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Uma leprosa envergonhou-me

«Fontilles» de Joseaperez - Trabajo propio. Disponible bajo la licencia GFDL vía Wikimedia Commons - http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Fontilles.JPG#mediaviewer/File:Fontilles.JPG

«Era de tardinha na leprosaria de Fontilles, Espanha. Depois de atender os meus leprosos, saí da enfermaria para espairecer um pouco. E rezar o terço. O meu caminho passava diante da capela. Entrei e ajoelhei-me num dos bancos.

Na penumbra do santuário percebi que lá na frente junto ao presbitério havia alguma coisa, alguma figura que se movia pouco.  Os contornos foram-se definindo e, finalmente, não havia dúvida: era uma mulher ajoelhada e com os braços em cruz.

Aquela cena mexeu comigo, me chamou a atenção e fiquei a olhar aquele espetáculo, sobre o qual todo o céu devia estar debruçado. Os dois braços pareciam terminar em mãos fechadas.

Observando melhor percebi que eram mãos sem dedos! Eram mãos leprosas. E estavam em cruz! Como se a lepra não fosse já uma cruz e a pobre mulher não estivesse já crucificada. De vez em quando, os braços caíam para um breve descanso; depois subiam de novo…

A mulher estava absorta em oração diante do crucificado, alheia ao que se passava em torno de si.

Lembrei-me aí de Moisés no alto do monte a rezar. Só que o velho patriarca tinha dois homens a segurar-lhe os braços, e aquela mulher estava só, crucificada na sua lepra.

Senti uma vontade enorme de trazer o mundo inteiro para dentro daquele pequeno templo. Especialmente o mundo elegante e vazio, que vende a alma ao conforto e à preocupação com o corpo.

Depois da comoção, comecei a sentir vergonha. Vergonha por mim mesmo e pelo mundo, pelos homens e mulheres do meu tempo. Vergonha por ver que nós, pecadores, não fazemos a penitência de que precisamos…»

                                                                                    

                                                                                       Pe. Héber de Lima, S. J.

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Panetone – Conheça a história!

   22 de Dezembro de 2014

     Era noite de Natal, em Milão, governada pelo Duque Ludovico Sforza, famoso por ter uma das mais requintadas cortes da época. Sobretudo sua cozinha era muito renomada. Desde a tarde, suas chaminés exalavam perfumes maravilhosos, que estimulavam o apetite de toda a vizinhança. Desejando fazer uma ceia inesquecível, o cozinheiro-mor decidira preparar uma sobremesa especial: um fabuloso doce cuja receita os venezianos haviam trazido do longínquo Oriente.

    Afanava-se o mestre na elaboração de sua obra-prima e, ao mesmo tempo, orientava e fiscalizava os demais cozinheiros que se dedicavam a aprontar os inúmeros pratos do lauto banquete. Na grande cozinha, todos estavam tomados pela característica alegria do Natal italiano.

    Todos não… Isolado num canto, um jovem ajudante recém-chegado da Lombardia suspirava de saudades da casa paterna, recordando-se das festas natalinas realizadas nos lares camponeses de sua região, pouco favorecidos de recursos econômicos, mas ricos de vida familiar e amor ao maravilhoso.

    Levado por esses sentimentos nostálgicos, resolveu ele preparar um pão especial, como os que eram feitos por sua mãe na véspera de Natal. Não dispondo, porém, de todos os ingredientes necessários, teve de contentar-se com as sobras do material utilizado pelo cozinheiro-mor na elaboração da misteriosa sobremesa.

    Qual seria o resultado? Nem ele mesmo sabia…

    Uma vez iniciada a ceia de Natal, intensificou-se a atividade na cozinha, e o mestre cozinheiro esqueceu no forno o seu belo e misterioso doce… Enorme foi sua consternação ao constatar que ele havia queimado. Seu dourado sonho de um grande sucesso estava transformado na dura realidade de um vexatório fracasso, pois, como preparar em tão pouco tempo outra sobremesa especial? À vista desse desastre, não conseguiu conter algumas lágrimas.

