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Conselhos e Lembranças – II

Continuamos nossa “Semana Teresiana” onde – a cada dia – deixamos aos leitores um desses Conselhos e Lembranças que algumas noviças registraram de seu convívio com Santa Teresinha do Menino Jesus.

Sobre a Humildade

“É preciso, sobretudo, dizia-me, ser humilde de coração. Não o sereis enquanto não quiserdes sujeitar-vos a todo mundo. Se as coisas correm bem, estais de bom humor, mas assim que não concordam com vosso modo de pensar, vosso rosto reflete tristeza. Isto não é virtude. A virtude ‘é submeter-se humildemente a todos (Imitação de Cristo)’, é alegrar-se por ser censurada. No começo de vossos esforços, a contrariedade aparecerá no exterior e as criaturas vos julgarão, por isso, imperfeitas. Mas tanto melhor! Praticareis assim a humildade que consiste não em pensar e dizer que estais cheia de defeitos, mas em ficardes contente de que os outros o pensem e mesmo o digam.”

“Deveríamos nos alegrar muito quando o próximo nos deprecia algumas vezes, pois se ninguém tivesse esse trabalho, o que seria de nós? É o nosso lucrozinho…”

“Quero aceitar as observações quando são justas, dizia-lhe eu. Desde que errei, aceito-as, mas não posso suportar as repreensões se não tenho culpa.” – Quanto a mim (respondeu a santa), bem ao contrário, prefiro ser acusada injustamente porque então não tenho nada que me reprovar. Ofereço isso a Nosso Senhor com alegria, em seguida, humilho-me pensando que seria bem capaz de cometer a falta de que me acusam.”

‘“Parece-me – confessava ela simplesmente – que a humildade é a verdade. Eu não sei se sou humilde, mas sei que vejo a verdade em todas as coisas”

Nas instruções particulares que fazia a cada uma de suas noviças, falava sempre sobre a humildade. O essencial em sua formação era ensinar-nos a não nos afligirmos diante de nossa própria fraqueza, mas antes a gloriarmo-nos em nossas enfermidades! É tão doce sentir-se fraca e pequena!” dizia.

Numa circunstância em que a Irmã Teresa do Menino Jesus apontava todos os meus defeitos, fiquei triste e um pouco desorientada. “Eu que desejo tanto possuir a virtude, pensava, eis-me longe, quereria tanto ser mansa, paciente, humilde, caridosa, ah! nunca chegarei a isso!..” Entretanto à tarde, na oração, li que exprimindo Santa Gertrudes este mesmo desejo, Nosso Senhor lhe responderá: “Em todas as coisas e acima de tudo, tem boa vontade, esta única disposição dará a tua alma o brilho e o mérito especial de todas as virtudes. Quem tem boa vontade, desejo sincero de procurar minha glória, de me dar graças, de compadecer de meus sofrimentos, de amar-me e de servir-me tanto quanto todas as criaturas juntas, este receberá indubitavelmente recompensas dignas de minha liberalidade e seu desejo ser-lhe-á algumas vezes mais proveitoso  do que para outros, as boas obras”.

Muito contente com essa boa palavra, a meu favor, participei à minha querida Mestrazinha que triunfante acrescentou: “Lestes o que se conta na vida do Padre Surin? Ele fazia um exorcismo e os demônios disseram-lhe: “Não conseguimos nada, é só a este cão da BOA VONTADE que não podemos nunca resistir!” Pois bem! se não tendes virtudes, tendes um “cãozinho” que vos salvará de todos os perigos; consolai-vos, ele vos conduzirá ao Paraíso! Ah! qual é a alma que não deseja possuir virtudes! É a via comum! Mas como são pouco numerosas as que aceitam cair, serem fracas, as que estão contentes ao verem-se por terra e aí serem surpreendidas pelos outros!”

Fonte: “Conselhos e Lembranças”, recolhidos por Irmã Genoveva da Santa Face, Irmã e Noviça de Santa Teresa do Menino Jesus, e traduzidos pelas carmelitas descalças do mosteiro do Imaculado Coração de Maria e Santa Teresinha – Cotia – São Paulo – 1955, pág 39-41

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Conselhos e Lembranças – I

A Irmã Genoveva da Santa Face (Celina, irmã de Santa Teresinha) – com o intuito de enriquecer ainda mais o processo de canonização da Santa de Lisieux recolheu inúmeros depoimentos de noviças que a conheceram. Este conjunto de narrativas, várias vezes, aparece em edições de “História de uma Alma” em forma de apêndice.

