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Meu irmão, quem quer que sejas….

Deus me adotou como filho

   Deus quer a nossa santidade. Ele a quer porque nos ama infinitamente e nós devemos querê-la com Ele. Deus quer tornar-nos santos, fazendo-nos participar da sua própria Vida; e, para isso, nos adota como filhos seus e herdeiros de sua glória infinita. Mas Deus nos dá esta adoção através de seu Filho, Jesus Cristo: é n’Ele e por Ele que Deus se quer unir a nós, e quer que nos unamos a Ele.

Já pensei em minha vida interior?

   Só seremos santos na medida em que a Vida de Jesus Cristo estiver em nós (D. Columba Marmion), e esta vida é a Vida Interior.

   O Evangelho fala-nos várias vezes da vida interior de Jesus: passava as noites em oração; a Maria e José que o buscavam cheios de aflição respondeu: “Não sabíeis que devo ocupar-me das coisas de meu Pai?”…

Ele é nosso modelo. Devemos portanto ter vida interior.

Quem quer que sejas

   Também tu, meu irmão, quem quer que sejas, procuras ter vida interior.

   Se vives no claustro e não a tens, desmente a vida que professaste e mentes a Deus a aos homens.

   Se vives no mundo, deves fazer todo o esforço por viver cada vez mais essa vida interior indispensável para o progresso da tua alma. Meu irmão, quem quer que sejas, és chamado ao conhecimento místico de Deus.


  Queres saber como dispor-te para essa graça? “Evita o pecado que deforma a natureza; exercita as faculdades da alma e prepara-as, por meio da oração , para a graça que reforma; por uma conduta santa, para a justiça que purifica; pela meditação, para a ciência que ilumina; pela contemplação, para a sabedoria que dá a perfeição” (Saudreau. – L’état mystique)

   Para esta caminhada necessitamos de forças e só a encontramos na Santa Missa. É na participação efetiva da Missa que devemos haurir novo vigor nesta luta.

O que realmente é a Missa?

   Ah! Se nós vivêssemos a Santa Missa!

   Se assistíssemos a esse Sacrifício sublime em união com a Santa Igreja, rezando as orações que ela nos ensina a rezar; se nos uníssemos à imolação de Jesus, imolando-nos com Ele; se oferecêssemos a Deus Pai, em união com o Filho, todos os nossos sofrimentos, renúncia e dificuldades do dia a dia…

   São Pedro Julião Eymard nos ensina que se fosse possível, após a Consagração, ver o Mistério do altar tal que ele é, verias Jesus Cristo na Cruz, oferecendo ao Pai suas chagas, seu sangue, sua Morte, para a salvação da tua alma e do mundo inteiro. Verias os Anjos prostrados ao redor do Altar, admirados, quase atônitos, ante tão grande amor para com as criaturas, tanto indiferentes quanto ingratas. Teus ouvidos se abririam para o Pai Celeste, contemplando o seu divino Filho, te dizendo como no Tabor: “Eis meu Filho bem amado, o objeto das minhas complacências. Adora-o, ama-o, servi-o de todo coração”.

Uma contínua preparação para a Missa

   Ó meu irmão, quem quer que sejas, eu quisera que tu vivesses a Santa Missa; que todo o teu dia fosse – mesmo com todas as tuas ocupações e trabalhos – uma contínua preparação para a Missa, e ao mesmo tempo uma incansável ação de graças. Em uma alma em graça, todas as ações oram!

    Uma contínua preparação! Porque nós somos criaturas miseráveis e o Sacrifício é augustíssimo e a Vitima três vezes Santa!

  Uma ação de Graças incessante! Porque não devemos esquecer nunca os inumeráveis benefícios que recebemos.

   Meu irmão, quem quer que sejas, eu quisera sim, que tu viesses neste Domingo à Missa. Foi por isso e só para isso que eu escrevi estas linhas.

