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Antífonas do Ó – VII

Antífona de 23 de Dezembro

O Emmanuel, Rex et legifer noster, exspectatio gentium, et Salvador earum: Veni ad salvandum nos, Domine Deus noster

 Ó Emanuel, nosso rei e legislador, esperança e salvador das nações, Vinde salvar-nos, Senhor nosso Deus.

Sigamos o exemplo dos Rei

   Os rei não se limitaram a descobrir a cabeça ou a dobrar o joelho, mas prostraram-se (cf. Mt2,11), de onde se vê que o fizeram porque estavam na presença de Deus. Adorar e lançar-se ao chão, isto é, reconhecer-se um punhado de terra e um nada diante de Deus. Se o Menino fosse somente rei, entre reis e reis bastaria que estes se descobrissem; mas se se prostraram no chão, foi porque viram no Menino o próprio Deus.

Vós passais por aquele sacrário tão indiferentes que nem sequer inclinais a cabeça.

 

A Soror Josefa Menendez o Sagrado Coração dizia: “Quero revelar lhes quanta amargura encheu meu Coração no momento da Ceia. Porque se era grande a minha alegria de Me tornar o Companheiro e o Alimento divino dos homens até a consumação dos séculos, e se via quantos Me cercariam de adoração, reparação e amor…. não foi menor a minha tristeza ao ver tantos outros que Me abandonariam no Tabernáculo, ou não acreditariam na minha presença real!

   Os Reis magos adoram o Menino de modo tão verdadeiro que penso que lhe terão beijado os pés. Abrem os seus tesouros, pois muito dá quem encontrou o Menino. Dirigem-se às suas arcas e, abertos os seus tesouros e não só as seus bolsas, oferecem-lhe cada um deles muito ouro, muita missa e muito incenso.

Devemos oferecer nossos tesouros, OURO…   

   E vós, que ofereceis a Deus? – “Mas eu nada tenho”. Abre-lhe o teu  coração, e estará aberto o tesouro com que Ele mais se alegra. Deus já abriu as suas entranhas e o seu coração. Por aquela abertura do seu lado podes ver o seu coração e o amor que encerra. Abre-lhe o teu, não o deixes fechado. Detém-te a pensar: “Senhor, tens o coração aberto e trespassado por mim, e eu não Te amarei? Abriste-me o teu coração, e eu não Te abrirei o meu? No meu coração, Senhor, estão as tuas oferendas; se Te der desse coração, terei feito a minha oferenda”.

   Vale mais diante de Deus um pedacinho de coração do que muitas oferendas sem coração. Dá-lhe um pedacinho do teu coração e ter-lhe-ás oferecido muito ouro. Certo eremita perguntou a um ancião: – “Por que, fazendo tu menos jejum, menos oração e penitência do que eu faço, és mais santo do que eu?” E ele respondeu: “Porque amo mais do que tu. Oferece ouro a Deus aquele lhe oferece amor”.

Icenso

   – “Mas eu tenho pouco amor”. Então reza muito. Não tens ouro? Oferece incenso. – “E o que é o incenso?” Oração. Disse Davi: A oração é incenso (cf Sl140,2), como o é o suspiro que sobe a Deus em perfume de suave odor. Reza a Deus, mas não para lhe pedir trigo: – “Senhor, como é possível que eu não Te ame, não Te tema, não Te sirva?” Reconhece que és miserável e aproxima-te do presépio pedindo esmola. Se não tens ouro, oferece o incenso da oração. A casa daquele que não ora tem um cheiro horrível.

Mirra

   – “Mas eu não tenho ouro nem incenso”. então oferece mirra. Oferecerei holocaustos com os cordeiros mais pingues, disse Davi: com incenso de cordeiros  oferecer-te-ei touros e cabritos (cf. Sl 65,15). A mirra é o espírito de sacrifício e abnegação, até o mais íntimo de nós mesmo. Como acontece com os touros e os cordeiros, o tutano, que é o têm de mais preciso, está encerrado nos ossos mais duros. Entrega pois o teu amor, envolve no osso duro e firme do propósito de nunca mais tornar a ofender a Deus, num propósito intocável. Só ama a Deus verdadeiramente aquele que lhe dá o seu coração, não guarda nada para si mesmo.