Iniciamos hoje uma “Semana Teresiana” onde – a cada dia – deixaremos ao leitor um desses “Conselhos e Lembranças”.

Sobre a Oração

Toda sua vida passou-a na pura fé. Não havia alma menos consolada na oração. Confiou-me que passava sete anos na aridez: seus retiros anuais, os retiros do mês eram-lhe um suplício. Entretanto, tê-la-iam julgado inundada de consolações espirituais, tão grande era a unção de suas palavras e de seus escritos, tão unida a Deus estava ela!

Apesar desse estado de secura, era ainda mais assídua à oração, “satisfeita de dar mais ao bom Deus por esse meio”. Não suportava que se roubasse um só instante a esse santo exercício e formava suas noviças nesse sentido. Um dia em que a Comunidade estava ocupada na lavagem de roupa, soou o sino para a oração e foi ainda preciso continuar o trabalho. Irmã Tereza que me observava trabalhando com ardor, perguntou: “Que estais fazendo? – Eu lavo, respondi. – Está bem, mas interiormente, deveis fazer oração, este tempo é do bom Deus, não temos direito de tomá-lo.”

A união de Irmã Teresa com Deus era simples e natural, bem como sua maneira de falar Dele. Perguntando-lhe se perdia as vezes a presença de Deus, respondeu-me simplesmente: “Oh! não, creio que nunca fiquei três minutos sem pensar em Deus.” Mostrei-me admirada por ser possível uma tal aplicação. “Pensa-se naturalmente em quem se ama”, replicou.

No princípio de sua vida religiosa, quando eu estava ainda no mundo, aconselhou-me a comprar a obra de Mons. Ségur sobre nossas “Grandezas” em Jesus. Contudo, se meditava suas “grandezas” em Jesus, era o conhecimento de sua “pequenez” que gostava sobretudo de aprofundar, a ponto de confessar “preferir as luzes sobre seu nada às luzes sobre a fé.”

Nessa época e mesmo mais tarde ela saboreava particularmente as obras de São João da Cruz. Quando juntei-me a ela no Mosteiro, fui testemunha de seu entusiasmo diante do gráfico de nosso Santo Pai, na “Subida do Monte Carmelo”; deteve-se e fez-me notar o parágrafo seguinte: “Aqui não há mais caminho, porque não há lei para o justo”. Então, emocionada, faltava-lhe a respiração ao traduzir sua felicidade. Esta palavra auxiliou-me muito a fazer-se independente nas explorações do puro amor taxadas por muitos de presunção. Excitou sua ousadia em procurar atingir uma via completamente nova, a da Infância espiritual, que deixa de ser uma via, tão reta e curta ela é, atingindo de um só jato o Coração de Deus. Creio que todas as suas orações visavam unicamente esta procura da “ciência do amor.”

Sobre a recitação do Ofício Divino

Sua atitude no coro, tão modesta e recolhida, edificava-me a ponto de lhe perguntar em que pensava durante a recitação do Ofício divino. Respondeu-me que “não tinha método fixo; imaginava-se muitas vezes sobre um rochedo diante da imensidão, e lá sozinha com Jesus, tendo a terra a seus pés, esquecia todas as criaturas e repetia-Lhe seu amor, com palavras que não compreendia, é verdade, mas que lhe bastava saber que isso dava prazer a Jesus”.

Gostava de ser hebdomadária (A religiosa designada cada semana para desempenhar na recitação coral do Ofício divino o papel do sacerdote oficiante), para dizer em voz alta a Oração como os sacerdotes na Missa.

Em seu leito de morte deu este testemunho: “Creio que não é possível ter maior desejo do que tive, de rezar bem o Ofício e de não cometer faltas em sua recitação”.