 Clique aqui

 

Obras consultadas:

A Missa e a Vida Interior, Artigos publicados na “Opus Dei” por D. Bernardo de Vasconcelos”, Edição da Opus Dei, Braga, 1936.

A Divina Eucaristia, Extratos dos Escritos e Sermões de São Pedro Julião Eymard

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6º Domingo do Tempo Comum

   Deus implantou na alma humana uma luz intelectual pela qual o homem conhece que o bem deve ser praticado e o mal, evitado. Essa luz não se apagou com o primeiro pecado, mas permanece em nossa alma. Conforme afirma o Concílio Vaticano II, o homem “tem no coração uma lei escrita pelo próprio Deus”, a lei natural.

   E como nosso espírito é governado por uma lógica monolítica, não conseguimos praticar qualquer ação má sem procurar justificá-la de alguma maneira. Por isso, para poder pecar, o homem recorre a falsas razões que sufocam sua reta consciência e levam o entendimento a apresentar à vontade o objeto desejado como um bem. É essa a origem dos sofismas e doutrinas errôneas com os quais procuramos dissimular nossas más ações.

  À vista disso, tornou-se indispensável a existência de preceitos concretos a lembrar-nos de forma clara e insofismável o conteúdo da lei natural. São eles os Dez Mandamentos entregues por Deus a Moisés no Monte Sinai.

   Face a toda norma jurídica, há sempre duas correntes: a dos laxistas que, em nome da “moderação”, justificam sua inobservância com todo gênero de ardis e racionalizações; e a dos exagerados, apreciadores da Lei pela Lei, abstraindo do seu verdadeiro espírito e do seu vínculo com o Legislador.

   Na segunda categoria estavam os escribas e fariseus. Julgando-se os únicos donos da verdade, os doutores da Lei se serviram de sua autoridade para criar uma moral baseada nas exterioridades, enquanto o orgulho, a inveja, a ira e outros vícios borbulhavam sem freio em seus corações.

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: “Não penseis que vim abolir a Lei e os profetas. Não vim para abolir, mas para dar-lhes pleno cumprimento”.

   Em que consiste, o “pleno cumprimento” anunciado pelo Messias?

   A Antiga Lei era, segundo São Tomás, a da sombra, pois apenas figurava com alguns atos cerimoniais e prometia por palavras a justificação dos homens. A Nova, entretanto, é a da verdade, porque realiza em Cristo tudo quanto a Lei Antiga prometia e figurava. Ou seja, a Lei Nova realiza a Antiga enquanto supre o que faltara a esta.

“Em verdade, Eu vos digo: antes que o Céu e a Terra deixem de existir, nem uma só letra ou vírgula serão tiradas da Lei, sem que tudo se cumpra”.

   Os adeptos da chamada “moral de situação” defendem a mutabilidade dos princípios éticos em função do contexto no qual são eles aplicados. Segundo essa filosofia, se os costumes evoluem ao longo dos tempos, o mesmo deve ocorrer com as normas morais. Ou então, mesmo admitindo serem elas universais e perenes, deve-se evitar sua aplicação de forma absoluta nas situações concretas, reduzindo seu valor ao de meras orientações a serem ponderadas em função das circunstâncias do momento.

   Ora, a Lei sintetizada nos preceitos do Decálogo é absoluta e permanente, conforme ensina o Catecismo da Igreja Católica: “Visto que exprimem os deveres fundamentais do homem para com Deus e para com o próximo, os Dez Mandamentos revelam, em seu conteúdo primordial, obrigações graves. São essencialmente imutáveis, e sua obrigação vale sempre e em toda parte. Ninguém pode dispensar-se deles”. Por conseguinte, aquilo que era pecado quando Adão e Eva saíram do Paraíso, sê-lo-á também até o último dia, quando for morto o Anticristo e vier o fim do mundo.

