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Um perfume de Natal no ar

03 de Dezembro de 2013

Aproximando-se as festas de fim de ano, as casas já começam a ser adornadas com arvorezinhas, quase todas artificiais, cheias de bolas e enfeites coloridos, as lojas se preparam para vender mais, os funcionários fazem horas extras, contrata-se alguém para vestir-se de Papai Noel, e todo mundo fica à espera do “décimo terceiro” para a ceia e para os presentes, ou para as viagens. Todos se preparam para viver esses dias de feriado, de festas e de gozo.

Mas foi sempre assim, tão reduzida aos seus aspectos “materialistas”, a época do Natal? Lembram-se hoje as pessoas d’Aquele de quem celebramos o nascimento?

*   *   *

Tempo houve em que os dias que antecediam o esperado 25 de dezembro traziam um perfume sobrenatural no ar. Bem antes, a alegria dominava os corações. A cidade se enfeitava mais, armavam-se árvores e compravam-se os ingredientes para as deliciosas ceias. Os adultos saíam misteriosamente à rua, voltavam carregados de pacotes e os pequenos não se davam conta de nada… ou pelo menos sentiam gosto em parecer que nada percebiam! Nem sempre os presentes eram caros, mas dados com todo o afeto! Dominava a tudo a figura do menino Jesus.

O presépio

Ao lado dos pinheirinhos, às vezes tão altos que chegavam ao teto da casa, o presépio nunca podia faltar. Buscava-se musgo nos campos ou nos mercados, plantava-se arroz em pequenos vasinhos no dia 8 de dezembro, festa da Imaculada, para que no dia 24 estivesse bem crescidinho, tudo feito para dar o ar mais real possível à gruta de Belém, onde ia nascer o Salvador. A manjedoura vazia só ia ser ocupada na madrugada do dia 25, quando nascesse o nosso Redentor. Os Magos, ao longo dos dias, iam percorrendo o caminho, seguindo a estrela que os guiava, e só chegavam na santa gruta no dia 6 de janeiro, como narram as mais antigas tradições.

O dia 24 de dezembro já amanhecia completamente diferente. A par do agradável cheiro de pão-de-mel, de chocolate e do peru, que era assado devagar, um ambiente de santa alegria pairava sobre toda a cidade. As roupas novas eram cuidadosamente preparadas. Por volta das cinco ou seis horas da tarde, o movimento das ruas começava a cair. Nas casas todas as lâmpadas eram acesas, as árvores de Natal coruscavam com suas luzinhas coloridas. A noite ia chegando e as pessoas preparavam-se para a Missa. Às dez horas as igrejas começavam a abrir-se e muita gente ia chegando. As senhoras rezavam ou às vezes cochichavam entre si, os homens bocejavam, e as crianças esperavam ansiosas a entrada do Menino Jesus, que seria levado pelo sacerdote para completar o belo presépio, com a manjedoura ainda vazia.

A bela imagem do Menino Jesus

Ouvia-se um bimbalhar de sinos, os cânticos enchiam a igreja dos sons daquela noite feliz. Nasceu o Menino Jesus! O Padre entrava com uma encantadora imagenzinha de nosso Deus feito menino e a depositava no presépio. Vários fiéis acorriam ali para venerá-la. Começava a Missa, e o Natal chegava a seu auge na hora da Consagração e da Comunhão. Terminada a Eucaristia, muitas famílias compartilhavam uma deliciosa ceia noite afora, celebrando tão excelso aniversário. Outras preferiam comemorá-lo com um suculento almoço no dia seguinte.

Mas o que era comum em todas as casas era ver as crianças, já no dia 25, brincando e desfrutando de seus novos presentes, contentes por ver que o Menino Jesus trouxe a alegria da salvação e os premiou por seu bom comportamento.

Muitas famílias visitavam-se para pessoalmente cumprimentar seus amigos e parentes, desejando-lhes os melhores votos de um Santo Natal, repleto das bênçãos de Deus. Era de fato um tempo de paz em que a fé estava presente e reinava a harmonia entre as pessoas.

Perdeu-se este sentido verdadeiro do Natal? O consumismo, o desejo do gozo da vida e a preocupação apenas com o que é terreno terão conseguido apagar inteiramente nas almas o espírito natalino? Continuará o Natal a ser celebrado sem ter em conta que esta é a festa do nascimento do Menino Jesus, que se encarnou e nasceu de Maria Virgem para nos abrir as portas do céu? Não mais retornarão as inocentes alegrias das festas natalinas de outrora?

