o qual, sendo eleito Papa 31 anos depois, adotou o nome de Urbano IV.

Pouco depois esse Pontífice instituía a festa de Corpus Christi, que acabou por se tornar um dos pontos culminantes do ano litúrgico em toda a Cristandade.

 

O “Lauda Sion”

A seqüência da Missa de Corpus Christi é constituída por um belíssimo hino gregoriano, intitulado Lauda Sion. Belíssimo por sua variada e suave melodia, e muito mais pela letra, ele canta a excelsitude do dom de Deus para conosco e a presença real de Jesus, em Corpo, Sangue, Alma e Divindade, no pão e no vinho consagrado.

A própria origem desse cântico é envolta no maravilhoso tipicamente medieval.

Urbano IV encontrava-se em Orvieto, quando decidiu estabelecer a comemoração de Corpus Christi. Estavam coincidentemente naquela cidade dois dos mais renomados teólogos de todos os tempos, São Boaventura e São Tomás de Aquino. O Papa os convocou, assim como a outros teólogos, encomendando-lhes um hino para a seqüência da Missa dessa festa.

Conta-se que, terminada tarefa, apresentaram-se todos diante do Papa e cada um devia ter sua composição.

O primeiro a fazê-lo foi São Tomás de Aquino, que apresentou então os versos do Lauda Sion.

São Boaventura, ato contínuo àquela leitura, queimou seu próprio pergaminho, não sem causar espanto em São Tomás que perguntou “por que”? O santo franciscano, com toda a humildade, explicou-lhe que sua consciência não o deixaria em paz se ele causasse qualquer empecilho, por mínimo que fosse, à rápida difusão de tão magnífica Seqüência escrita pelo dominicano.

 

Síntese teológica, em forma de poesia

Aquilo que São Tomás ensinou em seus tratados de Teologia a respeito da Sagrada Eucaristia, ele o expôs magistralmente em forma de poesia no Lauda Sion.

Trata-se de verdadeira pela de literatura, que brilha pela profundidade do conteúdo e pela beleza da forma, elevação da doutrina, acurada precisão teológica e intensidade do sentimento. O ritmo flui de modo suave, até mesmo nas estrofes mais didáticas. A melodia – cujo autor é desconhecido – combina belamente com o texto. A unção é inesgotável.

São Tomás se revela como filósofo e místico, como teólogo da mente e do coração, realizando sua própria exortação: “Seja o louvor pleno, retumbante, alegre e cheio do brilhante júbilo da alma“.

 

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LAUDA SION

 

São Tomás de Aquino

1. Louva Sião, o Salvador, louva o guia e pastor com hinos e cânticos.

2. Tanto quanto possas, ouses tu louvá-lo, porque está acima de todo o louvor e nunca o louvarás condignamente.

3. É-nos hoje proposto um tema especial de louvor: o pão vivo que dá a vida.

4. É Ele que na mesa da sagrada ceia foi distribuído aos doze, como na verdade o cremos.

5. Seja o louvor pleno, retumbante, que ele seja alegre e cheio de brilhante júbilo da alma.

6. Porque celebramos o dia solene que nos recorda a instituição deste banquete.

7. Na mesa do novo Rei, a páscoa da nova lei põe fim à páscoa antiga.

8. O rito novo rejeita o velho, a realidade dissipa as sombras como o dia dissipa a noite.

9. O que o Senhor fez na Ceia, nos mandou fazê-lo em memória sua.

10. E nós, instruídos por suas ordens sagradas, consagramos o pão e o vinho em hóstia de salvação.

11. É dogma de fé para os cristãos que o pão se converte na carne e o vinho no sangue do Salvador.

12. O que não compreende nem vês, uma Fé vigorosa te assegura, elevando-te acima da ordem natural.

13. Debaixo de espécies diferentes, aparências e não realidades, ocultam-se realidades sublimes.

14. A carne é alimento e o sangue é bebida; todavia debaixo de cada uma das espécies Cristo está totalmente.

15. E quem o recebe não o parte nem divide, mas recebe-o todo inteiro.

16. Quer o recebam mil, quer um só, todos recebem o mesmo, nem recebendo-o podem consumi-lo.

17. Recebem-no os bons e os maus igualmente, todos recebem o mesmo, porém com efeitos diversos: os bons para a vida e os maus para a morte.

