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30º Domingo do Tempo Comum

“Façam suas apostas”

Desde a antiguidade que os cambistas já exerciam seu ofício. E naquela semana estavam agitados.

Uma disputa de bigas inaugurava a nova pista de corridas, a maior construída em todo império. O primeiro corredor, altaneiro e muito seguro de si impunha um respeito único, o outro um pouco agitado e preocupado aparentava já a derrota. Os torcedores corriam para pegar um bom lugar.

Escolhendo os cavalos certos

Cada carro era puxados por dois cavalos. Em meio a batalha da velocidade o primeiro, já famoso, estava na dianteira, mas… de repente o adversário ultrapassou e no final ganhou a coroa de louros. Derrota humilhante para o campeão. Havia perdido a corrida para um amador. Qual foi a razão? Quem nos explica é São João Crisóstomo

O primeiro, tinha dois cavalos para puxar a sua biga, um chamava-se Virtude  e o outro Soberba. O segundo corredor também tinha dois cavalos, chamados, Pecado e Humildade.

Em meio a corrida o peso e a lentidão de Pecado são vencidas pelo poder de Humildade, com a qual está unido. O primeiro carro, a pesar do impulso de Virtude, se retarda e é vencido não pela debilidade de Virtude, mas pelo peso e a moleza opressora de Soberba.

30º Domingo

Esta disputa se passa todos os dias em nossas vidas e é o tema deste 30º Domingo do Tempo Comum. Mons. João Clá Dias, fundador e presidente dos Arautos do Evangelho nos presenteia neste Domingo com uma bela meditação sobre a forma de rezar.

 “Subiram dois homens ao Templo a fazer oração: um era fariseu e o outro publicano”.

Eis uma simples frase penetrada de substanciosos significados. À mesma hora e no mesmo empenho de rezar, sobem ao monte Moriah, onde se localiza o Templo, dois homens: um fariseu e um publicano. Segundo o juízo humano, o fariseu é justo, cheio de virtude e piedoso, e certamente irá proferir uma excelente prece. O outro, pelo contrário, pecador tão desprezível, não conseguirá senão atrair sobre si o escândalo de todos e a cólera do próprio Deus.

 “O fariseu, de pé, orava no seu interior desta forma: ‘Graças Te dou, ó Deus porque não sou como os outros homens, ladrões, injustos, adúlteros; nem como este publicano. Jejuo duas vezes por semana e pago o dízimo de tudo o que possuo’”.

“Graças Te dou…”. Nada melhor do que dar graças a Deus. É piedoso e meritório, mas essa impostação de espírito deve proceder da consideração de nosso nada, de um vigoroso sentimento de nossas fraquezas e misérias, como também da adoração a Deus por sua infinita misericórdia, não só suspendendo os castigos que nos seriam devidos, mas muito pelo contrário, cumulando-nos de dons e graças.

Não é, porém, essa a ação de graças do fariseu; ele se exalta a si próprio e insulta todos os outros. “Procura o que é que ele pede a Deus em suas palavras, e não descobrirás. Subiu ao Templo para orar e não quis rogar a Deus, mas sim louvar-se a si mesmo. Triste coisa é louvar-se em vez de rogar a Deus; além disso, acrescenta o menosprezo àquele que orava”. “Com isso, abriu pelo orgulho a cidade do seu coração aos inimigos que a sitiavam, a qual ele inutilmente fechara pela oração e pelo jejum: são inúteis todas as fortificações quando nelas há uma brecha por onde pode entrar o inimigo”.

“O publicano, porém, conservando-se à distância, não ousava nem sequer levantar os olhos ao céu, mas batia no peito dizendo: ‘Meu Deus, tende piedade de mim, pecador’”.

No publicano, tudo é humildade, contrição e pedido de clemência. Usando de um costume que já não se vê mais nas Igrejas, batia no peito sem respeito humano. Contrariamente às “modas piedosas” de hoje, nada de leviandade de espírito, de dissipação ou de perpétua agitação; falava a Deus.

Muitos exemplos nos dá o publicano, inclusive no que tange à substância de seu pedido: “Meu Deus, tende piedade de mim que sou pecador”.

“Digo-vos que este voltou justificado para sua casa e o outro não; porque quem se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado”.