Com incenso de cordeiros. O cordeiro que vai à frente do rebanho é o guia. Para quem dirige os outros, não há nada que mais deva amar e cultivar que a oração. O sacerdote que não ora não aprendeu nada do seu ofício; se não ora, dar-me-á por conselho de Deus um conselho seu, por resposta divina uma resposta humana.

   Oferece também touros e cabritos. Sim, o Senhor também aceitará cabritos, que são os luxuriosos. Oferecer-lhe-ei os meus pecados de sensualidade, mas mortos. Porque têm bom odor depois de mortos. Se te assalta um mau desejo, mata-o, ainda que te doa, e oferece-o a Deus.

Que mais posso fazer?

    Que podes tu fazer pelo Menino? Sofrer um pouco. Ele padeceu por ti desde pequenino. Mais lhe doeu sofre na cruz do que a ti sofrer o que agora sofres.

   Para outros, a mirra será deixar de murmurar. Para outros ainda, abrir a bolsa e dar uma esmola. Oferece isso a Deus e terás oferecido um touro. Oferece a Deus um touro quem lhe oferece algo que muito lhe doi.

   Oferece mirra amarga quem faz por Deus aquilo que o amargura. E se lhe ofereceres isso, Ele é tão bom que te dará incenso e ouro, a fim de que tenhas alguma coisa que oferecer-lhe, e dar-te-á aqui a sua graça e depois a sua glória, à qual lhe pedimos que nos conduza. Amém.

Um Santo e Abençoado Natal!

Fontes:
O Mistério do Natal – São João de Ávila, Editora Quadrante, São Paulo, 1998
Pe. H. Monier Vinard e Pe. F. Charmot, S.J., Apelo ao amor, mensagem do Coração de Jesus ao mundo e sua mensageira Soror Josefa Menéndez, Editora Rio-São Paulo, Rio de Janeiro, março de 1963.

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Antífonas do Ó – VI

Antífona para 22 de Dezembro

 

Rex gentium et desideratus earum lapisque angularis, qui facis utraque unum: Veni et salva hominem quem de limo formasti

   Ó Rei e Senhor das nações e Padra angular da Igreja, vinde salvar a mulher e  homem, que, um dia, formastes do barro.

Jesus Cristo não fica de braços cruzados

   Jesus Cristo Não é nada ocioso. Veio quando o mundo anoitecia mas, como disse Davi, começou a trabalhar com toda a pressa (Cf. 18,6-7). Os velhos que viveram durante toda a sua vida, dizem: – “Quero apressar-me e utilizar bem o tempo que me resta de vida, para compensar a má vida passada”. A quem sobra pouco tempo de sol, só lhe resta apressar-se. Jesus Cristo não fica de braços cruzados: é o amor que o faz ser tão diligente. Mal saiu o sol e já o vemos trabalhando.

Vieram Rei do Oriente

   Já tinham sido chamados os pastores, mas Jesus Cristo viu que havia muito mais gente por chamar, e chamou os reis. Se aos pastores, que tinham fé,  enviou um anjo, que é pura inteligência e espírito, aos rei pagãos enviou uma estrela impessoal, que surgiu na Pérsia, a leste de Jerusalém. Os magos viram a estrela (cf Mt 2,2).

   “Magos” não significa homens dedicados à magia; “magos” na língua persa, significa sábios. São chamados reis porque os sábios reinavam naquela época. Essa estrela não era das que estão fixas no firmamento, nem estava nos distantes céus em que se movem os outros planetas. Estava mais baixo que todas, não se movia com as outras, tinha um movimento particular e uma luz particular. Significava a luz e o conhecimento da fé, que está num nível diferente dos outros conhecimentos.