18. Morte para os maus e vida para os bons: vede como são diferentes os efeitos que produz o mesmo alimento.

19. Quando a hóstia é dividida não vaciles, mas recorda que o Senhor encontra-se todo debaixo do fragmento, quanto na hóstia inteira.

20. Nenhuma divisão pode violar as substâncias: apenas os sinais do pão, que vês com os olhos da carne, foram divididos! Nem o estado, nem as dimensões do Corpo de Cristo são alteradas.

21. Eis o pão dos Anjos que se torna alimento dos peregrinos: verdadeiramente é o pão dos filhos de Deus que não deve ser lançado aos cães.

22. As figuras o simbolizam: é Isaac que se imola, o cordeiro que se destina à Páscoa, o maná dado a nossos pais.

23. Bom Pastor, pão verdadeiro, de nós tende piedade. Sustentai-nos, defendei-nos, fazei-nos na terra dos vivos contemplar o Bem supremo.

24. Ó Vós que tudo o sabeis e tudo o podeis, que nos alimentais nesta vida mortal, admiti-nos no Céu, à vossa mesa e fazei-nos co-herdeiros na companhia dos que habitam a cidade santa.

Amém. Aleluia.

(Revista Arautos do Evangelho, Junho/2002, n. 06, p. 6 à 10)

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Lançamento: O inédito sobre os Evangelhos

 LANÇAMENTO

O inédito sobre os Evangelhos

Foi lançada no Brasil a coleção “O inédito sobre os Evangelhos”, a qual oferece ao leitor um verdadeiro tesouro: os comentários de Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP aos Evangelhos de todos os domingos e solenidades do ciclo litúrgico.

Os primeiros volumes da coleção “O inédito sobre os Evangelhos”, foram editados conjuntamente pelos Arautos do Evangelho e a Libreria Editrice Vaticana em quatro línguas: português, espanhol, italiano e inglês, com prefácio do Cardeal Franc Rodé, Prefeito Emérito da Congregação para os institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica.

Na obra foram editados em dois volumes os comentários aos Evangelhos dos domingos correspondentes ao Ano C do ciclo litúrgico, boa parte deles não publicados até agora. O “Ano C” será percorrido pela Igreja a partir do próximo Advento, que terá início em dezembro. O volume V contém comentários correspondentes aos domingos dos tempos do Advento, Natal, Quaresma e Páscoa, além de um apêndice sobre os Evangelhos das Solenidades do Senhor no Tempo Ordinário, enquanto que o volume VI percorre os 33 domingos do Tempo Ordinário.

Segundo o Cardeal Franc Rodé, o livro de Mons. Scognamiglio representa um apoio do autor ao Ano da Fé. “Nesses comentários encontramos tesouros velhos e novos do “intellectus fidei”, para oferecer ao povo de Deus o pão da boa doutrina proveniente da Palavra de Deus, uma grande riqueza teológica de uma doutrina sólida e segura, doutrina tradicional que chega até o Concílio Vaticano II.”

Onde comprar:

Em Recife: Sede dos Arautos do Evangelho

Estr. Real do Poço, 191 – Casa Forte

(81) 3267-5332

Promoção de Lançamento: Volumes V e VI por R$ 59,45* Clique e faça o seu pedido!

* mais despesas de envio

 

 

“Encontramos caracterizada com frequência nestas páginas a solução aos problemas espirituais do homem do século XXI”. (Cardeal Franc Rodé, CM)

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São João Batista e a restituição

O Precursor e a Restituição

São João Batista - Matriz de São João del Rei - MGAo ver Jesus vir a ele no Jordão, João era já pregador de grande prestígio, profeta como nunca houvera em Israel. Entretanto, longe de sentir inveja, o Batista reagiu com heróica humildade e ilimitada servidão, testemunhando ser aquele homem o Filho de Deus.

