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Jesus está adormecido?

Comentário de Santo Agostinho ao Evangelho da dormição de Jesus na barca

 

Fonte: Santo Agostinho (354‑430), Bispo de Hipona (África do Norte) e Doutor da Igreja. Discursos sobre os Salmos, Salmo 25, n.° 2

 

“Desencadeou‑se, então, um grande turbilhão de vento,

e as ondas arrojavam‑se contra o barco”

 

        Também nós navegamos num lago onde não falta vento nem tempestades; as tentações quotidianas deste mundo quase submergem a nossa barca. Donde vem tudo isso, senão do fato de Jesus estar a dormir? Se Jesus não estivesse adormecido dentro de ti, não sofrerias tais tempestades, mas fruirias de uma grande tranquilidade interior, porque Jesus velaria contigo.

         Que quer isto dizer: “Jesus está adormecido”? Significa que a tua fé em Jesus está caída no sono. As tempestades do lago levantam‑se: vês os maus a prosperar e os bons sofrer ; é uma tentação, um entrechocar de ondas. E, na tua alma, dizes: “Ó meu Deus, é isso a Tua justiça, prosperarem os maus e ficarem os bons abandonados ao sofrimento?” Sim, dizes tu a Deus: “É esta a Tua justiça?”

          E Deus responde: “É isso a tua fé? O que te prometi de fato? Fizeste‑te cristão para singrares neste mundo? Atormentas‑te com o destino dos maus, aqui, quando não conheces o seu destino no outro mundo?”

          Qual o motivo de falares assim e de seres sacudido pelas ondas do lago e pela tempestade? É porque em ti Jesus dorme; quero com isto dizer que a tua fé em Jesus adormeceu no teu coração.

          Que farás para seres libertado? Acorda Jesus e diz‑Lhe: “Mestre, estamos perdidos”. As incertezas da travessia do lago atribulam‑nos; estamos perdidos. Mas Ele despertará, quer dizer, a tua fé voltará; e, com a ajuda de Jesus, refletirás no teu coração e notarás que os bens concedidos hoje aos maus não durarão. São bens que se lhes escaparão durante a vida ou que terão de abandonar no momento da morte. A ti, pelo contrário, o que te for prometido ficar‑te‑á para a eternidade […].

          Vira, pois, as costas àquilo que cai em ruína, e volta o teu rosto para o que permanece perene. Quando Cristo acordar, a tempestade já não te sacudirá o coração, as ondas não afundarão a tua barca, porque o vento e as ondas ficarão sob o comando da tua fé, e então o perigo desaparecerá.

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A tristeza é boa ou má?

Sinais da boa e da má tristeza segundo São Francisco de Sales

Fonte: Pe. Joseph Tissot, A arte de utilizar as próprias faltas. Rio de Janeiro: Missionários de São Francisco de Sales, 1938.

         “São Paulo diz que >a tristeza que é segundo Deus, produz a penitência para a salvação, a tristeza do mundo produz a morte. A tristeza pode, portando, ser boa ou má, conforme as disposições que produz em nós. É bem verdade que ela mais freqüentemente produz efeitos maus que bons, pois os bons são não mais que dois: a misericórdia (o pesar pelo mal que outros sofrem) e a penitência (a dor de ter ofendido a Deus), enquanto que os maus efeitos são seis: a angústia, a preguiça, a indignação, o ciúme, a inveja e a impaciência.

        Isso fez dizer o Sábio: >A tristeza mata a muitos, nela não há proveito, porque ao lado de dois regatos de águas cristalinas que brotam da fonte da tristeza, nascem outros seis de águas poluídas”.

        O demônio se esforça, portanto, para produzir essa má tristeza. Com o objetivo de conseguir desanimar e desesperar a alma, procura primeiro perturbá-la. E não lhe custa muito sugerir pretextos para isso: não deveríamos, então, afligir-nos por ter ofendido a Soberana Majestade, por ter ultrajado a infinita Beleza e ferido o Coração do mais terno dos pais?

        “De certo”, responde-nos São Francisco de Sales, “devemos nos entristecer, mas com  verdadeiro arrependimento, e não com uma dor mal-humorada, feita de despeito e indignação. Ora, o verdadeiro arrependimento é calmo, como todo  sentimento inspirado pelo bom Espírito: Non in commotione Dominus, >o Senhor não está na perturbação. Onde começa a haver inquietação e perturbação, a boa tristeza é substituída pela má.

        “A má tristeza” — continua nosso Santo — “deprime e perturba a alma, incute-lhe inquietação e exagerados temores, tira-lhe o gosto pela oração, arrefece e acabrunha a mente, impede-a de tirar proveito dos bons conselhos, priva-a de resolução, de discernimento e de coragem, abate-lhe as forças. Em uma palavra, é para a alma como um rigoroso inverno que tira toda a beleza da terra e imobiliza  todos os animais, pois priva a alma de toda a suavidade e paralisa todas as suas faculdades”.

