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Nossa Senhora do Bom Conselho de Genazzano

Mons. João Clá Dias, EP

Nossa Senhora do Bom Conselho de GenazzanoEm meio a uma atmosfera de paz e bênção celestiais, ergue-se, em Genazzano, na Itália, uma igreja bela e nobre, de proporções harmônicas e distintas, dedicada, desde sua origem, a Nossa Senhora do Bom Conselho. (…)

capela onde se venera o afresco de Nossa Senhora do Bom ConselhoEm seu interior, na nave lateral esquerda, encontra-se uma pequena capela, especialmente construída para abrigar o afresco milagroso da Mãe do Bom Conselho.

A pintura, aplicada sobre delgada crosta de reboca, de 31 cm de largura por 42,5 cm de altura, retrata Maria Santíssima com inefável e materno afeto, amparando em seus braços o Menino Jesus, ambos encimados por um singelo arco-íris. As cores do afresco são suaves, e finos os traços dos admiráveis semblantes.

O magnum Mysterium!” – canta a Igreja no responsório das Matinas de Natal. Deus e Homem, hipostaticamente unidos! Seriedade e doçura, majestade e candura maravilhosamente expressas na fisionomia de uma criança.

Analise-se mais detidamente este quadro do Divino Infante. O nariz sem sinuosidades lembra a suprema retidão dAquele que é o Sol de Justiça. Seus olhos comunicativos, ligeiramente amendoados, de um castanho suave e luminoso, com certo matiz de verde, irradiam paz, ilimitada bondade, infinita sabedoria.

Atrai agradavelmente a vista sua túnica vermelho-ocre, em cuja gola se destacam bordados harmoniosos e enigmáticos. Mero ornato? Ou quiçá alguma palavra em idioma desconhecido, alusiva a sua missão?

Num gesta de intenso afeto, transbordante de amor, Ele envolve com a mão direita o nobre e delicado pescoço de sua Mãe, enquanto com a esquerda segura energicamente a parte superior do vestido dEla, como a dizer: “Sois toda minha!” É tão categórico esse comovedor e divino amplexo , que sua vista direita parece levemente desviada da linha normal, pela ênfase com que Ele estreita sua faca à de sua Mãe Santíssima.

Sem deixar de exprimir em nada a fisionomia própria de uma criança, o Divino Infante não denota, entretanto, a menor superficialidade, tão característica dessa fase da vida. Pelo contrário, como um oceano de seriedade, transparece nEle toda a profundidade e amplitude do entendimento, toda a força da vontade, toda a elevação e nobreza do sentir. E tem a mais alta consciência do que representa sua Mãe, do paraíso interior que Ela Lhe oferece. (…)

O Divino Infante quis manifestar aqui todo o seu comprazimento, toda a sua felicidade em estar no colo de sua Mãe Santíssima, como a indicar a necessidade de recorrer a Ela em todas as borrascas e sofrimentos desta vida, a fim de haurir a força e a coragem indispensáveis para seguir “o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14, 6)

Por sua atitude, o Menino Deus parece dizer a cada um: “Se queres algo de Mim, pede-o por meio de minha Mãe e serás atendido”. O quadro de Nossa Senhora do Bom Conselho de Genazzado bem poderia estar aureolado com as palavras “Mediação Universal de Maria”, pois o próprio Deus humanado quis encontrar proteção e amparo nos braços virginais de sua Mãe Santíssima.

O Menino pressiona levemente sua face contra o rosto de sua Mãe, e dEla recebe inefável manifestação de afeto, veneração e ternura, representada com especial acerto pelo grau de inclinação de ambas as cabeças, pelo modo como se olham.

Oh! Mistérios desta união, que fizeram exclamar a São Bernardo: “Maravilha-te com estas duas coisas e considera qual é causa de maior admiração: se a benigníssima mercê do Filho ou a excelentíssima dignidade de tal Mãe. De ambos os lados está o pasmo, de ambos o prodígio. Que Deus obedeça a uma Mulher, é humildade sem igual, e que uma Mulher tenha autoridade para mandar em Deus, é excelência sem igual” (São Bernardo, Obras Completas, BAC, Madrid, 1953, vol. I, p. 190)

Seria intenção do artista simbolizar a grandeza e profundidade da misteriosa união entre mãe e filho – união arquetípica neles, Maria e Jesus – pintando as faces tão juntas? Ao analisar os traços fisionômicos da Senhora do Bom Conselho – o rosado da face, a configuração retilínea no nariz, a inclinação do pescoço, a cor dos cabelos tendente ao dourado, o arqueado das sobrancelhas – percebe-se que Ela é a Mãe de um Filho que fisicamente muito se Lhe assemelha.

Então, por que pintar tão juntos Maria e Jesus Menino? É porque o Filho é o próprio Criador da excelsa Mãe. E a Mãe – a mais perfeita das criaturas – levou nas suas entranhas virginais o Divino Infante.

A Mãe, em altíssimo ato de adoração ao Filho, procurando como que adivinhar o que se passa em seu interior, considera ao mesmo tempo o fiel que a seus pés se ajoelha e, como Medianeira de todas as graças, acolhe sua prece e a apresenta a Deus Nosso Senhor.

Jamais teve alguém em seus braços tesouro de igual valor: infinito…! Entretanto, quem foi mais desejosa do que Nossa Senhora de atrair outros para compartilharem de seu tesouro?

É infinito o caleidoscópio de paradoxos que a consideração do relacionamento entre Nossa Senhora e seu Divino Filho, nesse afresco, sugere.

Há nesta união de Mãe e Filho uma intimidade e uma profundidade que surpreende e atrai. A união de alma, refletida no olhar que um e outro trocam entre si, gera em ambos uma tranquilidade e uma imobilidade no afeto que lhes parece fazer sentir a bem-aventurada delícia deste mútuo entendimento, deste mútuo estar juntos!

Mas, ao mesmo tempo, este profundo, calmo, sério e íntimo olhar não é excludente. O fiel sente-se atraído a entrar no aconchego e na serenidade desse olhar. Mãe e Filho se dispõem a receber com bondade o fiel devoto à procura de socorro, misericórdia ou amparo. O aconchego sacral que ambas as fisionomias irradiam faz com que o fiel se sinta entendido e amado nos aspectos mais nobres e elevados de sua alma.

Afresco Nossa Senhora do Bom ConselhoLeitor, abandona por um momento o texto e contempla uma vez mais – e agora detidamente – a foto do afresco, e deixa-te penetrar pela celestial atmosfera que Mãe e Filho criam. Por certo perceberás que, para além de suas qualidades pictóricas e artísticas, dessas duas fisionomias com que se evolam certas graças de presença de Nossa Senhora e do Menino Jesus, às quais bem poucos conseguem resistir. Sentirás que graças sensíveis batem à porta de tua alma, ou já a adentram, trazendo consigo uma paz repousante e um repouso pacificador. Ora é a fisionomia da Mãe, ora o olhar do Filho, ora o afresco no seu conjunto que te dará ânimo em meio às situações difíceis, que te consolará durante os sofrimentos, que te acalmará nas aflições, que te dará confiança nas angústias, coragem na hora de avançar, prudência ao ter que recuar; que, por fim, fará descer do Céu o milagre até ti, quando todos os recursos humanos se tiverem esgotado.

(João S. Clá Dias, Mater Boni Consilii, Edições Brasil de Amanhã, 1992, págs 3 a 8 )

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