“Na hora de entrar no Templo, os dois personagens, embora pertencendo a categorias religiosas e sociais diferentes, eram, no fundo, muito semelhantes. Na hora de sair, são radicalmente diferentes. Um estava ‘justificado’, ou seja, era justo, perdoado, estava em paz com Deus, tinha sido renovado. O outro permaneceu como era no início; mais ainda, talvez tenha piorado sua posição perante Deus. Um obteve a salvação, o outro não”.

Fixemos bem nossa atenção: trata-se aqui de uma sentença proferida pelo infalível e soberano Juiz, o próprio Filho de Deus, não poucas vezes diferente da dos homens. Se, sem as luzes da graça fôssemos chamados a escolher um dos Apóstolos para se tornar o primeiro dos Pontífices da Santa Igreja, não seria exagerado imaginar que a uns julgaríamos pretensiosos, a outros, pouco ativos, ao próprio Pedro, exagerado e imprudente. Quiçá, antes de se tornar traidor, não teríamos escolhido a Judas pela sua grande discrição, segurança e habilidade em finanças, tanto mais que ele chegou a criticar Madalena pelo desperdício de dinheiro em perfumes para o Mestre, quando havia, então, muitos pobres e necessitados. Por aí nos damos conta do que seria da própria Igreja se não fosse o Espírito Santo a dirigi-la; e do que será de nós se não nos submetermos às suas inspirações.

A Liturgia de hoje bem pode nos ser útil para um proveitoso exame de consciência: até onde somos humildes como o publicano? Ou haverá em nossas almas, alguma fímbria do espírito farisaico? Qualquer que seja o resultado desse exame, lembremo-nos de que: “A humildade levou ao Céu um ladrão, antes dos Apóstolos. Ora, se unida aos crimes ela é capaz de tanto, qual não seria seu poder se estivesse unida à justiça? E se a soberba é capaz de quebrar a justiça, o que não conseguirá caso se alie ao pecado?”

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Obras Consultadas:
DIAS, João S. Clá, O Inédito sobre os Evangelho, Libreria Editrice Vaticana
Città del Vaticano, 2012, pag 401 – 413
ORIA, Mons. Angel Herrera, VERBUM VITAE – La Palavra de Cristo, Vol VI, BAC, Madrid, 1954

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29º Domingo do Tempo Comum

19 de Outubro de 2013

Certo dia, Santa Joana de Chantal perguntou a São Francisco de Sales: “Poderia dizer-me francamente em que momento o senhor pensa em Deus?” O bispo de Genebra respondeu: “Sempre! Porém, as vezes passo um quinze minutos sem pensar nele.” Diante da resposta, a santa exclamou ingenuamente: “Ah! Pobre senhor bispos! O senhor anda muito cansado. Devemos pensar continuamente em Deus!”

O bondoso santo então explicou: “A senhora nunca viu um menino colhendo frutas com a mão direita, enquanto a esquerda está segurando, tranqüiliamente a de seu pai? Fazemos sempre assim. Com uma mão trabalhamos e com a outra não soutamos nunca a Deus!”

A certeza de sempre está ligado a Deus por uma das mãos nos vem através da oração. O papa Pio XII já dizia: “Rezar, rezar, rezar. A oração é a chave dos tesouros de Deus, é a arma do combate e da vitória em todas as lutas em defesa do bem e contra o mal”. E continuava: “Mais que todas as obras externas, por belas e úteis que sejam, é necessária a oração intensa e contínua das almas para obter da misericórdia onipotente de Deus as graças”.

Mons. João Clá Dias, em seu “O Inédito sobre os Evangelhos” nos mostra a necessidade da oração insistente  para hoje e para a segunda vinda do Supremo Juiz. 

“Havia em certa cidade um juiz que não temia a Deus nem respeitava os homens”.

De que juiz se trata e qual a cidade em que ele vivia? Não se sabe. Na realidade, em seu modo de agir ele representa uma clara personificação do ateísmo prático já comum naqueles tempos, se bem que não tão difuso como nos dias atuais. Provavelmente ele praticava a religião com exclusão do Primeiro Mandamento da Lei de Deus.

 “Havia também na mesma cidade uma viúva, que ia ter com ele, dizendo: ‘Faze-me justiça contra o meu adversário’”

 Nessa mesma cidade havia uma viúva. Será um modelo insuperável de obstinação nesse particular. Esse é, bem provavelmente, o caso da presente parábola. A viúva deve ter saturado o juiz com suas inúmeras visitas, implorando-lhe, a cada vez, justiça contra seu adversário.

“Ele, durante muito tempo não a quis atender”

Não nos são desconhecidas as demoras processuais em nosso Ocidente latino. Mas, nos povos orientais, naqueles tempos, asintérminas esperas faziam guerra às mais robustas paciências.

