Santa Teresinha – Somente rosas?
No dia 1º de outubro, festa de Santa Teresinha do Menino Jesus e da Sagrada Face, a maior santa dos tempos modernos, segundo São Pio X.
A santa prometeu fazer cair do Céu sobre a terra uma chuva de rosas, vale dizer, graças abundantes para a santificação das almas.
Esse símbolo ficou de tal modo ligado ao seu nome, que, no mais das vezes, quando dela se fala, pensa-se logo nas pétalas de suave perfume, esquecendo-se dos espinhos.
Com efeito, um pouco por toda parte, formou-se uma idéia unilateral sobre a santa de Lisieux: meiga, atraente, havendo mesmo quem julgasse ter sido a jovem e heróica carmelita uma criatura mimada, tanto na família quanto no convento.
Na iconografia sulpiciana e tantas vezes deformada que correu o mundo não se nota o menor traço do sofrimento. Sua vida teria sido um mar de rosas…
Pelo contrário, essa santa, que via despontar em si, com toda clareza, a vocação religiosa aos dois anos de idade, confessa no leito de morte que sofreu incrivelmente, desde sua mais tenra infância. E insistia: “Sofri muito nesta terra; será preciso fazê-lo saber às almas”.(Carnnet Jaune, 31.7.1913)
É precisamente sobre esse aspecto quase desconhecido de Santa Terezinha que pretendemos discorrer no artigo de hoje.
Servimo-nos de anotações extraídas do abalizado livro do Pe. Alberto Barrios, CMF, “Santa Teresita, modelo y mártir de la vida religiosa” (Editorial Coculsa, Madrid, 1964).
No Alto do Carmelo
Dada a limitação do espaço, cingir-nos-emos ao verdadeiro martírio que representou para a santa os nove anos e meio que passou no Carmelo, cujas portas lhe foram franqueadas após luta intensa, aos 15 anos de idade.
Mal acaba de transpor a clausura, ouve a amarga censura do Superior, Pe. Delatroette, perante os familiares e toda a Comunidade: “Quisestes que esta menina entrasse, Vós, e não eu, sereis os responsáveis”.
Mais tarde ele se arrependerá, confessando com os olhos rasos de lágrimas: “Ah, verdadeiramente esta menina é um anjo!”.
A heróica Teresa não tinha nenhuma ilusão sobre o que a aguardava no claustro. Ela mesma escreveu: “Deus me concedeu a graça de não levar nenhuma ilusão ao Carmelo. Encontrei a vida religiosa tal qual a imaginava. Nenhum sacrifício me surpreendeu”.
No tempo da santa, o Mosteiro de Lisieux foi dirigido por uma freira geniosa, “psiquicamente desequilibrada”, Madre Maria de Gonzaga.
Essa religiosa tornou-se efetivamente o instrumento de Deus para a santificação da Irmã Teresa.
Uma das religiosas declarou no processo de canonização: “Vejo-me obrigada a dizer que durante os anos que Soror Teresa do Menino Jesus passou no Carmelo de Lisieux, teve que sofrer esta Comunidade agitações deploráveis.
Existiam oposições de partidos, lutas de caracteres, cuja origem era o temperamento fastidioso de Madre Maria de Gonzaga, que durante mais de 20 anos foi Priora, em diversas ocasiões”.
Os processos fazem referência a fatos assim qualificados: “cenas espantosas estalavam com um a tempestade, a propósito de nada, porém a inveja era sua origem”.
Nesse ambiente a santa demonstrou “toneladas de prudência”. “Deus prova de grande cautela para evitar quanto pudesse agravar a situação já difícil. Procurava conciliar as coisas, acalmar os espíritos turbados, para que voltasse a paz e as almas pudessem retomar sua vida interior, abalada com frequência”.
Soror Maria Madalena depôs: “Neste ambiente, tão pouco edificante, Soror Teresa do Menino Jesus não cometeu jamais a menor falta”.
Era tal sua união com Deus que vivia como se estivesse no mesmíssimo Céu! Todas as dificuldades eram uma ocasião de progredir na virtude.
Humilhações
É conhecido o episódio da teia de aranha. A noviça, após executar exemplarmente a limpeza, recebe da Superiora perante toda a Comunidade esta repreensão: “Bem se vê que o claustro foi varrido por uma menina de 15 anos! É uma calamidade. Vá tirar aquela teia de aranha e seja mais cuidadosa para o futuro!”.