Difícil é responder positivamente a essas questões. Mas lembrando-nos do poder da Graça divina, resta-nos a esperança da restauração dessa alegria sobrenatural.

Quiçá, ao celebrar o décimo terceiro Natal do milênio, nosso leitor se sinta inspirado a orar para que volte essa atmosfera de inocência e que esse perfume de espírito cristão impregne novamente os lares. Não apenas o perfume de tempos passados, mas o de uma nova era que se aproxima, era do triunfo do Imaculado Coração de Maria, que fará desta festa uma verdadeira “Noite Feliz”…

Por Juliane Campos In: Revista Arautos do Evangelho nº12, Dezembro, 2002.

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Conselhos e Lembranças – IV

 

 

Sobre a Morte

A morte ensina a não fazer caso de muitas coisas

Nossa querida Santinha longe de atemorizar-se com o pensamento da morte, procurava tirar lições úteis de que nos fazia aproveitar. Disse-nos um dia: “quando eu estiver morta – um cadáver – guardarei o silêncio, não darei conselho algum; se me puserem à direita ou à esquerda, não farei um movimento. Dirão: fica melhor deste lado, poderão até por fogo junto de mim, nada direi. Como esse pensamento nos ajuda a desapegar-nos das coisinhas que nos perturbam, de tudo o que não devemos fazer caso!”

Alegre serenidade perante a morte

Alegrava-se com a morte e seguia com prazer os preparativos que teriam desejado ocultar-lhe. Quis ver a caixa de lírios artificiais que acabara de chegar, destinados a ornar seu leito mortuário e disse com alegria: “É para mim!” Mal podia acreditar, tão grande era seu contentamento!

Num do últimos dias, à tarde, receando que não passasse a noite, preparavam no cômodo contíguo à enfermaria, uma vela benta, a caldeirinha e o hissope. Ela desconfiou do que se tratava e pediu que colocassem esses objetos à sua vista. Olhava-os de vez em quando com expressão de complacência e disse-nos amavelmente:

“Vede esse vela? Quando o ‘Ladrão’ (Mt 24, 43, Lc 12,39) me arrebatar, será colocada em minhas mãos. Mas não é preciso dar-me o castiçal. É muito feio!” Depois revelava-nos tudo o que se passaria após sua morte. Descrevia com satisfação todos os detalhes do sepultamento e, em termos tais, que nos fazia sorrir quando quereríamos chorar. Não éramos nós que a encorajávamos, e sim, ela que nos alentava!

Pouco lhe importa seu túmulo

Era indiferente a toda preocupação humana. Pouco antes de sua morte discutia-se diante dela a compra de um novo terreno no cemitério de Lisieux para nossas Irmãs falecidas. Disse-me graciosamente: “Pouco me importa o lugar; que seja aqui ou ali, que diferença há? Muitos missionários estão no estômago de antropófagos e os mártires tinham como cemitério os corpos dos animais ferozes.”

Últimos colóquios de Santa Teresa do Menino Jesus com Irmã Genoveva da Santa Face

Consignei as palavras que me foram dirigidas pessoalmente por Santa Teresa do Menino Jesus, durante os últimos meses de sua vida. Se houver alguma ligeira variante em relação aos textos recolhidos por Madre Inês de Jesus, não é para se admirar mais, do que das divergências dos Evangelistas, contando o mesmo fato.

3 de Julho – O leite fazia-lhe mal e como nessa ocasião, não pudesse tomar outro alimento, o Dr. de Cornière indicara uma espécie de leite condensado que se comprava na farmácia com o nome de “leite maternizado”. Por diversas razões, essa determinação a fez sofre e quando as garrafas chegaram, chorou copiosamente. À tarde, sentindo necessidade de sair de si mesma, disse-me com ar doce e tristonho:

“Tenho necessidade de um alimento para minha alma; lede-me uma Vida de Santo.”

– Quereis a de São Francisco de Assis? Distrair-vos-á, quando fala dos passarinhos.

Retornou gravemente: “Não é para distrair-me, mas para ver exemplos de humildade.”

Fonte: “Conselhos e Lembranças”, recolhidos por Irmã Genoveva da Santa Face, Irmã e Noviça de Santa Teresa do Menino Jesus, e traduzidos pelas carmelitas descalças do Mosteiro do Imaculado Coração de Maria e Santa Teresinha – Cotia – São Paulo – 1955, pag 187-188, 190

 

 

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