“Mas, depois disse consigo: ‘Ainda que eu não tema a Deus nem respeite os homens, todavia, visto que esta viúva me importuna, far-lhe-ei justiça, para que não venha continuamente importunar-me’”.

O motivo que o levou a tomar tal decisão não foi nada nobre, nem elegante, mas a viúva não se acanhou e nem se deixou tomar pelo respeito humano; seu único empenho era de obter um justo pronunciamento. Em vista de sua fácil compreensão, Jesus passa diretamente à aplicação.

Então o Senhor acrescentou: “Ouvi o que diz este juiz iníquo. E Deus não fará justiça aos seus escolhidos, que a Ele clamam dia e noite, e tardará em socorrê-los?”

O contraste é um ótimo instrumento de didática. Jesus se serve das reações de um julgador iníquo face à obstinada insistência da fragilidade feminina, para compará-las às atitudes do Supremo Juiz. Se um homem mau pratica uma boa ação para deixar de ser importunado, quanto mais não fará Deus, a Bondade em essência? Muito diferentemente da parábola, na aplicação trata-se do Verdadeiro Juiz, o qual é a própria Dadivosidade.

Por outro lado, quem pede não é uma importuna viúva, mas sim os escolhidos de Deus. Estes não são indesejáveis. Ao contrário, a eles cabem os títulos de “privilegiados”, “amigos” e “fiéis”. Jesus focaliza de maneira especial os escolhidos, neste versículo. Quem são eles? Aqueles que amam e temem a Deus, seus servidores, os quais vivem no estado de graça, lastimam-se de suas fraquezas e se penitenciam de suas faltas, purificando-se no divino perdão.

“Digo-vos que depressa lhes fará justiça. Mas quando vier o Filho do Homem, porventura encontrará fé sobre a Terra?”

Esta frase causou uma certa dificuldade de interpretação a numerosos exegetas. A essa pergunta feita pelo próprio Jesus: “encontrará fé sobre a Terra?”, não nos deixou Ele resposta alguma. Seus ouvintes devem ter saído pensativos à busca de elementos para melhor entender seu significado, e um tanto estimulados a fazerem um exame de consciência. Erroneamente julgaríamos ser essa pergunta dirigida apenas aos circunstantes. Ela nos atinge também a nós, ao lermos o Evangelho de hoje. Se Jesus viesse a nós na época atual, encontraria Ele fé sobre a face da Terra?

 “Vigiai e orai para que não entreis em tentação” (Mt 26, 41), disse Nosso Senhor. Faltava uma palavra de incentivo à oração. Daí a “parábola para mostrar que importa rezar sempre e não cessar de o fazer”. Esse sempre não significa que devemos rezar a cada segundo das vinte e quatro horas do dia, mas torna-se indispensável manter uma continuidade moral, uma incansável frequência na oração. Também pode ser sinônimo de “vida inteira”. “Não cessar de o fazer”, apesar dos atrasos em ser atendido, enfrentando ou não obstáculos, na saúde ou na enfermidade, na consolação ou na aridez.

Não julguemos tratar-se aqui de um simples conselho de Jesus. Não! É um preceito, uma obrigação, ninguém pode se dispensar da oração. E quanto mais se sobe na vida interior, maior será o dever e constância da prece. (…) conforme determina o Concílio de Trento: “Deus não manda impossíveis; e ao mandar-nos uma coisa, determina-nos fazer o que podemos e pedir-Lhe o que não podemos, bem como ajuda para poder”.

É preciso importuná-Lo! Ele assim o exige. Ainda mais, é preciso ser incessante e fazer-Lhe uma espécie de “pressão moral”, sem nos cansarmos.

A contínua oração dos eleitos, em meio às dificuldades clamando a seu Pai, é infalível! Lembremo-nos do maternal conselho de Maria: “Fazei tudo o que Ele vos disser” (Jo 2, 5). Com essas palavras, Ela nos confirma ainda mais, ao encerrarmos os comentários ao Evangelho de hoje, o quanto é indispensável rezar sempre.