“Portanto, quem desobedecer a um só destes Mandamentos, por menor que seja, e ensinar os outros a fazerem o mesmo, será considerado o menor no Reino dos Céus. Porém, quem os praticar e ensinar, será considerado grande no Reino dos Céus”.

   Ora, pior que desobedecer aos preceitos da Lei divina é criar ou propagar uma doutrina que convide a transgredi-los. Quem assim procede perde, sem dúvida, a graça de Deus e, caso não se emendar, “será considerado mínimo no momento do Juízo; ou seja, será reprovado, será o último. E o último cairá inexoravelmente no inferno”.

“Porque Eu vos digo: Se a vossa justiça não for maior que a justiça dos mestres da Lei e dos fariseus, vós não entrareis no Reino dos Céus”.

   Os escribas e fariseus conheciam a Lei em sua perfeição e sabiam pesar cada ato em função dela. sua justiça fundava-se nas exterioridades. “Quanto ao repouso sabático, haviam eles multiplicado as interdições, entrando nos mais ínfimos detalhes. Sobre a questão das impurezas, deram livre curso à imaginação e acrescentaram à legislação mosaica as mais minuciosas prescrições”.

   Jesus nos adverte aqui ser indispensável, para entrar no Reino dos Céus, praticar uma virtude “maior” que a dos fariseus e mestres da Lei. Ou seja, não se prender às exterioridades, nem fazer enganosas racionalizações, mas cumprir de fato em sua integridade, amorosamente, os Dez Mandamentos.

“Vós ouvistes o que foi dito aos antigos: ‘Não matarás! Quem matar será condenado pelo tribunal’. Eu, porém, vos digo: todo aquele que se encoleriza com seu irmão será réu em juízo; quem disser ao seu irmão: ‘patife!’ será condenado pelo tribunal; quem chamar o irmão de ‘tolo’ será condenado ao fogo do inferno. Portanto, quando tu estiveres levando a tua oferta para o altar, e aí te lembrares que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa a tua oferta aí diante do altar, e vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão. Só então vai apresentar a tua oferta”.

   Os fariseus consideravam o homicídio um pecado gravíssimo, mas não reputavam ser falta moral encolerizar-se com o irmão, ou dizer-lhe toda espécie de desaforos.

   Com sua palavra e exemplo, ensinou Jesus que na Nova Aliança o relacionamento entre os homens deve, pelo contrário, pautar-se pelo respeito, consideração e estima, de forma a não dar ocasião a qualquer queixa recíproca.

“Procura reconciliarte com teu adversário, enquanto caminha contigo para o tribunal. Senão o adversário te entregará ao juiz, o juiz te entregará ao oficial de justiça, e tu serás jogado na prisão. Em verdade Eu te digo: dali não sairás, enquanto não pagares o último centavo”.

   O “adversário” de que fala Nosso Senhor neste versículo simboliza, sob certo prisma, Ele mesmo: o Bem substancial do qual nos tornamos inimigos ao pecar. O mais necessário e urgente, portanto, é procurar primeiro nos reconciliar com Ele, reconhecendo as nossas faltas, pedindo perdão por elas e fazendo firme propósito de doravante não nos desviarmos das retas vias do Redentor. Pois, cedo ou tarde, terminará nossa peregrinação terrena e compareceremos diante do Supremo Juiz, que pronunciará uma sentença justíssima e inapelável. Se nesse dia nosso Divino Adversário ainda tiver algo a declarar contra nós, a dívida será saldada, na melhor das hipóteses, no fogo do Purgatório, do qual não se sai sem pagar até o último centavo.

“Ouvistes o que foi dito: ‘Não cometerás adultério’. Eu, porém, vos digo: Todo aquele que olhar para uma mulher, com o desejo de possuí-la, já cometeu adultério com ela no seu coração. Se o teu olho direito é para ti ocasião de pecado, arranca-o e joga-o para longe de ti! De fato, é melhor perder um de teus membros, do que todo o teu corpo ser jogado no inferno. Se a tua mão direita é para ti ocasião de pecado, corta-a e joga-a para longe de ti! De fato, é melhor perder um dos teus membros, do que todo o teu corpo ir para o inferno”.