Mons. João Scognamiglio Clá Dias

” Evangelho “

No dia seguinte João viu Jesus, que vinha ter com ele, e disse: “Eis o Cordeiro de Deus, eis O que tira o pecado do mundo. Este é Aquele de quem eu disse: Depois de mim vem um Homem que é superior a mim, porque era antes de mim, e eu não O conhecia, mas vim batizar em água, para Ele ser reconhecido em Israel”. João deu este testemunho: “Vi o Espírito descer do Céu em forma de pomba e repousou sobre Ele. Eu não O conhecia, mas O que me mandou batizar em água, disse-me: Aquele sobre quem vires descer e repousar o Espírito, esse é O que batiza no Espírito Santo. Eu O vi, e dei testemunho de que Ele é o Filho de Deus” (Jo I, 29-34).

I – Um dos mais belos encontros da História

“O semelhante se alegra com seu semelhante”, diz um antigo provérbio latino, e de fato é esse um princípio intrínseco a todos os seres com vida, na medida em que sejam passíveis de felicidade. Deus assim nos criou e fez uns dependerem dos outros, aperfeiçoando-nos com o mais entranhado dos instintos, o de sociabilidade. Se para um pássaro constitui motivo de gáudio o encontrar-se com outro da mesma espécie, para nós, esse fenômeno é mais intenso. Ora, se grande é o júbilo de duas crianças afins ao se encontrarem pela primeira vez no colégio, qual não terá sido a reação dos dois maiores homens de todos os tempos, ao se contemplarem face a face?

Assim se realizou um dos mais belos encontros da História, João Batista diante de Jesus; para melhor compreendê-lo, analisemos as analogias entre um e outro.

Traços de semelhança entre Jesus e JoãoJesus abençoando (Sante Chapelle)

Apesar de serem duas pessoas infinitamente distantes entre si pela natureza — João é mero homem, Jesus é a Segunda Pessoa da Trindade Santíssima — numerosos traços de semelhança os unem.

Jesus é o alfa e o ômega da História. João é o começo do Evangelho e o fim da antiga Lei (1). Assim o afirma o próprio Nosso Senhor: “Com efeito, todos os profetas e a Lei profetizaram até João” (Mt 11, 13-14).

Segundo Tertuliano, João Batista é uma “figura única na História, adornada em vida de um prestígio sobre-humano, que se levanta misteriosa e solene nos confins de ambos os Testamentos” (2). Dele afirma Jesus: “Na verdade vos digo que entre os nascidos de mulher, não veio ao mundo outro maior que João Batista” (Mt 11, 11).

Além do mais, a concepção de ambos, de Jesus e de João, é precedida pelo anúncio do mesmo embaixador São Gabriel Arcanjo (Lc 1, 11-19 e 26-34). As mensagens não diferem muito, em seus termos, uma da outra. Os nomes de Jesus e de João foram designados por Deus (Lc 1,13 e 31).

No próprio ato de anunciar o nascimento, o Mensageiro celeste profetiza também o futuro tanto do Precursor (Lc 1,13-17) quanto do Messias (Lc 1,31-33).

O perfil do Precursor

São João Batista (Catedral de Amiens)Sobre Jesus, se fôssemos analisar as grandezas de suas qualidades e de suas obras, “nem todo o mundo poderia conter os livros que seria preciso escrever” (Jo 21, 25).

No Batista, tudo é sui generis, a começar pela profecia de sua vinda, proferida por Isaías e Malaquias: “Uma voz exclama: Abri no deserto um caminho para o Senhor, traçai na estepe uma pista para nosso Deus” (Is 40, 3); “Vou mandar meu mensageiro para preparar o meu caminho” (Mal 3, 1).

Mais impressionante ainda é a sua santificação no seio materno operada pela Santíssima Virgem: “Porque, logo que a voz de tua saudação chegou aos meus ouvidos, o menino saltou de alegria no meu ventre” (Lc 1, 44).

A grandeza de sua missão é profetizada pelo próprio pai: “E tu, menino, serás chamado o profeta do Altíssimo, porque irás à frente do Senhor, a preparar os seus caminhos; para dar ao seu povo o conhecimento da salvação” (Lc 1, 76-77).