Obras Consultadas:
DIAS, João S. Clá, O Inédito sobre os Evangelho, Libreria Editrice Vaticana
Città del Vaticano, 2012, pag 401 – 413
ORIA, Mons. Angel Herrera, VERBUM VITAE – La Palavra de Cristo, Vol IV, BAC, Madrid, 1954

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28º Domingo do Tempo Comum

13 de Outubro de 2013

O mundo inteiro noticiava e comemorava em 1968 o grande feito do coronel Borman, do major Anders e do capitão Lovell, os famosos tripulantes da Apollo 8. A imprensa já lançava a pergunta “como homenagear tais heróis?”, ou “o mundo tem uma dívida de gratidão para com esses valetes, como pagar?”. A primeira circum-navegação lunar e as inéditas fotos do satélite eram  uma aventura comparada àquela empreendida por Cristóvão Colombo.

A gratidão é uma virtude e, segundo São Bernardo, a ingratidão é um “péssimo vício” que “torna ineficaz a oração”. Ora, se podemos dizer que os militares da Apolo 8 eram credores de uma dívida de gratidão, o que dizer de Deus quando vemos os benefícios que Ele nos oferece? Neste 28º Domingo do Tempo Comum Jesus lamenta a ingratidão daqueles a quem fez um grande favor. É a mesma queixa do Sagrado Corações de Jesus a Santa Margarida Maria Alacoque. “Eis aqui o coração que tanto amou aos homens e, em troca, não recebe deles mais que ingratidão. Aquele samaritano que voltou para agradecer é do grupo dos verdadeiros devotos do Sagrado Coração de Jesus!

Este é o tema da meditação que Mons. João Clá Dias, em seu “Inédito sobre os Evangelhos” nos apresenta para o 28º Domingo do Tempo Comum.

Aconteceu que, caminhando para Jerusalém, Jesus passava entre a Samaria e a Galileia. Quando estava para entrar num povoado, dez leprosos vieram ao seu encontro. Pararam à distância, e gritaram: “Jesus, Mestre, tem compaixão de nós!”

Pelo relato evangélico vemos como esses dez leprosos cumpriam os preceitos legais, no que se refere à sua terrível doença. Por tal motivo não ousaram acercar-se demais de Jesus, e colocando-se a certa distância imploraram a cura, por misericórdia. Eles obedeceram à Lei, sim, mas faltou-lhes fervor para se ajoelharem todos juntos diante de Cristo, que decerto os teria tocado e curado naquele momento, como no episódio antes ocorrido com outro leproso (cf. Mt 8, 2-4; Mc 1, 40-45; Lc 5, 12-16). Este fato nos serve de lição para a vida espiritual: tratando-se do relacionamento com Jesus, devemos agir com plena confiança e intimidade irrestrita, nunca receando recorrer a Ele, por piores que sejam os deslizes morais que nos pesem na consciência.

Ao vê-los, Jesus disse: “Ide apresentar-vos aos sacerdotes”. Enquanto caminhavam, aconteceu que ficaram curados.

Podemos conjecturar que eles saíram em conjunto, experimentando grande consolação interior, pois Nosso Senhor ia criando graças para alimentar em suas almas a fé na própria cura. Entre eles, um mais silencioso pensaria, quiçá, numa lepra pior que a do corpo, que era a do pecado, pois vivia afastado da religião verdadeira… era samaritano. Confiante na cura, cogitava no modo de melhor estar à altura do prodígio de que em breve seria objeto.

Finalmente, durante o percurso, deram-se conta de que a lepra os abandonara e, sem dúvida, prorromperam em gritos de alegria. A gravidade do mal de que se viram livres concorre mais ainda para certificar a grandeza do milagre operado. Apressaram então o passo para obterem quanto antes o atestado de cura.

Um deles, ao perceber que estava curado, voltou glorificando a Deus em alta voz; atirou-se aos pés de Jesus, com o rosto por terra, e lhe agradeceu. E este era um samaritano.

Houve um, entretanto, que ao invés de caminhar rumo ao Templo, resolveu voltar para agradecer a Jesus, cantando as glórias de Deus e manifestando enorme alegria por ter encontrado Alguém em quem se apoiar e a quem seguir. Era aquele que contraíra não só a lepra física, mas também a lepra da alma.

Por cima do preceito legal de certificar a cura, a principal obrigação de todos era agradecer a quem os curara. Quando Nosso Senhor disse “ide apresentar-vos aos sacerdotes”, Ele não os proibiu de exprimir reconhecimento ao benfeitor. Deu-lhes apenas uma recomendação, não querendo ferir o livre-arbítrio dos leprosos por respeitar essa faculdade que nos é oferecida para escolhermos o bem, nem fazê-los perder o mérito que adquiririam pela gratidão.