   “Todo aquele que olhar para uma mulher, com o desejo de possuí-la, já cometeu adultério com ela no seu coração”: refere-Se aqui Nosso Senhor ao Nono Mandamento do Decálogo, o qual condena também o pecado interior: “Não cobiçarás a mulher do teu próximo” (Dt 5, 21).

  Logo a seguir, o Divino Mestre frisa a radicalidade com que devem ser praticados os Mandamentos, exortando-nos a levar até os últimos extremos o princípio da fuga das ocasiões de pecado. “Vigiai e orai para que não entreis em tentação” (Mt 26, 41), dirá Ele no Horto das Oliveiras. A oração é indispensável, mas não suficiente: é também necessário vigiar e afastar- se completamente daquilo que conduz ao pecado, sobretudo em matéria de castidade.

“Foi dito também: ‘Quem se divorciar de sua mulher, dê-lhe uma certidão de divórcio’. Eu, porém, vos digo: Todo aquele que se divorcia de sua mulher, a não ser por motivo de união irregular, faz com que ela se torne adúltera; e quem se casa com a mulher divorciada comete adultério”.

   Moisés estabeleceu no Deuteronômio que “se um homem, tendo escolhido uma mulher, casar-se com ela, e vier a odiá-la por descobrir nela qualquer coisa inconveniente, escreverá uma letra de divórcio, lha entregará na mão e a despedirá de sua casa” (24, 1). Ora, as interpretações laxistas dessa passagem bíblica deram margem a escandalosos abusos, a ponto de ser o divórcio, segundo o Cardeal Gomá, “um mal gravíssimo do povo judeu, no tempo de Jesus”.

   Com efeito, explica Fillion: “As palavras ‘coisa inconveniente’ utilizadas pelo Deuteronômio eram de si vagas. Mas tinham recebido de Hilel e dos de sua escola uma interpretação escandalosa, que abria de par em par as portas para a paixão. Admitiam que a mulher, mesmo fidelíssima, podia ser despedida por qualquer motivo ou, digamos melhor, por qualquer frívolo pretexto. Um prato mal preparado, a vista de uma mulher mais formosa — atreviam-se a dizer os rabinos — eram razão para o divórcio”.

   Acrescia-se a isto o fato de o divórcio não ser conforme à lei natural. Como mais adiante afirmará o próprio Nosso Senhor, tratava-se de uma concessão temporária feita por Moisés devido à dureza de coração dos hebreus, “mas no começo não foi assim” (Mt 19, 8).

   Comenta a este propósito São Cromácio de Aquileia: “Com razão, nosso Senhor e Salvador, eliminada aquela permissão, restaura agora os preceitos de sua antiga constituição. Ordena, pois, conservar como lei indissolúvel a união do matrimônio casto, mostrando que a lei conjugal estava instituída originariamente por Ele”.

“Vós ouvistes também o que foi dito aos antigos: ‘Não jurarás falso’, mas ‘cumprirás os teus juramentos feitos ao Senhor’. Eu, porém, vos digo: Não jureis de modo algum: nem pelo Céu, porque é o trono de Deus;  nem pela Terra, porque é o suporte onde apoia os seus pés; nem por Jerusalém, porque é a cidade do Grande Rei. Não jures tampouco pela tua cabeça, porque tu não podes tornar branco ou preto um só fio de cabelo”. 

  No tempo de Jesus, o abuso de jurar a qualquer propósito alcançara um grau inacreditável, e isso O levou a condenar explicitamente, neste Sermão da Montanha, todo tipo de juramento.

   Ocorria que, levados pelo orgulho, julgaram os fariseus haver maior honra e mérito em “fazer todas as coisas por Deus, obrigando-se por juramento”; e do preceito “não tomarás o nome de Deus em vão” deduziram, por uma interpretação forçada: “logo, tomarás o nome de Deus sempre que seja como garantia de algo que não seja falso”.