    Tomado de compaixão, o jovem lombardo aproximou-se dele e lhe ofereceu os três grandes bolos que acabava de tirar do forno. Num piscar de olhos, o experiente cozinheiro notou a elegância de sua forma cilíndrica e percebeu que seu delicioso perfume deveria corresponder a um requintado sabor.

    Quem estava à mesa era o Duque Sforza com sua corte, ou seja, os mais exigentes comensais da Itália. Porém, não restava outra saída senão correr o risco. Tomou, pois, a decisão de servir como sobremesa aquela curiosa iguaria. Ele próprio se incumbiu de cortá-los caprichadamente em fatias e dispô- las de forma artística em bandejas de prata.

    Surpreenderam-se o Duque e seus convivas, ao verem aquele exótico bolo enfeitado por frutas cristalizadas e do qual se desprendia um convidativo perfume. Instintivamente, começaram a aplaudir, e num instante seu requintado sabor lhes havia conquistado o paladar. Sucesso completo!

    O Duque mandou vir à sua presença o autor daquela obra maravilhosa. Para surpresa de todos, não apareceu o afamado mestre, mas um tímido ajudante de cozinha.

    – Qual é teu nome? – Eu me chamo Toni…

    – Ora, então este é o Pane Toni! (o Pão do Toni).

    Deste modo, o Duque Ludovico Sforza batizou aquele curioso pão doce com o nome de Toni, seu criador. E determinou-lhe que preparasse outros iguais, em maior quantidade, no Natal do ano seguinte. Assim nasceu o panetone, por obra do acaso, aliás, como tantas maravilhas da arte culinária.

    Em pouco tempo, o “Pão do Toni” conquistou os lares italianos, e se espalhou pelo mundo inteiro, a ponto de ficar indissociavelmente ligado às festas natalinas.

Fonte: Revista Arautos do Evangelho, Dez/2002 e Dez/2004, n. 12 e n. 36

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Em meio a guerra, nasce a Reconciliação

   19 de Dezembro de 2014

    Estamos acostumados a participar das comemorações de Natal junto a nossa família, em casa, ou mesmo no colégio, entre amigos, conhecidos; enfim, sempre com a mesa repleta de doces e pratos deliciosos. Temos junto a nós a famosa Árvore de Natal, toda enfeitada com bolinhas coloridas, presentes e os cânticos natalinos que nos prepara para o Nascimento do Menino Jesus. Mas nem sempre as coisas são como nós queremos.

   Acompanhemos, então, uma impressionante história transcorrida no século passado, onde o próprio Salvador do mundo nasceu nos corações dos mais irreconciliáveis inimigos.

24 de dezembro de 1914. Primeira Guerra Mundial.

    No “front”, a batalha é intensa e entra noite adentro. Bombas estrondosas e destruidoras, tiros ensurdecedores e constantes, brados de guerra… Inesperadamente, as fileiras alemãs cessam de atirar. Surpresos os franceses fazem o mesmo. O silêncio cai sobre as trincheiras e os suaves flocos de neve vão caindo lentamente sobre os exaustos exér­citos.

            De repente, surgem tochas no campo alemão. Os soldados que as levam caminham em passo lento. O fogo dança lançando reflexos sobre a neve. Indecisos e perplexos, os franceses deixam o inimigo aproximar-se. Já estão a poucos passos… Mas nada há que recear. Num relance, os franceses entendem tudo: as alemãs cantam “Noite Feliz”; é Natal!

*    *    *

            Reunidos sob o bosque de pinheiros, aqueles homens que instantes atrás haviam dado provas de bravura recordam agora seus antigos natais do tempo de menino. Alguns lembram São Nicolau, o legendário bispo que enchia a imaginação das crianças…

            Alguns soldados alemãs evocam suas aldeiazinhas montanhosas, cobertas de neve. No dia 6 de dezembro, as famílias se reuniam a noite. Era dia de são Nicolau, que prenunciava as alegrias natalinas. Bolos, doces, frutas perfumadas cobriam a mesa. grandes candelabros iluminavam a sala a luz de velas. Ao Lado do presépio, perto da lareira, brilhava uma linda arvore de natal. o ambiente era  de recolhimento , de alegria séria e discreta, mas profunda. Fora, a neve caía lentamente, em flocos.