A rudeza da forma de vida escolhida pelo Batista lhe confere uma aura de austeridade ímpar: “Ora o menino crescia e se fortificava no espírito. E habitou nos desertos até o dia da sua manifestação a Israel” (Lc 1, 80). “Andava João vestido de pêlo de camelo, (…) e alimentava-se de gafanhotos e mel silvestre” (Mc 1, 6).

Ao iniciar suas pregações, foi acolhido pela opinião pública da época com enorme prestígio, pois, já ao seu nascimento, “o temor se apoderou de todos os seus vizinhos, e divulgaram-se todas essas maravilhas por todas as montanhas da Judéia. Todos os que as ouviram as ponderavam no seu coração dizendo: ‘Que virá a ser este menino?’ Porque a mão do Senhor estava com ele” (Lc 1, 65-66). Logo de início, João atraiu multidões: “E iam ter com ele toda a região da Judéia e todos os habitantes de Jerusalém” (Mc 1, 5), “porque todos tinham a João como verdadeiro profeta” (Mc 11, 32).

Os soldados, os publicanos e as multidões lhe perguntavam “Mestre, que devemos fazer?” (Lc 3, 10-14). O próprio Herodes, querendo matá-lo “teve medo do povo, porque este o considerava como um profeta” (Mt 14, 5). Essa grande fama se estendeu até após sua morte: “porque todos tinham João como um profeta” (Mt 21, 26).

As repercussões sobre sua figura, palavras e obras ecoaram entre os vales e os montes da Terra Prometida, a ponto de o povo chegar a pensar “que talvez João fosse o Cristo” (Lc 3, 15).

Pois bem, fixemos em nossa lembrança essa gloriosa projeção alcançada em vida por São João Batista e abramos um parênteses para considerar a principal de suas virtudes: a da restituição, a qual consiste essencialmente em atribuir a Deus os dons d’Ele recebidos.

II – Inveja e ambição, vícios universais

A ambição é uma paixão tão universal quanto o é a vida humana. Quase se poderia dizer que ela se instala na alma antes mesmo do uso da razão, sendo facilmente discernível no modo de a criança agarrar seu brinquedo ou na ânsia de ser protegida. Ao tomar consciência de si e das coisas, os impulsos primeiros de seu ser convidá-la-ão a chamar a atenção sobre sua pessoa e, se ela cede, ter-se-á iniciado o processo da ambição. O desejo de ser conhecida e estimada é a primeira paixão que macula a inocência batismal. Quantos de nós não nos lançamos nos abismos da ambição, da inveja e da cobiça já nos primeiros anos de nossa infância? Essas provavelmente foram as raízes dos ressentimentos que tenhamos tido a propósito da glória dos outros. Sim, pelo fato de desejarmos a estima de todos, por nos crermos no direito à glória e ao louvor dos nossos circunstantes, constitui para nós uma ofensa o sucesso dos outros. Por isso São Tomás define a inveja como sendo “a tristeza do bem alheio enquanto se considera como mal próprio, porque diminui a própria glória ou excelência” (3).

Há paixões que se mantêm letárgicas até a adolescência, assim não o é a inveja; ela se manifesta já na infância e acompanha o homem até a hora de sua morte. Não será difícil aos pais observar os sinais desse vício, em seus pequenos. Irmãos ou irmãs, entre si, não poucas vezes terão problemas por se imaginarem eclipsados pelas qualidades ou privilégios de seus mais próximos. Quantas vezes não acontece de ser necessário separar-se irmãos, ou irmãs, na tentativa de corrigir essas rivalidades que podem chegar a extremos inimagináveis, tal qual se deu entre os primeiros filhos de Eva, Caim e Abel?

A ambição e a inveja são mais universais do que parece à primeira vista; poucos se vêem livres de suas garras. Elas se levantam e tomam corpo em relação aos que nos são mais próximos, como afirma São Tomás: “A inveja é do bem alheio enquanto diminui o nosso. Portanto, somente se suscita a respeito daqueles que se quer igualar ou superar. Isto não sucede em pessoas que diferem muito de nós em tempo, espaço e lugar, senão nas que nos estão próximas” (4).