   Entre os cristãos, pelo contrário, devem reinar a sinceridade e a confiança, fruto da retidão de almas habitualmente em estado de graça, conforme ensina Santo Hilário de Poitiers: “A fé elimina-o costume frequente de jurar. Fundamenta na verdade a atividade de nossa vida e, rechaçando a inclinação para mentir, prescreve a lealdade tanto no falar como no ouvir… Portanto, quem vive na simplicidade da fé não precisa recorrer a juramentos”

“Seja o vosso ‘sim’: ‘Sim’, e o vosso ‘não’: ‘Não’. Tudo o que for além disso vem do maligno”.

   A isso nos convida o Papa João Paulo II: “Aprendei a pensar, a falar e atuar segundo os princípios da simplicidade e da clareza evangélica: ‘Sim, sim; não, não’. Aprendei a chamar de branco ao branco, e preto ao preto — mal ao mal, e bem ao bem. Aprendei a chamar pecado ao pecado, e a não lhe chamar libertação e progresso, ainda que toda a moda e a propaganda fossem contrárias”.

   A leitura do Evangelho deste domingo nos reporta a um  dos problemas mais graves do mundo moderno: a terrível perda do senso moral que assola as almas de tantos dos nossos contemporâneos.

   Com efeito, afirma Bento XVI, “vivemos num contexto cultural marcado pela mentalidade hedonista e relativista, que propende para eliminar Deus do horizonte da vida, não favorece a aquisição de um quadro claro de valores de referência e não ajuda a discernir o bem do mal e a maturar um justo sentido do pecado”.

   Aproveitemos esta Liturgia do 6º Domingo o Tempo Comum para analisarmos nossa consciência à procura de alguma racionalização que nos esteja conduzindo a concessões morais, em nossa vida profissional ou particular.

Obra consultada:  DIAS, João S. Clá, O Inédito sobre os Evangelhos Vol VII, Libreria Editrice Vaticana, Città del Vaticano, 2013

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Um Domingo sem Missa, uma semana sem Deus

 

   Certa vez, uma paróquia publicou um cartaz com a fachada da igreja, de portas abertas e estes dizeres: “No seu Batismo, lhe trouxeram aqui. No seu casamento, lhe acompanharam até aqui, no dia de seu funeral, lhe carregarão até aqui. De vez enquando, venha por conta própria”. Tal cartaz deu resultado, os paroquianos começaram a frequentar mais às missas dominicais e semanais. Necessitavam apenas… de uma motivação.

   Abrimos nesta semana uma nova seção para nossos leitores para ajudá-los a conhecer e amar mais a Santa Missa. Como nos ensina Santo Agostinho, nós só amamos aquilo que conhecemos.

Visões do Padre Reus sobre a maravilhosa realidade sobrenatural da Santa Missa

   Falecido em odor de santidade, o jesuíta, servo de Deus, João Batista Reus (* Baviera, 10 de Julho de 1868 + São Leopoldo, 21 de Julho de 1947) teve a graça de ver o que acontecia de sobrenatural durante a Santa Missa, a qual, por esta razão, costumava chamar de “A Festa do Céu”. Eis o que lhe foi dado ver:

  “Nossa Senhora convida todo o Paraíso para participar da Santa Missa; e todos os anjos e santos A seguem em maravilhoso cortejo até o altar. Os santos formam um semi-círculo atrás do altar, enquanto os anjos, em grande multidão, formam um círculo ao redor do sacerdote celebrante e o acompanham até o altar. Lá chegando, estes anjos se colocam atrás dos santos.

   “Outra multidão de anjos cerca a igreja e cobre os fiéis, impedindo a aproximação dos demônios durante a Santa Missa, em honra à majestade de Nosso Senhor Jesus Cristo.