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“64 anos alimentando-se tão somente da Santa Eucaristia?” e muito mais…

Santos e pessoas virtuosas que tiveram o dom da inédia

 

Fonte: Página fim dos tempos, com acréscimos, supressões e adaptações do compilador do banco de dados para o apostolado.

 

        Inédia significa a total abstinência de alimento e inediata é a pessoa que vive sem comer e até sem beber. São casos realmente raros e, quando autênticos, associados a graças extraordinárias concedidas por Deus para bem da própria pessoa e edificação do próximo. O juízo sobre a autenticidade e heroicidade das virtudes das pessoas em questão só pode ser emitido pela Santa Igreja.

         Segue-se uma relação de casos de inédia, ou de pessoas que se alimentavam muito pouco. Como não houve tempo para verificar cada caso, pede-se que se comunique ao compilador qualquer irregularidade ou imprecisão.

 

1- LUISA PICCARRETA (23/4/1865-4/3/1947) Corato, Itália

 

          Provavelmente o caso mais extraordinário de iédia é o da Sra. Piccarreta. Ela permaneceu nada menos que 64 anos alimentando‑se tão somente da Santa Eucaristia. Há depoimentos de contemporâneos que presenciaram esta “Pequena Filha da Vontade Divina”. Além de não se alimentar, quando tentaram alimentá-la verificaram que ela  “devolveu”  toda a comida servida, “intacta e cheirosa, como se tivesse acabado de ser servida naquele instante…” Embora não tivesse educação formal, deixou‑nos 36 volumes de escritos espirituais profundos onde é narrada toda a sua experiência de convívio diário com Jesus.

          Em 1994, por solicitação do Papa João Paulo II e do Cardeal Ratzinger, o Cardeal Felici, Prefeito da Sagrada Congregação para as Causas dos Santos, instruiu o Arcebispo Carmelo Cassati, Presidente do Tribunal Eclesiástico pela Causa de Beatificação a iniciar o Processo da sua Beatificação. Os seus biógrafos citam ainda fatos extraordinários mesmo após a sua morte: permaneceu livre da corrupção e rigidez cadavérica e repleta de “odor de santidade”.

 

2- MARTHE ROBIN (13/03/1902-06/02/1981) Chateauneuf‑de‑Galaure, França.

 

          Marthe permaneceu 50 anos alimentando‑se tão somente da Santa Comunhão. Em 25 de outubro de 1925, então com 23 anos, consagrou toda a sua vida a Deus num “ato de entrega ao amor e vontade de Deus”: ” Senhor meu Deus, pedistes tudo da sua vil serva; tomai‑a e recebei tudo. Neste dia, entrego‑me a Vós sem reserva e sem retorno.”

           Nos anos seguintes, tomada pela paralisia dos membros inferiores, e depois dos superiores, foi obrigada a permanecer no leito. Não mais comia, nem bebia, e nem dormia. Em 1930, recebeu os estigmas de Cristo e a cada semana experimentava a Sua Paixão.

          Em 1940 perdeu a visão, que ofereceu de bom grado pela França. Inspirou a fundação das Casas de Caridade que se espalharam pelo mundo (aproximadamente 60 atualmente). Em 23 de maio de 1991 foi aberto o processo da sua Beatificação pelo Bispo Marchand de Valence. O resultado do inquérito foi entregue à Congregação para a Causa dos Santos em Roma na Festa de Pentecostes em 1996.

          “O sofrimento (em expiação) é a escola incomparável do verdadeiro Amor” (Marthe Robin)

 

3- THERESE NEUMANN (9/4/1898-18/9/1962)

 

          A mística alemã nascida numa Sexta‑feira Santa, curada da cegueira, paralisia, apendicite, pneumonia, surdez e problemas digestivos, através da intercessão de Sta. Teresinha do Menino Jesus, de quem era devota, permaneceu nada menos que 36 anos sem água ou alimentação, vivendo apenas com a Santa Eucaristia. As investigações posteriores mostraram que o seu estômago havia atrofiado. Houve muitas pesquisas científicas para detectar uma possível fraude. Entretanto, foi motivo de casos concretos de conversão como a do Dr. Fritz Gerlick e de testemunho positivo do “yogi” Paramahansa Yogananda, que a conheceu em 1935.

 

4- BEATA ANNE CATHERINE EMMERICH (8/9/1774-9/2/1824)

 

          Esta religiosa agostiniana, nascida em Flamske, Westfália, Alemanha, tinha o uso da razão desde o seu nascimento e pode entender o Latim litúrgico desde a sua primeira Missa a que assistiu, em sua tenra idade. Viveu seus últimos 12 anos somente da Santa Eucaristia e um pouco de água. Possuía o dom da profecia, lia os corações, e via em detalhes os fatos da Fé Católica. Em 1802  recebeu os estigmas da Coroa de Espinhos de Jesus, tendo sido contemplada com todos os outros estigmas a partir de 1812.