“Durante seu postulantado, comenta Sóror Teresa de Santo Agostinho, foi tratada muito severamente pela Madre Priora. Nunca a vi rodeada de cuidados, nem de atenções. Esta maneira de comportar-se com a Serva de Deus não se modificou com os anos; mas a doçura e humildade com que aceitava as advertências, as repreensões, não se desmentiram nunca: ainda quando não eram merecidas”.
Um dia em que Madre Inês, irmã mais velha da santa revelou à Priora sua tristeza por ver a jovem irmã tão maltratada e sempre humilhada sem razão, Madre Gonzaga respondeu vivamente:
–“Aqui está o inconveniente de ter irmãs ( no convento)… Sóror Teresa é muito mais orgulhosa do que pensais; necessita ser constantemente humilhada”.
Mas o tratamento adverso não vinha apenas da Superiora. “Algumas religiosas – declarou Celina, a irmã carnal pouco mais velha que a santa – abusavam de sua heróica paciência.
Durante três anos, a santa cuidou com carinho maternal de uma religiosa – Soror San Rafael – “maníaca e sem inteligência, que faria impacientar a um anjo”. Ao declínio mental se ajuntava a didropsia.
Seja por curta inteligência, seja por imaginar que Teresa não tinha sede, o fato é que todos os dias bebia sozinha a pequena jarra de cidra que colocavam para ela e para a santa, no refeitório. O mérito está em que Teresa jamais lhe disse uma palavra de advertência, privando-se de tomar a cidra que lhe correspondia.
Terrível Holocausto
Teresa repetiu mais de uma vez que não conheceu, em sua vida de carmelita, os consolos de Deus. Seus últimos dias foram particularmente marcados por terríveis sofrimentos físicos e morais.
Na Quaresma de 1897, a tuberculose revela-se em estágio desesperador. Todos os dias às 15 hora – “horário militar”, dirá a doente – uma forte febre a vai consumindo. As hemoptises tornam-se rotina, duas e até três num só dia.
As crises de sufocação diurnas e noturnas são terríveis. A angústia a invade. Aspira éter, mas a opressão é tão forte que o remédio não produz efeito. Teresa sofre muitas séries de aplicações de pontas de fogo, mais de quinhentas numa só vez – “eu mesma as contei”, diz Celina. Ela chegou a ponto de não poder respirar sem dar pequenos gritos, de quando em quando. Uma sede ardente a consome: “Quando eu bebo, é como se derramasse fogo sobre fogo”.
A tuberculose atinge outros órgãos, que começam a decompor-se pela gangrena, provocando sofrimentos lancinantes. Teresa já não suporta o menor barulho, mesmo o amarrotar de um papel ou palavras ditas em voz baixa. Uma fraqueza que não lhe permite sequer mexer as mãos, pesadelos aterradores, nervos à flor da pele – ela chega ao auge do seu calvário! Está tão magra que, em muitas partes, os ossos atravessam a pele e formam-se chagas dolorosíssimas. “Não desejeis conservá-las nesse estado, adverte o médico, é horrível o que ela sofre!”
“Nunca pensei que fosse possível sofrer tanto. Nunca! Nunca!” – exclama por sua vez a doente. Sua agonia foi longa e dolorosíssima: “Não encontro explicação para isto senão nos ardentes desejos que tive de salvar almas”, dizia a santa.
Sua morte foi grandiosa e impressionante na sua simplicidade. O êxtase transfigurou sua fisionomia.
“Ninguém imagine – advertia Teresa – que seguir nossa pequena via é levar uma vida de repouso, toda de doçura e de consolações. Ah! é bem o contrário! (…) Porque o amor não vive senão de sacrifícios, e quando alguém se entregou totalmente ao amor, deve estar para ser sacrificado sem nenhuma reserva”.
Eis o verdadeiro sentido da vida de Santa Teresinha do Menino Jesus e da Sagrada Face.
Infelizmente, ele é desconhecido de muitos, que formaram uma visão distorcida da extraordinária religiosa de Lisieux; fixaram apenas o símbolo da chuva de rosas, esquecendo-se porém dos espinhos.
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