O Conhecimento da FÉ  

 O conhecimento pelo qual sei que Jesus Cristo está sob as aparências do pão e do vinho, não é como os outros, não está ao alcance da razão natural. Que diz a estrela?: “Nasceu o Salvador”. O astrólogo não chega a alcançar esse saber. Os magos viram a estrela resplandecer nos ares; transmitia tanta alegria com o seu resplendor que, iluminados sobre o seu significado, se dispuseram a partir.

Bem-aventurados os que creram sem terem visto

   Acompanhemo-los agora, pois temos estrela como eles, e adoremos Aquele que vão adorar, porque, se não procurarmos o Menino, morreremos. Empreguemos a vida acompanhando estes reis, a procura de Deus. São Bernardo diz que o maior negócio de um cristão é buscar a Deus com todas as forças, e se alguém não o procura desse modo, poucos são os bens espirituais que possui.

   Ao entrarem em Jerusalém, a estrela escondeu-se deles. Há alguém aqui a quem a estrela se tenha escondido? – “Houve um tempo em que eu era tão devoto, em que os bons pensamento me vinham sem que eu os procurasse; mesmo deitado, pensava em Deus”. Se a estrela se escondeu, reaparecerá. A estrela reapareceu aos reis magos e eles a seguiram (cf Mt 2,9).

   Bem-aventurados aqueles que entendem o que é a fé! Disseste bem, Menino, quando crescestes: Bem-aventurados os que que não viram e creram! (Jo 20,29). Foi isso que a estrela disse. A razão dos reis magos dizia-lhes que o menino deveria está numa casa grande e rica; a estrela dizia-lhe que não, que estava entre aquelas palhas, naquela manjedoura. A razão natural diz-nos: – “Como pode um corpo tão grande estar numa hóstia tão pequenina?” E a fé diz-nos que sim, que pode.

Dizei-nos Senhora, onde está o Rei!

   A Estrela reapareceu aos reis magos e eles a seguiram (cf Mt2,9). A Estrela parecia falar. Desceu até o telhado, e os reis desceram das suas montarias. Não é verdade, Senhora, que, quando ouvistes o barulho lá fora, ficastes um pouco assustada? – “Alguém quer pôr as mãos no Menino!” Talvez o tenhas escondido e te tenhas posto a costurar alguma coisa. Um dos pajens deve ter se aproximado da Virgem e perguntado: – “Senhora, sabeis onde está o Rei dos Jesus que acaba de nascer? Senhora, consolai-nos, dizei-nos pelo amor de Deus: Tendes filho?”

   E Ela responderia, porque era a vontade de Deus que o manifestasse: – “Sim, tenho”.“Há quanto tempo destes à luz”“Há treze dias”. – “Fazei-nos o favor de no-lo mostrar”. E a Vigem Maria tomou-o nas mãos e mostrou-o. Vendo o Menino, os reis exultaram de alegria e compreenderam que estavam diante do Messias. E prostraram-se por terra e o adoraram.

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Antífonas do Ó – V

Antífona de 21 de Dezembro

   O Oriens splendor lucis æternæ, et sol justitiæ Veni et illumina sedentes in tenebris et umbra mortis.

   Ó Emanuel, sois nosso Rei e Orientador: vinde salvar-nos, ó Senhor e nosso Deus!

E o Menino chora

   O Menino chora na estreiteza do estábulo. Por que choras, Menino bom? Estará aqui presente algum grande pecador que trema quando Deus lhe disser: – “Onde estás?”? Que grande mal tê-lo ofendido muito, lembrar-se de vinte anos de grandes ofensas! Que resposta darás quando Deus te interpelar?

Assim como tu tremes, tremiam os irmãos de José quando este lhes disse: Eu sou José, vosso irmão, que vós vendestes (Gên 45,4). E eles pensaram: “Infelizes de nós! Ele agora é Rei. Há de querer matar-nos, tem motivos e pode fazê-lo”. Tremiam. É o pecador que treme por ter ofendido a Deus. Ofendestes a Deus e por isso tendes razão em tremer. Convido os que estão no erro, os que tem a consciência pesada e os grandes pecadores a ir até à manjedoura ver o Menino chorar.