Fonte: “Conselhos e Lembranças”, recolhidos por Irmã Genoveva da Santa Face, Irmã e Noviça de Santa Teresa do Menino Jesus, e traduzidos pelas carmelitas descalças do Mosteiro do Imaculado Coração de Maria e Santa Teresinha – Cotia – São Paulo – 1955, pg 90-91

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No coração da Igreja serei o amor

01 de Outubro de 2013

Memória de Santa Teresinha do Meninos Jesus

Será que o caro leitor já se perguntou qual é o seu papel dentro da Igreja de Jesus Cristo? Temos o dever de salvar nossas almas e porque não a de outrem? Todos nós fomos chamados a desempenhar um papel dentro da Igreja que, certamente, não poderá ser realizado por outro…

Ao iniciarmos o mês de outubro nos deparamos com a memória daquela que prometeu uma chuva de rosas, santa Teresinha do Menino Jesus.

Caro leitor, deixemo-nos inebriar pela belíssima história da carmelita de Lisieux que procurava seu lugar dentro da Igreja, até que um dia,…  encontrou a resposta para esta dúvida que tanto lhe perturbava.

 *      *     *

Meus imensos desejos me eram um autêntico martírio. Fui, então, às cartas de São Paulo a ver se encontrava uma resposta. Meus olhos caíram por acaso nos capítulos doze e treze da Primeira Carta aos Coríntios. No primeiro destes, li que todos não podem ser ao mesmo tempo apóstolos, profetas, doutores, e que a Igreja consta de vários membros; os olhos não podem ser mãos ao mesmo tempo. Resposta clara, sem dúvida, mas não capaz de satisfazer meu desejo e dar-me a paz.

Perseverei na leitura sem desanimar e encontrei esta frase sublime: Aspirai aos melhores carismas. E vos indico um caminho ainda mais excelente (1Cor 12,31). O Apóstolo esclarece que os melhores carismas nada são sem a caridade, e esta caridade é o caminho mais excelente que leva com segurança a Deus. Achara enfim o repouso.

Ao considerar o Corpo místico da Igreja, não me encontrara em nenhum dos membros enumerados por São Paulo, mas, ao contrário, desejava ver-me em todos eles. A caridade deu-me o eixo de minha vocação. Compreendi que a Igreja tem um corpo formado de vários membros e neste corpo não pode faltar o membro necessário e o mais nobre: entendi que a Igreja tem um coração e este coração está inflamado de amor. Compreendi que os membros da Igreja são impelidos a agir por um único amor, de forma que, extinto este, os apóstolos não mais anunciariam o Evangelho, os mártires não mais derramariam o sangue. Percebi e reconheci que o amor encerra em si todas as vocações, que o amor é tudo, abraça todos os tempos e lugares, numa palavra, o amor é eterno.

Então, delirante de alegria, exclamei: Ó Jesus, meu amor, encontrei afinal minha vocação: minha vocação é o amor. Sim, encontrei o meu lugar na Igreja, tu me deste este lugar, meu Deus. No coração da Igreja, minha mãe, eu serei o amor e desse modo serei tudo, e meu desejo se realizará.

Da Autobiografia de Santa Teresa do Menino  Jesus, virgem

(Manuscrits autobiographiques,  Lisieux1957,227-229)

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O vagabundo de Deus!

16 de Setembro de 2013

Em meio à neve, ouviu-se mais um tiro. Os trabalhadores param um instante, alguns homens tiram o chapéu e baixam a cabeça. De repente, ouvem um grito: “Ao trabalho!” Era mais um prisioneiro que morria nos trabalhos forçados.

Nos setenta anos que durou o regime comunista soviético (1917-1991), a Igreja daquela imensa região foi forçada a viver na clandestinidade, recordando o período das catacumbas.  Após a Segunda Grande Guerra, o regime comunista deportou muitos alemães que habitavam na região do Mar Negro e nas proximidades do rio Volga, levando-os a pequenos e miseráveis conjuntos de cabanas localizados nos montes Urais. Ali acabavam sua vida em meio aos trabalhos forçados.

De tempos em tempos, um homem surgia no acampamento, maltrapilho, com sacos na mão. Batia na porta de uma das barracas e aparentemente pedia comida. Algumas famílias o faziam entrar, outras o despediam logo após uma conversa. Curiosamente corria na rua o comentário: “O vagabundo de Deus chegou”.