   “A Virgem Santíssima está sempre junto do celebrante, do lado do altar onde é servida a água e o vinho e onde são lavadas as mãos do sacerdote. É a própria Mãe de Jesus quem serve o celebrante e lava as suas mãos. Entre Nossa Senhora e o celebrante está sempre São João Evangelista. Do outro lado do sacerdote, para concelebrar, é convidado o santo do dia.

   “Todas as almas do purgatório também são convidadas pela Virgem Maria e permanecem durante toda a Santa Missa aos pés do altar, entre o celebrante e os fiéis. Conta o Padre Reus que ele via as almas do purgatório em verdadeira festa quando eram convidadas para a Santa Missa. É para elas a maior alegria, o maior consolo, a grande esperança de libertação. Padre Reus via uma chuva caindo sobre o purgatório durante toda a Santa Missa.

   “No momento sublime da Consagração, quando estas almas vêem Nosso Senhor Jesus Cristo em Corpo, Sangue, Alma e Divindade, sentem um desejo incontrolado de sair daquelas chamas e se atirarem em Seus braços, mas não conseguem por não estarem ainda purificadas. “Após a Consagração, acontece a libertação do purgatório das almas que já atingiram a purificação. Nossa Senhora estende a mão a cada uma delas e diz: ‘Minha filha, pode subir’.

   “No momento da oração da paz, os anjos saúdam às almas libertadas do purgatório, abraçando-as. É um momento de imensa alegria e beleza. Em seguida, estas almas, resplandecendo de uma beleza indescritível, adornadas como noivas, são introduzidas, como anjos, triunfalmente no Paraíso por uma multidão de anjos, ao som de músicas e cânticos celestiais”.

Fonte: Boletim Informativo da Paróquia Nipo-Brasileira de São Gonçalo, maio/2003.

 

 

 

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5º Domingo do Tempo Comum

   Ao estudar a vida pública de Nosso Senhor Jesus Cristo, podemos comprovar a existência de um plano de apostolado muito bem traçado, lógico e coerente. Depois de quase trinta anos de vida oculta e da primeira fase de sua vida pública, chegado o momento de começar as suas mais importantes pregações, devia o Salvador escolher um centro estratégico a partir do qual anunciaria aos homens o Reino de Deus.

   Deixando a cidade de Nazaré, foi habitar em Cafarnaum. Situada ao leste da Galileia, nas terras que haviam pertencido às tribos de Zabulon e Neftali, a cidade contava, nos tempos evangélicos, entre 15 e 20 mil habitantes, e constituía o núcleo comercial dos arredores. Aos seus pés, o Lago de Genesaré. Cafarnaum encontrava-se em um lugar particularmente fecundo —, que serviria como fonte de inspiração das belas parábolas do Divino Mestre.

   Na área abarcada pela pregação de Jesus se levanta uma colina verdejante. Ele, “vendo as multidões” que tinham chegado de toda parte à sua procura, subiu a essa montanha e pronunciou seu mais sublime sermão, síntese de todos os seus ensinamentos.

   Contradizendo de modo frontal as máximas e os costumes vigentes em sua época, nas oito Bem-aventuranças o Divino Mestre prega “aos avarentos a pobreza, aos orgulhosos a humildade, aos voluptuosos a castidade, aos homens do ócio e do prazer o trabalho e as lágrimas da penitência, aos invejosos a caridade, aos vingativos a misericórdia e aos perseguidos as alegrias do martírio”. Não sem razão receberam estas Bem-aventuranças o título de “Carta Magna do Reino de Deus”.

   Logo depois de proclamá-las solenemente, Jesus vai Se dirigir sobretudo aos Apóstolos e discípulos, utilizando uma linguagem muito expressiva para lhes indicar as qualidades necessárias ao cumprimento de sua missão. E o faz diante de todos, de modo a tornar manifesta a obrigação daqueles mais chamados a guiar, ensinar e santificar os fiéis.