            Em certo momento, o rosto das crianças se iluminava. Ouviam bimbalhar ao longe os sininhos, com o tropel de animais em marcha. Corriam à janela, encostando o narizinho na vidraça. Na curva do caminho, surgia o trenó dourado, puxado por quatro renas de chifres longos, com seus galhos. Sentado pomposamente, vinha o bispo de barbas brancas: era São Nicolau!

            Paramentado, ele trazia na mão direita um báculo de ouro lavrado; na esquerda, um grande livro, encadernado em fino couro, com bordaduras douradas e pedras preciosas. Seu criado conduzia o trenó, tendo ao lado um saco repleto até os bordos e um grande bordão.

            Chegando à casa, São Nicolau mandava parar o trenó. O criado tomava o saco e o bordão, enquanto o dono da casa ia abrir a porta cheio de alegria, com respeito e veneração. A alta estatura do Prelado, sua longa barba, a mitra e o báculo, tudo isso lhe conferia um ar de solenidade que se misturava a afabilidade da fisionomia e a doçura do olhar. Ele sorria para as crianças e saudava os da casa. Erguia depois solenemente a mão abençoando a todos com o Sinal da Cruz.

            O Ancião dirigia-se depois às crianças, com ternura. A uma pedia que cantasse uma canção de natal. A outra, que recitasse uma poesia. A uma terceira que rezasse uma oração.

            E as crianças, inocentes e maravilhadas, piamente acreditavam que aquele São Nicolau e seus criados haviam descido do céu…

            O respeitável visitante abria então o grande “livro de ouro”, onde estava registrado o comportamento das crianças durante o ano. Após consultá-lo, o Bispo chamava uma por uma, dando-lhes bolos, doces, bombons e frutas como presente. Ou melhor, isto era para as bem-comportadas… a outras, ele sentava-as no joelho e, em tom afável, mas sério, repreendia o mau comportamento. E fazia prometerem emendar-se. Caso contrário… no próximo ano mandaria o criado aplicar-lhes o bordão! Àquelas especialmente insubordinadas ameaçava levá-las no grande saco… O efeito era altamente salutar.

            Assim ia são Nicolau de casa em casa, dando bons conselhos, presentes e também reprimentas paternais. Em alguns lugares, apenas deixava presentes nos sapatos das crianças, colocados do lado de fora das janelas. E a ninguém o bom ancião esquecia!

*    *    *

        Depois destas recordações, os soldados franceses e alemães viam a noite caminhar para o seu fim. Comovidos, despediram-se, e o mesmo cortejo se formou, com os alemães partindo ao som da “Stille Nacht” – “Noite Feliz”. No campo de batalha, restavam as marcas de seus passos sobre a neve, e aos poucos o som daquela maravilhosa canção desaparecia, dando lugar ao profundo silêncio da madrugada.

 *    *    *

    Caro leitor, estamos nos aproximando do Natal! Será que não temos também nós alguma rivalidade, briguinha ou queixa contra o próximo? Eis agora uma grande oportunidade de nos reconciliarmos com ele e juntos aguardamos a vinda do Menino Jesus que novamente nascerá nos corações de todos os homens de boa vontade.

Por Caio V.  In: Agência Boa Imprensa – ABIM – 22/81

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O porquê da Árvore de Natal!

    Ever green, sapin, tannenbaum, árbol de Navidad,… Chamem-na como for, a árvore de  natal nunca deixou de ser uma das decorações mais atraentes nas comemorações natalinas. Verdejante, apinhada de simpáticas luzinhas, sua vitalidade e variedade constituem o encanto e alegria dos pequenos, não só de idade, mas também de coração.

    Onde quer que vamos neste tempo natalino, sempre encontraremos as mais variadas arvores de Natal. Contudo, será que conhecemos sua verdadeira origem?