Todavia, desdenhando a oportunidade, os outros nove resolveram caminhar em rumo contrário ao de Jesus. Mais ainda, nada contradiz a hipótese de que regressaram mais tarde a sua vida normal, esquecendo-se por completo de quem os tinha beneficiado.

 Então Jesus lhe perguntou: “Não foram dez os curados? E os outros nove, onde estão? Não houve quem voltasse para dar glória a Deus, a não ser este estrangeiro?” E disse-lhe: “Levanta-te e vai! Tua fé te salvou”.

Tal ingratidão em relação a Deus quiçá leve ao inferno, já que pode desencadear uma grande quantidade de outros pecados. “O primeiro grau de ingratidão”, ensina São Tomás de Aquino, “é a ausência de retribuição; o segundo é a dissimulação, ou seja, como que escondendo o fato de se ter recebido o benefício; e, finalmente o terceiro e mais grave consiste em não reconhecer o benefício, seja por esquecimento seja por qualquer outro modo”.

É preciso, sobretudo, considerar que, além da lepra física, padeciam eles também de uma lepra moral chamada mundanismo, que os tornava cegos de Deus e fazia com que pusessem sua felicidade no prestígio social. O Mestre os curou da primeira para que pudessem, no momento de voltar e agradecer, serem curados da segunda.

O milagre operado por Nosso Senhor ao curar os dez leprosos, Ele o continua a realizar a todo instante em favor de qualquer pecador que, arrependido, venha a suplicar o seu perdão. Ele exige apenas que seja obedecida a mesma recomendação dada aos leprosos: apresentar-se ao sacerdote. Esta prescrição legal não era senão uma pré-figura da absolvição sacramental, instituída por Nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual nossas almas são purificadas da lepra do pecado.

O Evangelho de hoje sugere-nos uma atualíssima aplicação. Não temos lepra física, porém, nem sempre podemos dizer que estamos isentos da lepra espiritual. E em quantas ocasiões fomos mais beneficiados que os dez leprosos… É preciso, pois, não agir como os nove ingratos, mas imitar o exemplo do samaritano: voltar para agradecer a Nosso Senhor Jesus Cristo por nos ter curado tantas vezes da lepra interior, a começar pela maldição do pecado original, também por Ele abolida.

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Obras Consultadas:
DIAS, João S. Clá, O Inédito sobre os Evangelho, Libreria Editrice Vaticana
Città del Vaticano, 2012, pag 401 – 413
ORIA, Mons. Angel Herrera, VERBUM VITAE – La Palavra de Cristo, BAC, Madrid, 1954

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Cuidado! Buracos na pista

27 de Setembro de 2013

 26º Domingo do tempo comum

Parecia um sonho! Depois anos  um novo caminho, pavimentado e bem mais curto, ligava o distrito ao centro da cidade. Agora eram duas vias, a antiga, um pouco mais longa e ainda calçada de pedras e a nova, já de asfalto. A novidade evidentemente agradou a todos.

Entretanto, bastou chegar o período chuvoso para o sonho terminar. O material era de péssima qualidade e a camada asfáltica começou a desaparecer em meio a grandes buracos e vários carros foram caindo neles. Foi necessário a colocação de avisos como: PERIGO, CUIDADO COM OS BURACOS, etc.

Um motorista que saiu atrasado para um compromisso resolveu arriscar. Resultado, caiu em um grande buraco e de lá não saiu sem um guincho. Outro queria terminar seu serviço antes do horário e voltar logo para casa, não ouviu os avisos e…. caiu em uma cratera. Outra ainda, vindo confiante em suas habilidades de direção levou o carro para o acostamento e não percebeu que esse havia cedido. O carro caiu de um barranco e só foi resgatado pelos bombeiros na manhã seguinte.

XXVI Domingo do Tempo Comum

A história do Rico avarento e do pobre Lázaro é a quinta parábola recolhida por São Lucas. Com ela, Cristo quer nos mostrar alguns buracos em que podemos cair nesta estrada chamada VIDA. E surgem neste evangelho algumas dúvidas.

É pecado ser rico e vestir-se bem?

Não! quem nos dá essa resposta é o Beato João Paulo II:“Foi condenado o rico acaso porque foi rico, porque teve na terra abundantes propriedades, porque ‘se vestia de púrpura e linho fino e vivia os dias regalada e esplendidamente’? Não. Cristo não condena nunca a posse pura e simples dos bens materiais. Mas pronuncia palavras muito severas contra os que usam dos seus bens materiais de modo egoísta, sem atenderem às necessidades dos outros”. João Paulo II, Homilia no Yankee Stadium, Nova Iorque, 2 de Outubro de 1979)

Então podemos dizer que os buracos não são as riquezas ou o luxo, mas o egoísmo e a falta de generosidade e amor ao próximo. CUIDADO!