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: “Vós sois o sal da terra”.

   Foi o sal sempre muito apreciado e valorizado pela humanidade, por ser bom conservante dos alimentos e por realçar o seu sabor. No Império Romano o pagamento aos soldados era feito com ele ou também se destinava uma quantia em dinheiro para sua aquisição, originando o termo salário. 

   Ao afirmar: “Vós sois o sal da terra”, Nosso Senhor declara que seus discípulos — ou seja, todos os batizados — devem enriquecer o mundo propiciando um novo sabor ao convívio humano, evitando a brutalidade e a corrupção dos costumes.

   “Ora, se o sal se tornar insosso, com que salgaremos? Ele não servirá para mais nada, senão para ser jogado fora e ser pisado pelos homens”.

   Para bem compreendermos o que o Salvador nos quer ensinar com esta figura, podemos imaginar uma matéria neutra, semelhante à areia branca, finíssima, que ao ser objeto de um influxo passasse a ser sal. Ela salgaria porque transmitiria uma propriedade que não pertence à sua natureza, mas lhe foi infundida. Ora, se esse sal se tornasse insosso, voltaria a ser o que era antes, ou seja, areia!

   De modo análogo, pelo Sacramento do Batismo, que nos confere a graça santificante, somos elevados da ordem natural à ordem sobrenatural, e recebemos uma como que capacidade salífera para dar um novo sabor à existência e fazer bem aos outros. Todavia, o discípulo que perde a vida da graça e renuncia a ser “o sal da terra”, “não servirá para mais nada, senão para ser jogado fora e ser pisado pelos homens”.

 “Vós sois a luz do mundo”.

   Jesus nos convida exatamente a participar de sua própria missão, a mesma que fora proclamada pelo velho Simeão no Templo, quando, tomando o Menino Deus nos braços, profetizou que Ele seria “luz para iluminar as nações”

   Neste mundo imerso no caos e nas trevas, pela ignorância ou pelo desprezo dos princípios morais, os discípulos de Jesus  devem, com o auxílio da graça e o bom exemplo, iluminar e orientar as pessoas, ajudando-as a reavivar a distinção entre o bem e o mal, a verdade e o erro, o belo e o feio, apontando o fim último da humanidade: a glória de Deus e a salvação das almas, que acarretará o gozo da visão beatífica.

    Para que isso se concretize, a condição é sermos desprendidos e admirativos de tudo o que no universo é reflexo das perfeições divinas, de modo a sempre procurarmos ver o Criador nas criaturas.

“Não pode ficar escondida uma cidade construída sobre um monte”.

   Relativamente próxima do monte das Bem-aventuranças se eleva a cidade de Safed, situada a cerca de mil metros de altitude. Supõe-se, então, que Jesus tenha feito alusão a ela nesta passagem, utilizando uma imagem familiar a todos os presentes. Ao mencionar a impossibilidade de permanecer oculta uma cidade com essas características, Nosso Senhor chama a atenção para a visibilidade de todas as ações do homem, a fortiori se ele recebeu uma missão especial de Deus: “fomos entregues em espetáculo ao mundo, aos Anjos e aos homens”. Nesse sentido, nada no agir humano é neutro, e tudo o que fazemos repercute no universo em benefício ou prejuízo das demais criaturas. Por conseguinte, temos a obrigação de irradiar o bem, pela palavra e pela vida.

“Ninguém acende uma lâmpada e a coloca debaixo de uma vasilha, mas sim, num candeeiro, onde ela brilha para todos os que estão na casa”.

   Postas em lugar alto para melhor difusão da luz, as lâmpadas de azeite, naquela época, eram em geral feitas de argila, sendo dotadas de dois orifícios: um para o azeite e outro para o pavio. A linguagem do Divino Mestre, como sempre, é ao mesmo tempo simples e muito cogente, e o exemplo não poderia ser mais significativo, pois só um insensato ocultaria uma lâmpada acesa debaixo de um alqueire — vasilha para medir cereais — ou de uma cama, onde, além de ser totalmente inútil, correria o risco de provocar um incêndio.