   Por que choras, Senhor? Os irmãos daquele José não ousavam aproximar-se dele, até que o viram chorar: Eu sou vosso irmão, aproximai-vos, não tenhais medo. José levanta a voz, chora e, não contente com isso, conforme a Sagrada Escritura, beijou em seguida cada um dos seus irmãos, chorando com todos eles (Gên 45,15), e os irmãos pediram-lhe perdão.

Estou chorando por ti

   – Não tenhais receio (Gên 45,5) – dizia-lhes ele – , “vendeste-me por maldade, mas, se eu não tivesse vindo para cá, todos morreriam de fome. Deus tira dos males o bem”.

   Menino, por que chorais? – “Para que os pecadores compreendam que, embora tenham pecado, devem aproximar-se de Mim sem temor, se se arrependerem de ter-Me ofendido”. O Menino chora de ternura e de amor. Bendito Menino! Quem Vos colocou nessa manjedoura senão o amor que tendes por mim? Fomos maus e ingratos, como contra o nosso irmão José. Vendemo-lo. Um disse: – “Prefiro cometer uma maldade a ficar com Cristo”. Outro disse: – “Prefiro um prazer da carne a Ele”. Vendemos nosso irmão, traímo-lo.

 

   E José, o santo, convida-nos a aproximar-nos da manjedoura e a ouvir esse choro causado por cada um de nós. Se olhásseis para esse Menino com os olhos limpos, se adentrásseis na sua alma, encontraríeis uma inscrição que vos diria: “Estou chorando por ti”, pois desde a concepção Ele teve conhecimento divino e conhecia todos os nossos pecados e chorava por eles. E se está chorando pelos nossos pecados, que pecador não sentirá confiança, se quiser corrigir-se? Há algo no mundo que inspire mais confiança do que ver Cristo numa manjedoura, chorando pelos nossos pecados.

   Por que chorais? Que fazeis, Senhor? – “Começo a fazer penitência pelo que tu fizeste”. Pois bem, que fará um cristão que olhe com olhos de fé para cristo que chora pelos seus pecados? Ai de mim, porque tarde Vos conheci, Senhor! Ai de mim por tantos anos perdidos sem Vos conhecer! Quem se deixará dominar pela tibieza ao ver Deus humanado chorar?

   Se, estando o sol no céu, não o suportamos durante o verão, que aconteceria se ele descesse à terra?

   Se, estando outrora lá em cima, o Sol abrasava, o que não será agora que desceu e se colocou numa manjedoura, e passa frio…e, quanto mais frio passa, mais eu me aqueço; e quando mais incômodos sofre, mais eu descanso; e quanto mais Te vejo padecer por mim, Senhor, mais acredito que me amas!… Dou-Vos graças por terdes nascido. Dou-Vos graças por terdes preferido uma manjedoura!

Fonte: O presente texto foi extraído do livro, O Mistério do Natal – São João de Ávila, Editora Quadrante, São Paulo, 1998

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4º Domingo do Advento Ano A

 

A origem de Jesus Cristo foi assim: Maria, sua Mãe, estava prometida em casamento a José, e, antes de viverem juntos, Ela ficou grávida pela ação do Espírito Santo.

   De acordo com o direito judaico da época, o matrimônio entre israelitas era constituído por dois atos distintos aos quais poderíamos chamar de esponsais e núpcias. Antes do casamento, os pais dos nubentes redigiam o contrato matrimonial, onde constavam os bens que cada parte entregaria para formar o patrimônio da nova família. Realizava-se uma cerimônia, na qual o noivo entregava simbolicamente à noiva um objeto de valor. Com esse gesto ficava selado o compromisso, tornando-se os contraentes marido e mulher, pois os esponsais judaicos “constituíam verdadeiro contrato matrimonial”.