Era o Padre Alexij Saritski, sacerdote ucraniano greco-católico. Vindo secretamente da cidade de Karaganda, no Cazaquistão, onde cumpria seu exílio, tinha em seu coração um único objetivo: levar o maior número de fiéis a receberem a Sagrada Comunhão. Para isso passava noites em claro atendendo – em segredo – os católicos que desejavam confessar-se para assim poderem comungar na Missa da manhã seguinte. Tal era o zelo de Pe. Alexij que seus fiéis chegavam a dizer: “Padre, o senhor precisa comer e descansar um pouco”. O sacerdote então respondia: “Não posso, porque os guardas podem descobrir-me de uma hora para outra, e muitas pessoas ficariam sem comungar por não terem confessado.”

Pe. Alexij Saritski

Noite adentro o bom sacerdote atendeu os penitentes e logo em seguida iniciou a celebração da Santa Missa. De súbito, ouviu-se o alerta de que a polícia estava chegando. Uma fiel, Maria Schneider, rapidamente saiu com o Pe. Saritski escondendo-o em um quarto. Maria então trouxe algo para o sacerdote comer e disse: “Agora o senhor poderá comer e descansar um pouco. À noite, fugiremos para uma cidade próxima”. Pe. Alexij estava com o semblante triste. Pensava em seu rebanho que, embora houvesse confessado, não tivera a oportunidade de comungar. A fiel então o consolou dizendo que todos de muito boa vontade fariam uma Comunhão espiritual, na esperança do retorno do sacerdote que traria – esperavam em breve – a Comunhão sacramental.

À noite, Maria Schineider deixou seus dois filhos com sua mãe e juntamente com Pulcheria Kock (tia de seu marido) fugiram com Pe. Saritski. Uma caminhada de doze quilômetros atravessando o bosque coberto de neve em uma temperatura de 30 graus abaixo de zero. Chegando à estação, compraram os bilhetes e ficaram na sala de espera, aguardando a chegada do trem. De repente, entra um guarda na sala e vai em direção ao sacerdote. E pergunta: “Aonde o senhor vai?”. Assustado, o padre não consegue responder nada. Foi Maria quem respondeu: “Este é um amigo nosso, estamos com ele, aqui está seu bilhete”. O soldado pegou o bilhete e disse: “Por favor, não entre no último vagão, porque será desatrelado do trem na primeira estação. Boa viagem”. Assim, despediu-se o Pe. Saritski, prometendo regressar o quanto antes para celebrar e ministrar a Comunhão a todos.

O povo de Krasnokansk teria de aguardar um ano até que o “vagabundo de Deus” pudesse retornar e celebrar. Após a Missa, Maria Schneider fez-lhe um ousado pedido: “Padre, o senhor poderia deixar-nos uma hóstia consagrada? Minha mãe está muito doente e gostaria muito de comungar antes de morrer”. O pedido foi atendido, e a filha pode administrar com o maior respeito a Sagrada Comunhão a sua mãe, usando luvas brancas e uma pequena pinça.

Mais tarde, em 1962, a família mudou-se para o Quirguistão. E Pe. Alexij as visitou secretamente celebrando Missa em sua casa, deixando uma hóstia consagrada com as senhoras para que, durante a adoração ao Santíssimo Sacramento, pudessem cumprir a devoção das nove primeiras sextas feiras do mês, em honra ao Sagrado Coração de Jesus. Eram convidadas pessoas de inteira confiança para estas adorações clandestinas. Ao fim dos nove meses, Pulcheria comungou a sagrada espécie e as demais senhoras comungaram espiritualmente. Este foi o alimento espiritual que sustentou na Fé não só aquelas mulheres, mas seus filhos e as gerações seguintes.

Em abril de 1962, Pe. Alexij Saritski foi preso e levado ao campo de concentração de Dolinks, próximo a Karaganda. Após muitos maus tratos e humilhações, o bem aventurado recebeu a coroa do martírio no dia 30 de outubro de 1963, sendo beatificado em 2001 por João Paulo II.

           Estes fatos, que narram intensa devoção eucarística e profundo desejo do pastor em santificar seu rebanho, foram escritos pelo filho de Maria Schineider, Dom Athanasius Schneider, bispo auxiliar de Karaganda, no Cazaquistão, em seu livro “Dominus Est – Riflessioni di um vescovo dell’Asia Centrale sulla Sacra Comunione” editato pela Libreria Editrice Vaticana em 2008.

Por VDias

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