“Assim também brilhe a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e louvem o vosso Pai que está nos Céus”.

   Como lâmpadas a reluzir na escuridão, Nosso Senhor quer que os cristãos iluminem os homens com suas boas ações. Isto é, o bem precisa ser proclamado sem respeito humano e aos quatro ventos, num mundo que estadeia a luxúria e o ateísmo.

   Ao se encontrar em um ambiente hostil, o bom muitas vezes tende a se encolher, a se intimidar, quase se desculpando por não ser dos maus… o que é absurdo! Pelo contrário, devem a verdade e o bem gozar de plena cidadania, onde quer que seja.

   “Sejam os cristãos no mundo aquilo que a alma é no corpo”. Por isso, é necessário não ter receio de proclamar por toda parte a nossa Fé, a nossa vocação, a nossa determinação de seguir a Cristo. Expressivo nesse sentido é o célebre episódio da vida de São Francisco de Assis, ao convidar frei Leão para acompanhá- lo a uma pregação. Os dois simplesmente andaram pela cidade, imersos em sobrenatural recolhimento, e retornaram ao convento sem dizer uma palavra. Ao ser indagado acerca da pregação, o Santo respondeu ter ela sido realizada pelo fato de dois homens se mostrarem de hábito religioso pelas ruas, guardando a modéstia do olhar. É o apostolado do bom exemplo.

   Se isso era válido para o século XIII, quanto mais o será para os nossos dias! Por tal razão, sentimo-nos nós, Arautos do Evangelho, motivados ao uso cotidiano de nosso característico hábito: envergando-o sem respeito humano e manifestando de forma pública nossa inteira adesão à Santa Igreja, pomos em prática o mandato de Jesus.

   O Evangelho de hoje expressa com muita clareza a obrigação de cuidarmos de nossa vida espiritual não só pelo desejo da salvação pessoal.

   Nosso Senhor nos quer santos também com vistas a sermos sal e luz para o mundo! Enquanto sal, devemos empenhar- nos em fazer bem aos demais, pois temos a responsabilidade de lhes tornar a vida aprazível, sustentando-os na fé e no propósito de honrar a Deus.

   E seremos luz na medida  em que nos santificarmos, pois ensina a Escritura: “O olho é a luz do corpo. Se teu olho é são, todo o teu corpo será iluminado” (Mt 6, 22). Deste modo, nossa diligência, aplicação e zelo no cumprimento dos Mandamentos servirá ao próximo de referência, de orientação pelo exemplo, fazendo com que ele se beneficie das graças que recebemos. Assim, seremos acolhidos por Nosso Senhor, no dia do Juízo, com estas consoladoras palavras: “Em verdade Eu vos declaro: todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a Mim mesmo que o fizestes!”

   Em última análise, tanto o sal que não salga quanto a luz  que não ilumina são o fruto da falta de integridade. O discípulo, para ser sal e para ser luz, deve ser um reflexo fiel do Absoluto, que é Deus, e, portanto, nunca ceder ao relativismo, vivendo na incoerência de ser chamado a representar a verdade e fazê-lo de forma ambígua e vacilante. Procedendo desta maneira, nosso testemunho de nada vale e nos tornamos sal que só serve “para ser jogado fora e ser pisado pelos homens”. Quem convence é o discípulo íntegro que reflete em sua vida a luz trazida pelo Salvador dos homens.

  Peçamos, pois, à Auxiliadora dos Cristãos que faça de cada um de nós verdadeiras tochas que ardem na autêntica caridade e iluminam para levar a luz de Cristo até os confins da Terra.

 Obra consultada:  DIAS, João S. Clá, O Inédito sobre os Evangelhos Vol VII, Libreria Editrice Vaticana, Città del Vaticano, 2013

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