Assim, ao sábio será mais difícil invejar o general, e vice-versa, ou, uma médica a uma costureira; mas dentro da mesma profissão, quanto mais relacionadas forem as pessoas entre si, mais intensa se manifestará essa paixão.

Em conseqüência, poder-se-ia dizer que jamais se excitaria esse mau pendor nas almas dos contemporâneos de Jesus face a suas qualidades, pois a diferença entre Ele e qualquer pessoa deste mundo é simplesmente infinita. De fato, esse seria o normal relacionamento dos outros com o Redentor, se seu nascimento e vida fossem refulgentes de poder e de glória. Mas Ele veio ao mundo numa gruta em Belém, foi envolto em panos e depositado na manjedoura sobre palha, viveu em Nazaré exercendo a profissão de carpinteiro para auxiliar seu pai. Assim, só mesmo um forte olhar de fé poderia discernir nesse Menino uma Pessoa de Deus. E essas aparências contrárias à sua divindade chegaram a ser tão extremas que Jesus conferiu o título de bem-aventurado a quem não se envergonhasse de segui-lO (Mt 11, 6). Se Ele tivesse manifestado todo o fulgor da infinita distância existente entre a natureza divina de sua Pessoa e a nossa humana, não haveria quase mérito na restituição dos bens que d’Ele recebemos.

É justamente em função das primeiras palavras pronunciadas por Maria em seu cântico de ação de graças, ouvidas com alegria por João Batista no seio materno, que toma brilho a mais alta virtude do Precursor: “A minha alma glorifica o Senhor; e o meu espírito exulta de alegria em Deus meu Salvador porque olhou para a humildade de sua serva” (Lc 1, 46-48). Essa foi a formação recebida pelo menino-profeta ao longo dos meses durante os quais Maria viveu em casa de Isabel: humildade e servidão. Como teria sido de um valor inestimável se os pontífices e fariseus do Sinédrio houvessem sido educados na mesma escola de João! Certamente não se teriam reunido depois da ressurreição de Lázaro, para decretar a morte de Jesus (Jo 11, 47-53).

III – São João Batista
e a virtude da restituição

São João Batista (Catedral de Barcelona)Aproximemo-nos de João nas margens do rio Jordão e analisemos seu prestígio de pregador. Profeta como igual nunca houve em Israel, fundador e chefe de uma escola, todo o povo o procura. Entretanto, seu renome está condenado a uma lenta morte, sua instituição deverá dissolver-se paulatinamente, sobre a glória de sua obra far-se-á um grande eclipse, pois um valor mais alto se aproxima. Esse era o momento do ressentimento, da ambição ferida e talvez até da inveja. Muito pelo contrário, a reação de João foi de heróica humildade e ilimitada servidão, como encontramos narrado no Evangelho de hoje.

29º No dia seguinte João viu Jesus, que vinha ter com ele …

Assim como Maria foi à sua prima Santa Isabel, é Jesus quem se dirige a João, e agora pela segunda vez. O discípulo amado não nos relata o Batismo de Jesus como o faz Mateus (3, 13-17) e, segundo São João Crisóstomo, Jesus volta a encontrar-se com o Batista para desfazer o equívoco de que, na primeira vez, Ele tivesse ido procurá-lo tal qual o faziam todos, ou seja, para confessar seus pecados ou para obter a purificação dos mesmos pelas águas do Jordão.

… e disse: “Eis o Cordeiro de Deus, eis O que tira o pecado mundo”.

Assim como hoje nossa fé se robustece em méritos ao contemplar uma Hóstia consagrada e crer na Presença Real de Jesus Eucarístico, também naqueles dias era indispensável, para benefício de todos, o Redentor apresentar-Se sob os véus de nossa natureza. Jesus, desde o nascimento até essa ocasião, era um homem comum e corrente em todas as suas aparências. Tornava-se necessário ir descerrando pouco a pouco esses véus, a fim de introduzir o povo na verdadeira perspectiva debaixo da qual fosse possível prestar-Lhe um culto de latria. Excelente meio escolheu o Salvador: suscitou um varão que havia comovido toda Israel por sua figura constituída de mistério, profetismo e santidade, saído de dentro de uma vida feita de ascese e penitência, o Precursor.