   Embora a partir desse momento fosse permitido ao casal morar sob o mesmo teto, era costume esperar até as núpcias, que seriam celebradas algum tempo depois, durante as quais o esposo conduzia solenemente a esposa à sua casa, entre festas e manifestações de júbilo. Assim, ao afirmar que Maria “estava prometida em casamento a José, e, antes de viverem juntos, Ela ficou grávida pela ação do Espírito Santo”, o Evangelista situa a Encarnação do Verbo no período posterior à cerimônia do compromisso, mas antes de Maria ir habitar na casa do esposo.

José, seu marido, era justo…

   São José, diante dessa Virgem que lhe fora dada como esposa, cuja virtude deixou surpresos até os Anjos, tomou uma atitude humilde e admirativa. Ora, alguns meses depois, quando São José foi buscar Nossa Senhora na casa de Santa Isabel, eram visíveis os sinais da gestação do Menino Jesus. Contudo, Ela nada lhe disse… E ele nada perguntou…

   Uma coisa era certa: como afirma um famoso mariólogo, “ele bem sabia como era admirável a virtude de Maria, e, apesar da evidência exterior dos fatos, não conseguia acreditar ser Ela culpada”. Não há dúvida de que São José, diante do mistério da milagrosa Encarnação do Verbo, proclama um verdadeiro fiat! Pois, sem deixar-se levar por uma visualização humana, e confiando inteiramente na virtude da Mãe de Deus, põe-se com docilidade nas mãos da Providência: “Faça-se aquilo que Vós quereis, embora eu não chegue a compreendê-lo!”.

…e, não querendo denunciá-La, resolveu abandonar Maria em segredo.

   Segundo a Lei Mosaica, estando Maria para dar à luz sem a menor participação dele, devia José adotar uma das quatro atitudes seguintes: a primeira era denunciar a esposa a um tribunal, pedindo a anulação dos esponsais; a segunda, levá-La para sua casa, como se fosse o pai do nascituro; a terceira, repudiá-La publicamente, embora escusando-A e sem pedir castigo; e a quarta, emitir libelo de repúdio em privado, diante de duas testemunhas e sem alegar os motivos.5 Ora, qualquer dessas hipóteses era impensável para São José, pois em todas ficaria lesada a honra de Nossa Senhora.

   Havia, entretanto, uma quinta saída: fugir, abandonando a esposa grávida, subtraindo-se assim às obrigações impostas pela Lei. Deste modo, assumiria sobre si a infâmia de ter abandonado sem motivo a esposa inocente e o futuro filho, ficando ele mal perante a sociedade. Foi esta a sua escolha.

 Enquanto José pensava nisso, eis que o Anjo do Senhor apareceu-lhe, em sonho, e lhe disse: “José, filho de Davi…”

   Aparece aqui um importante elemento para bem avaliarmos o papel de São José na Sagrada Família e na própria ordem da Encarnação. Assim como Deus escolheu, desde toda a eternidade, a Mãe da qual nasceria Jesus, algo semelhante fez com aquele que seria o pai nutrício do Verbo Encarnado, dotando-o dos mais altos atributos, inclusive do ponto de vista natural.

“…não tenhas medo de receber Maria como tua esposa, porque Ela concebeu pela ação do Espírito Santo”.

   Para dissipar a provação de José a respeito de sua insuficiência no campo sobrenatural em relação à santidade de Maria, o convida a não ter medo de recebê-La como esposa. Ao anunciar-lhe que Maria concebera pelo Espírito Santo, mostrava-lhe também não estar Ela — como, aliás, nenhuma criatura humana — à altura desse sublime mistério. Portanto, o Paráclito que A escolheu haveria de dar-Lhe as graças para o cumprimento de sua incomparável missão. E o mesmo se passaria com ele, José.

“Ela dará à luz um Filho, e tu Lhe darás o nome de Jesus…”

   Logo depois de revelar-lhe a miraculosa maternidade de Maria, o Anjo dirige-se a São José como verdadeiro chefe da família, a quem compete dar o nome à criança. E embora sendo inferior a Jesus e Maria no plano sobrenatural, é-lhe reconhecido o direito, como esposo, sobre o fruto das entranhas de sua mulher.