    Os bárbaros invadiram a Europa central no longínquo século sétimo. Mais especificamente, no sul da Saxônia habitavam os frisões (entre a atual Bélgica e Weser, em frente à Inglaterra). Suas crenças, todas pagãs, eram muito arraigadas e, às vezes, anteriores à própria vinda do Salvador.

    Certo dia, um monge beneditino de origem anglo-saxônica, tocado pela graça, sentiu o desejo de evangelizar essas inóspitas regiões. Seu nome era Wilfrido de York (634-709). No início da sua missão, instalou-se num lugar onde os habitantes, curiosamente, cultuavam o carvalho, muito frequente por aquelas florestas. Segundo diziam, este era possuído por espíritos, os quais o conservavam verde durante o inverno. E estas mesmas divindades promoviam o retorno da primavera e do verão. Temerosos, os frisões realizavam diversos rituais durante o mês de Dezembro, em torno das gigantescas árvores, afim de que não deixassem de exercer a sua indispensável função.

    São Wilfrido deparou-se com um difícil obstáculo: desmentir essa convicção pagã. Para isso dispôs-se a demonstrar-lhes a falsidade de tal imaginação; reuniu todos aqueles bárbaros com o intuito de cortar um daqueles velhos carvalhos. Ao acertarem os primeiros golpes, irrompeu uma terrível tempestade, deixando-os a todos muito apavorados. O Santo apressou o serviço dos lenhadores e, em meio a cambaleadas, a gigantesca árvore precipitou-se por terra! Um silêncio cortante tomou conta dos presentes e, de súbito, um raio fulminante partiu em pedaços o carvalho, coincidindo com a sua batida no chão. Ao verem o seu mito cair por terra, a desilusão contribuiu para efetuar a conversão daquelas almas.

    Porém, passou-se algo de muito curioso… Havia, a poucos centímetros da carbonizada árvore, um pinheirinho, o qual de modo inacreditável fora conservado intacto no meio de tamanha destruição. Seria isto um sinal? Era o dia 25 de Dezembro. São Wilfrido percebeu nesse fato um simbolismo muito belo: Deus protege a fragilidade e a inocência! Em seu sermão à noite, relacionou poeticamente a imagem da pequenina árvore com a Natividade do Senhor e, desta maneira, o pinheirinho passou a ser, a partir daquele dia, o símbolo do Menino Jesus, mais utilizado.

    Um discípulo deste Santo missionário teve de enfrentar, também, dificuldades semelhantes ao evangelizar a futura Alemanha: tratava-se de São Bonifácio (673- 754). Em Geismar de Hessen, centro muito concorrido de rituais pagãos, cultuava-se um grande carvalho chamado Odin, o qual era consagrado ao deus Donar. Realizavam-se ao seu redor práticas supersticiosas, principalmente na época hibernal, porque atribuíam a esse deus ser responsável pelos terríveis vendavais e tempestades, muito frequentes durante esse período.

     Uma vez convertidos, os germanos foram desassociando o caráter pagão da crença e relacionando a figura da árvore com passagens da Sagrada Escritura, como esta do Profeta Isaías: “A glória do Líbano virá a ti, a faia e o buxo, e juntamente o pinheiro servirão para adornar o lugar do meu santuário” (60, 13). Assim sendo, começou a se divulgar nas imediações da Germânia o uso do pinheiro nas comemorações do nascimento do Senhor.

* * *

     Contudo, qual é o significado das inúmeras esferas, bastões, cones etc. que preenchem as   suas ramagens?

    No decorrer dos séculos, foram se acrescentando bonitos enfeites ao pinheiro. Sua simbologia refere-se à imagem do segundo Adão, Cristo nosso Salvador (cf. 1 Co 15, 21-22, 45), o qual nos trouxe de volta os frutos perdidos pelo nosso primeiro pai, ao ter comido da árvore proibida (cf. Gn 2, 9; 3, 6). Por esta razão, esses belos atavios representam os preciosos e superabundantes frutos nascidos da Santa Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, verdadeira Árvore da Vida.

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