Era chegado o momento de os judeus ouvirem, de lábios dignos da máxima credibilidade, a proclamação da grandeza do Messias ali presente. A preparação dos corações estava concluída, o caminho do Senhor já se encontrava endireitado, a voz ecoara pelo deserto, o Filho de Deus precisava ser conhecido e, para tal, era indispensável muita clareza na comunicação: “Eis o Cordeiro de Deus”.

O conhecimento de Deus é bem diferente do nosso. Vivemos no tempo, e a cronologia é fundamental em nosso processo intelectivo. Para Deus tudo é presente e, ao criar, fez Ele depender uns seres de outros. No pináculo da criação, colocou Cristo como Causa, Modelo, Regente e Guia, e, tendo em vista o pecado e o Redentor, criou o cordeiro para simbolizar este grandioso aspecto de seu Unigênito Encarnado, o de vítima expiatória, numa clara referência ao “cordeiro pascal” (Ex 12, 3-6), ou quiçá, ao duplo sacrifício diário oferecido no Templo (Ex 29, 38), ou como comenta Orígenes: “Porque Ele, tomando sobre si nossas aflições e tirando os pecados de todo mundo, recebeu a morte como batismo” (5).

O cordeiro é um animal pacífico e pacificador. Solto no pasto ou posto na baia, ele tranqüiliza os corcéis fogosos, evitando-lhes ferimentos inúteis.

A afirmação de João é feita no presente do indicativo —“Aquele que tira” — para indicar a perpetuidade do ato redentor.

30º Este é Aquele de quem eu disse: Depois de mim vem um homem que é superior a mim, porque era antes de mim, …

É patente tratar-se aqui de um Homem de corpo e alma. Embora tenha nascido depois do Batista, este último confessa publicamente não só que Jesus lhe é superior, mas também que já existia antes dele. E é real, pois, enquanto Verbo de Deus, Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, Ele é eterno. Assim, neste versículo, o Precursor proclama a Humanidade unida à Divindade, numa só Pessoa. É a revelação do mistério da Encarnação.

31º … e eu não O conhecia, mas vim batizar em água, para Ele ser reconhecido em Israel.

João quis evitar o equívoco da parte do povo, o qual poderia julgar serem suas afirmações sobre Jesus feitas com base no parentesco existente entre ambos. E realmente, o Batista se retirara ao deserto ainda menino e não estivera com Ele antes. Portanto, suas declarações eram fruto de um discernimento essencialmente profético, como também é profética sua missão, pois torna claro o objetivo de seu batismo: o reconhecimento do Messias, da parte do povo.

32º João deu este testemunho: “Vi o Espírito descer do Céu em forma de pomba e repousou sobre ele”.

O mistério da Santíssima Trindade não havia sido revelado até então; entretanto, de dentro da Teologia como é hoje conhecida, torna-se patente a presença das Três Pessoas nessa proclamação de João Batista.

A pomba é inocente por sua natureza e, ao contrário das aves de rapina, não se alimenta de carnes mortas, mas sim de sementes da terra. Gemem quando estão enamoradas. Eis um belo símbolo do Espírito Santo, a Inocência que nos instrui, ilumina e santifica com gemidos inefáveis dentro de nós.

33º Eu não O conhecia, mas O que me mandou batizar em água, disse-me: Aquele sobre quem vires descer e repousar o Espírito, esse é O que batiza no Espírito Santo.

Reafirma São João Batista não ter antes conhecido Jesus. Compreende-se sua insistência a esse respeito, pois os laços familiares eram vigorosos naqueles tempos e havia o risco de interpretarem as palavras do Precursor sob um prisma meramente humano.

Era indispensável fixar a atenção de todos na origem divina de suas proclamações, daí a referência Àquele que o havia mandado batizar.

34º ºEu O vi, e dei testemunho de que Ele é o Filho de Deus.