“…pois Ele vai salvar o seu povo dos seus pecados”.

   Ora, isto só é possível a alguém divino. Deixa assim patente o mensageiro celeste que o Filho por nascer de Maria era não só Filho do Altíssimo, mas também Deus Ele próprio.

Tudo isso aconteceu para se cumprir o que o Senhor havia dito pelo profeta: “Eis que a Virgem conceberá e dará à luz um Filho. Ele será chamado pelo nome de Emanuel, o que significa: Deus está conosco”.

   O que fora incompreensível para Acaz por causa da sua dureza de coração, o esposo de Maria compreendeu inteiramente graças à sua robusta e humilde fé.

Quando acordou, José fez conforme o Anjo do Senhor havia mandado, e aceitou sua esposa.

   Sem dúvida, São José, depois de atravessar com admirável paz de alma uma terrível e lancinante provação, teve esse momento gloriosíssimo de adoração ao Menino Jesus vivendo em Maria. O padre Garrigou-Lagrange, afirma que a missão de São José vai além da ordem da natureza, e não somente humana, mas também angélica. Para melhor frisar seu pensamento, o teólogo dominicano levanta uma pergunta a respeito dessa missão: “Será ela somente da ordem da graça, como a de São João Batista, o qual prepara as vias da Salvação; como a missão universal dos Apóstolos na Igreja para a santificação das almas; ou a missão particular dos fundadores de ordens?”. E apresenta esta resposta: “Observando de perto a questão, vê-se que a missão de São José ultrapassa até a ordem da graça, e confina com a ordem hipostática constituída pelo próprio mistério da Encarnação”

“Deus pediu à Virgem” — comenta o padre Llamera — “seu consentimento para a Encarnação. Ela o concedeu livremente, e neste ato voluntário se radica sua maior glória e mérito”. Mas também ao Santo Patriarca foi solicitada sua anuência ao virginal matrimônio com Maria, condição para a Redenção; outrossim, pediu-lhe a Providência uma heroica aceitação, sem entender, do mistério da Encarnação: mais acreditou ele na inocência de Maria do que na evidência da gravidez, constatada pelos seus olhos. Sem dúvida, foi esse fiat! de São José um dos maiores atos de virtude jamais praticados na Terra.

   Abre-se assim ante nossos olhos, às portas do Natal, um vastíssimo panorama em relação aos tesouros de graça depositados na alma do esposo virginal de Maria e pai adotivo de Jesus. Segundo uma piedosa afirmação, “sabemos que algumas almas, por predileção divina, como as de Jeremias e do Batista, foram santificadas antes de verem a luz do dia. Ora, o que diríamos de José? […] [Ele] supera todos os outros Santos em dignidade e santidade; somos, pois, livres para conjecturar que, embora não esteja consignado na Escritura, ele deve ter sido santificado antes de seu nascimento e mais cedo que qualquer um dos demais, pois todos os Santos Doutores concordam ao dizer que não houve nenhuma graça concedida a qualquer Santo, exceto Maria, que não tenha sido concedida a José. […] A grande finalidade que Deus tinha em vista ao criar São José era associá-lo ao mistério da Encarnação […]. Ora, para corresponder a tão elevada vocação, a qual, depois da Virgem Mãe, foi superior a todas as outras, quer dos Anjos ou dos Santos, José deveria necessariamente ter sido santificado em eminentíssimo grau, para ser digno de assumir sua posição na sublime ordem da união hipostática, na qual Jesus teve o primeiro lugar e Maria, o segundo”.

  Enfim, não desvendará ainda a teologia insuspeitadas maravilhas na pessoa de São José, o castíssimo chefe da Sagrada Família e Patriarca da Santa Igreja Católica Apostólica Romana?

Obras Consultadas

DIAS, João S. Clá, O Inédito sobre os Evangelhos Vol I, Libreria Editrice Vaticana, Città del Vaticano, 2013

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