 

5- LOUISE LATEAU (1850-1883)

 

           Belga, de Bois d´Haine, se consagrou aos dezesseis anos para se dedicar ao auxílio às vítimas de cólera da sua paróquia, abandonadas por familiares e amigos. Aos dezoito, tornou‑se visionária e estigmatizada. Viveu 12 anos somente da Comunhão Semanal e 3 ou 4 copos de água por semana. Nunca dormia, passando suas noites em contemplação e oração, ajoelhada aos pés da sua cama.

 

6- MARIE‑JULIE JAHENNY DE LA FRAUDAIS (12/2/1850-4/3/1941)

 

          Conhecida como a “estigmatizada bretã”, nasceu numa cidadezinha chamada Blain, na região da Bretanha. Mais velha dos cinco irmãos, seus pais eram simples porém devotos. Teve as primeiras graças na época da sua Primeira Comunhão, às quais retribuiu com maior devoção. Ingressou na Ordem Terceira Franciscana aproximadamente com vinte anos para se santificar ao mundo. Em 1873 recebeu os estigmas que carregou por 60 anos.

           Tinha freqüentemente visões de Jesus e Maria Santíssima, assim como dom da profecia. Sobreviveu por cinco anos apenas com a Santa Comunhão a partir de 28 de dezembro de 1875. Segundo relatório de Dr. Imbert‑Gourbeyre, durante todo esse período não houve excreções líquidas ou sólidas. Durante seus êxtases era totalmente insensível às dores, luzes intensas, chegando às vezes à levitação. Foi acompanhada continuamente por uma comissão médica.

 

7- SANTA LIDWINA DE SCHIEDAM (18/4/1380-14/4/1433)

 

           Holandesa. Seu pai era um nobre empobrecido e sua mãe, plebéia. Já na tenra idade Ludwina mostrava grande devoção à Nossa Senhora de Schiedam. Ferida num acidente de patinação de gelo aos 16 anos, a sua costela fraturada causou gangrena que teve que suportar por décadas. Visionária, os milagres aconteciam próximos ao seu leito. Algumas vezes foi acusada de estar possessa e examinada pelos Sacerdotes. A sua última visão foi de Cristo administrando‑lhe os últimos Sacramentos. Conta‑se que o seu único alimento nos seus últimos 19 anos era a Sagrada Eucaristia. Canonizada em 14 de março de 1890 pelo Papa Leão XIII. A sua biografia foi escrita pelo Tomás de Kempis.

 

8- SÃO NICHOLAS von FLUE (1417-1487)

 

          Casado com Dorothea Wissling, pai de 10 filhos, embora leigo, atuou como um verdadeiro mediador de Deus no caso da deposição do Papa Eugênio IV em 1439 pelos cardeais rebeldes que elegeram o anti‑papa Felipe V. Aos 50 anos, com o consentimento da esposa e dos filhos recebeu permissão especial para se tornar eremita, e passou 19 anos alimentando‑se somente da Sagrada Eucaristia em reparação por tudo que se cometia contra a Santa Igreja Católica. Canonizado em 1947. Memorial em 21 de março.

 

9- BEM‑AVENTURADA  ALPAIS DE CUDOT (+1211)

 

         Camponesa pobre, nascida em Cudot, Sens, França, viveu presa ao leito por causa da lepra. Assistia às Missas num cubículo especialmente preparado para ela. Por muitos anos viveu somente da Comunhão.

         Foi conselheira da Rainha Adela da França e na hora da sua morte foi milagrosamente curada pela intercessão da Nossa Senhora. Beatificada em 1874 pelo Papa Pio IX.

 

10- SÃO MAXIMILIANO MARIA KOLBE

 

          São Maximiliano Kolbe morreu no campo nazista de Auschwitz em 14 de agosto de 1941, após ser deixado no “bunker” para morrer de inanição por mais de duas semanas, tomando o lugar de um jovem soldado, pai de família. Os nazistas vendo que ele surpreendentemente resistia apesar de nenhuma alimentação, aplicaram‑lhe uma injeção letal. Assim como Santo Estanislau Kotska, São Maximiliano foi levado ao Céu para participar da Festa da Assunção da Nossa Senhora, ou seja, no dia 15 de agosto.

 

11- SÃO PAULO O EREMITA OU DE TEBAS

 

           Nasceu em 230, numa família cristã de classe alta. Foi bem‑educado. Seus pais faleceram quando ele tinha 15 anos. Fugiu para o deserto para escapar da perseguição de Décio e das maquinações dos parentes que cobiçavam os seus bens. Permaneceu ali o resto dos seus 112 anos, vivendo somente de frutas e água, vestindo‑se de folhas e em oração constante. Conheceu e conviveu com Santo Antônio, o Abade. A sua biografia foi escrita por São Jerônimo. Faleceu em 5 de janeiro de 342.

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