Sim, Jesus é o Unigênito do Pai. Enquanto os outros todos — inclusive a Santíssima Virgem — somos filhos adotivos, Jesus é gerado e não criado, desde toda a eternidade. João já havia declarado ser o Messias o Cordeiro de Deus, que batizaria no Espírito Santo. Porém, esta é a primeira vez que declara tratar-se especificamente do Filho de Deus.Visita a Santa Isabel (Igreja Notre Dame de Bordeaux)

IV – Conclusão:
Castigo da ambição e da inveja

O castigo de Deus à ambição e à inveja se faz presente não só na eternidade, mas também nesta vida. Quem se deixa arrastar por esses vícios, perde a noção do verdadeiro repouso e passa a viver constantemente na preocupação, na inquietude e na ansiedade. Sempre estará atormentado pelo pavor de ficar à margem, de ser esquecido, igualado ou superado. Sua existência será um inferno antecipado e essas paixões se constituirão em seus próprios carrascos.

Pelo contrário, quanta felicidade, paz e doçura têm as almas que são despretensiosas, reconhecedoras dos bens e das qualidades alheias, restituidoras a Deus dos dons por Ele concedidos.

Entremos na escola de Maria, e d’Ela aprendamos a restituir a Deus nosso ser, nossa família e todos os nossos haveres. Ela nos ensinará a glorificar ao Senhor por ter contemplado o nosso nada e, como resultado, nosso espírito exultará de alegria (Lc 1, 47), a exemplo de seu primeiro discípulo, São João Batista.

1 ) Suma Teológica III, q. 38, a. 1 ad. 2.

2 ) Cf. Adversus Marcionem, IV, 33: PL 2, 471.

3 ) Suma Teológica II-II, q. 36, a. 1.

4 ) Suma Teológica II-II, q. 36, a.1, ad. 2.

5 ) Apud Catena Áurea, in Jo I, 29.

Fonte: Revista Arautos do Evangelho N. 37 Janeiro, 2007. p. 6-11

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Igreja dos Arautos do Evangelho agora é Basílica Menor

24 de maio de 2012 

 

 

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O dia de Nossa Senhora Auxiliadora foi duplamente comemorado pelos Arautos do Evangelho. Além das celebrações normais em louvor e honra da Santa Mãe de Deus, Auxiliadora dos Cristãos, havia algo bastante especial para ser comemorado: A Igreja de Nossa Senhora do Rosário, na Diocese de Bragança Paulista foi elevada à categoria de Basílica Menor, justamente nesse dia.

 Esta Igreja pertence ao conjunto de edifícios no qual se encontram o Seminário da Sociedade Clerical Virgo Flos Carmeli e a Casa de Formação dos Arautos do Evangelho. 

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Dom Sérgio entrega o breve a
Monsenhor João Clá Dias

A cerimônia de entrega do Breve Apostólico que elevava a Igreja à condição de Basílica Menor transcorreu com grande solenidade durante a Celebração Eucarística presidida por Dom Sérgio Aparecido Colombo, Bispo de Bragança Paulista, no Estado de São Paulo. 

O Breve de Sua Santidade foi entregue por Dom Sergio Colombo a Monsenhor João Clá Dias, fundador e presidente geral dos Arautos do Evangelho. Em seguida deu-se a leitura das palavras do Santo Padre por um dos concelebrantes.

No término da cerimônia, foi descerrado o tecido que cobria os símbolos que identificam uma Basílica Menor: o Brasão Papal, o Brasão do Bispo e as chaves pontifícias.

O Breve Apostólico

Dado em Roma, junto a São Pedro, sob o anel do Pescador, no dia 21 de Abril do ano de 2012, oitavo do Nosso Pontificado.

Assim termina o decreto Papal que foi dado a conhecimento através do Cardeal Tarcísio Bertone, Secretário de Estado da Santa Sé.

Nele, “Sua Santidade o Papa Bento XVI –ad perpetuam rei memoriam– afirmou que “entre os templos sagrados da Diocese de Bragança Paulista no Brasil, destaca-se, merecidamente, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, erigida na cidade de Caieiras, à qual os fiéis da região costumam dirigir-se a fim de implorar o poderoso auxílio daquela que é a Cheia de Graça, para que conduza a existência deles segundo os preceitos do Evangelho.