Bento XVI comenta: “Jesus, na parábola do rico epulão e do pobre Lázaro, apresentou, para nossa advertência, a imagem de uma tal alma devastada pela arrogância e opulência, que criou, ela mesma, um fosso intransponível entre si e o pobre: o fosso do encerramento dentro dos prazeres materiais; o fosso do esquecimento do outro, da incapacidade de amar, que se transforma agora numa sede ardente e já irremediável”. (Bento XVI, Carta Encíclica SPE SALVI)

O Inferno Existe?

Existe! Quem nos explica um pouco mais sobre ele é Mons. João Clá Dias, presidente Geral dos Arautos do Evangelho, em sua obra “O Inédito sobre os Evangelhos”.

“Morreu também o rico, e foi sepultado. Quando estava nos tormentos do inferno, levantando os olhos, viu ao longe Abraão e Lázaro no seu seio”

O rico também morre, pois nem o muito dinheiro nos livra desse fim. Como foi seu juízo particular? Qual a sentença proferida por Deus? Não se ocupa desses detalhes o Evangelho e simplesmente apresenta o rico entre os tormentos do inferno.

A Doutrina Católica nos ensina claramente que o pecado mortal constitui uma ofensa a Deus, irreparável e de suma gravidade. Quem morre na impenitência final, resistindo até o último momento, fixa-se no pecado mortal enquanto desordem permanente, merecendo um castigo também eterno.

Assim se compreende o porquê de ter ido para o inferno aquele rico: morreu na impenitência final de sua grave avareza.

O magistério e a tradição nos ensinam

Assim como em uma estrada com buracos as autoridades colocam avisos para os motoristas, a Igreja também alerta seus filhos.

E, de fato, esse é o empenho dos Santos e do próprio Magistério infalível da Igreja, como declarou em certa ocasião o Bem-aventurado Papa Pio IX: “Pregai muito as grandes verdades da salvação, pregai sobretudo o inferno; nada de meias palavras, dizei, clara e altamente, toda a verdade sobre o inferno. Nada é mais capaz de fazer refletir e de conduzir a Deus os pobres pecadores”

Sobre a eficácia da crença nos fogos eternos, um dos grandes escritores do século XIX, o padre Frederick William Faber, afirmava: “A mais fatal preparação do demônio para a vinda do anticristo é o esmorecimento da crença dos homens no castigo eterno. Se fossem estas as derradeiras palavras por mim a vós dirigidas, lembrai-vos de que nada eu quereria imprimir tão profundamente em vossas almas, nenhum pensamento de fé — após o do Preciosíssimo Sangue — vos seria mais útil e proveitoso do que sobre o castigo eterno”

E se a parábola fosse diferente…

Pode-se perguntar: vai-se para o inferno pelo simples fato de ser rico? No Céu, só entram os mendigos? Toda riqueza é um mal e toda miséria, um bem?

Para maior clareza de análise, invertamos os papéis das duas figuras principais da parábola. Imaginemos o rico cheio de compaixão por Lázaro, a ponto de contratar um médico para curar-lhe as chagas, comprar-lhe os remédios, conseguir-lhe um bom abrigo e proporcionar-lhe deliciosos alimentos.

Por outro lado, suponhamos um Lázaro que teria a alma mais ulcerada do que seu corpo, pois se consumiria de inveja dos bens do rico e, revoltado contra tudo, contra todos e contra o próprio Deus, cobriria de injúrias o seu benfeitor, desejando-lhe a desgraça e até a morte.

Se, nesse estado de alma, morressem ambos, qual seria o destino eterno de cada um? Não há a menor dúvida: Lázaro iria para os “tormentos do inferno” e o rico seria “levado pelos Anjos ao seio de Abraão”.

Quanto precisamos ter sempre presente diante dos nossos olhos esta parábola, a fim de bem sabermos nos servir, sem apego, das riquezas e aceitarmos com paciente resignação as dores, provações e contingências da vida!

Fonte: DIAS, Mons. João Clá, O Inédito sobre os Evangelhos Volume VI, Libreria Editrice Vaticana, Città del Vaticano, 2012, p. 374-387

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