Por esta razão, uma vez que o Venerável Irmão Sérgio Aparecido Colombo, Bispo da referida Sede, com carta do dia 1 de Março deste ano, em nome do clero e também do povo, pediu que honrássemos este templo com o título e dignidade de Basílica Menor, Nós, desejando dar provas de especial benevolência, com sumo agrado pelas fervorosas preces, julgamos que deva ser concedido.”

 

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O Breve Apostólico

Assim foi que, afirma ainda o Santo Padre, “atendidos totalmente os requisitos que a Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, com as faculdades por Nós concedidas, estabeleceu nesta matéria, com o sumo poder Apostólico, em virtude desta carta e perpetuamente, elevamos a Igreja mencionada ao grau e dignidade de Basílica Menor, conferidos todos os direitos e concessões litúrgicas, que devidamente competem aos edifícios sagrados honrados com este título, observado o que determina o Decreto De titulo Basilicae Minoris, promulgado no dia 9 de Novembro de 1989.” 

E o Sumo Pontífice continua em seu Breve: “Estamos certos de que a honra concedida incitará o coração dos fiéis a venerar cada vez mais a Santíssima Mãe de Deus e da Igreja.

Desejamos que esta carta produza efeito a partir de agora e para a posteridade, sendo revogadas quaisquer disposições em contrário.”
Basílicas maiores e menores

O termo Basílica provém do grego e significa originalmente “casa real”. Essa palavra designava um majestoso edifício público, que nas civilizações grega e romana se destinava comummente à sede de um tribunal de justiça.

A palavra Basílica começou a fazer parte do vocabulário católico quando várias dessas construções se converteram em templos cristãos.

Existem dois tipos de basílicas: as maiores e as menores.

As maiores são poucas, particularmente as quatro basílicas papais romanas (São João de Latrão, São Pedro, Santa Maria Maggiore e São Paulo Extramuros), ainda que também sejam consideradas basílicas papais as de São Lorenço Extramuros e a Igreja de São Francisco, em Assis, pois tem altar Papal e trono.

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O termo basílica provém do grego e
designava um majestoso edifício público
 

Outra interessante característica das basílicas maiores é que seu altar-mor é de uso exclusivo do Papa, podendo ser utilizado por outro celebrante somente com uma autorização própria. Além disso possui uma Porta Santa que, sendo transposta durante os anos jubilares, concede indulgências. 

Formando uma “coroa” ao redor das Basílicas Maiores se encontram as Basílicas Menores, mais de 1.500 em todo o orbe.

Para que um templo possa alcançar o título de basílica, o que ocorre por meio de um Breve Apostólico, devem-se cumprir três requisitos:

Ser um templo de régio esplendor, com arquitetura destacada;

o templo deve ser foco espiritual de uma comunidade que é santuário para a multidão de devotos que acodem a ele;

abaixo de suas abóbadas deve existir um tesouro espiritual e sagrado, dando culto ininterrupto ao Senhor, à Virgem Maria e ao Santo venerado nele. (JS)

Indulgências

 Os fiéis que devotamente visitem a Basílica de Nossa Senhora do Rosário e nela participem de algum rito sacro ou ao menos recitem o Pai Nosso e o Credo, cumprindo as demais condições requeridas – a saber, a Confissão sacramental, a Comunhão eucarísitica e a oração nas intenções do Sumo Pontífice -, podem obter indulgência plenária nos seguintes dias:

– No aniversário da Dedicação da Basílica (24 de fevereiro);

– na Solenidade do Titular (Nossa Senhora do Rosário, 7 de outubro);

– na Solenidade dos Apóstolos São Pedro e São Paulo (29 de junho);

– no aniversário da concessão do título de Basílica Menor (21 de abril);

– na Solenidade da Imaculada Conceição, Padroeira da Diocese (8 de dezembro), em virtude da faculdade concedida ao Bispo Diocesano para eleger uma data;

– e ainda em algum dia do ano em que cada um dos fiéis livremente escolham.

Veja o vídeo da cerimônia

Como chegar (clique no mapa para ampliar)

como chegar na Basílica dos Arautos do Evangelhover no Google Maps

com informações da Gaudium Press

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