São José, o santo do silêncio
03 de Março de 2010
Uma família bem constituída é condição essencial para a boa formação psicológica e o equilíbrio emocional. Ter a seu lado quem simbolize o carinho e a bondade, alguém que auxilie a superar as dificuldades da vida e que na hora das aflições se possa procurar com toda a confiança é fundamental na estruturação mental de uma criança. Do ponto de vista natural, talvez seja esta a principal função das mães junto a seus filhos. Mas também é fundamental ter alguém que represente a força, o vigor, o apoio, a proteção e o esteio do lar. É a figura do pai.
Mas, se essa é a responsabilidade do pai em uma família comum, como fica essa missão quando a Esposa desse lar é Maria Santíssima e o Filho único, a própria Segunda Pessoa da Santíssima Trindade?
Bem sabemos que Jesus nasceu da ação miraculosa do Espírito Santo no claustro materno de Nossa Senhora, sendo, portanto, filho deste divino desposório. Mas quis Ele vir ao mundo no seio de uma família legalmente constituída, da qual fazia parte o castíssimo esposo da Santíssima Virgem.
Conheçamos um pouco mais este homem a quem o próprio Deus quis chamar “pai”: São José!
O Santo do Silêncio
De fato, Nosso Senhor foi chamado o “filho de José”(Jo 1, 45; 6, 42 e Lc 4, 22), o carpinteiro (Mt 13, 55), mas o Evangelho pouco fala de seu pai adotivo. São José é cognominado o “Santo do Silêncio”, pois não conhecemos palavras proferidas por ele mesmo, mas tão-somente suas obras e atos de fé, amor e proteção para com sua amadíssima esposa e o Menino Jesus. Entretanto, foi um escolhido de Deus e desde o início recebeu a graça de ir discernindo os desígnios divinos sobre si, por ser chamado a guardar os mais preciosos tesouros do Pai Celestial: Jesus e Maria. Patrono da vida interior, é ele um exemplo de espírito de oração, sofrimento e admiração. Sendo o chefe da família, admirava sua esposa virginal, concebida sem a mancha do pecado de Adão, e o fruto de suas entranhas, Deus feito homem, muito maiores que ele mesmo.
Uma missão: ser guardião da Sagrada Família
As fontes seguras que falam da vida de São José são os primeiros capítulos dos Evangelhos de São Mateus e São Lucas: a sua genealogia e sua descendência da casa de Davi (Mt 1, 1-17 e Lc 3, 23-38) e o fato de ser esposo de Maria Santíssima, a Virgem Mãe do Messias (Mt 1, 18 e Lc 1,27).
Mas há uma antiga tradição que conta o belíssimo episódio de seu desposório com Nossa Senhora. Diriam os italianos: si non è vero è bene trovato (mesmo se não for verdade, está bem achado). Consta que Nossa Senhora estava no Templo, já em idade de casar-se. Ela também pertencia à estirpe de Davi. Entre seus pretendentes, foram selecionados alguns, das melhores famílias, dos mais virtuosos de Israel. Cada um levava em sua mão um bastão de madeira seca. No momento da escolha, o bastão de José floresceu milagrosamente, nascendo belos lírios em sua ponta, símbolo da pureza que ele havia prometido guardar para sempre. Este fato deu segurança a Maria, que também havia feito promessa de virgindade. O guardião da Sagrada Família encantou-se com a decisão de sua esposa, uma vez que ele havia tomado igual resolução.
Fazendo jus ao grande elogio que a Escritura faz dele: “José era um homemjusto. (Mt 1, 19)”, quando percebeu que sua esposa esperava um filho, sem compreender o que acontecera, não desconfiou da pureza dEla. Por isso decidiu abandoná-La e não denunciá-La, conforme mandava a lei de Moisés. Na noite em que ia partir foi avisado em sonhos sobre a maravilhosa concepção do filho do Altíssimo e passou a amar ainda mais Aquela a quem admirava e via crescer cada dia em virtude e amor ao Criador, Aquela a quem o anjo saudou como a que “encontrou graça diante de Deus” (Lc 1, 30).
Que família admirável! à qual o menor epíteto que cabe é mesmo o de “Sagrada”, como a chama a Igreja. E estejamos certos de que ali o menor dos três era o mais obedecido, e obedecido com amor. Por quem! Pelo próprio Deus feito homem!
As cinco dores de São José
A Igreja venera as cinco grandes dores de São José, mas ensina que a cada dor corresponde uma imensa alegria que Deus lhe enviou. A primeira dor consistiu em ver o Menino Jesus nascer numa pobre gruta, correspondente à alegria de ver os anjos, pastores e Magos que vieram adorá-Lo. A segunda lhe adveio na apresentação de Jesus no Templo, quando o profeta Simeão proclamou que uma espada de dor traspassaria o coração de Maria, justapondo-se à alegria de ouvir, ao mesmo tempo, que o Menino seria a luz das nações e a glória de Israel.
A terceira dor foi a fuga para o Egito e as provas do caminho, seguida da alegria de ver crescer em graça e santidade o Divino Infante. A quarta se deu com a perda do Menino Jesus em Jerusalém e a angústia de buscá-Lo por três dias, correspondendo à alegria de encontrá-Lo no Templo e tê-Lo em casa por muitos anos. Por fim, a quinta dor foi separar-se de Jesus e de Maria na hora de sua morte, tendo a alegria e o consolo de morrer assistido por Eles, tornando-se assim o Patrono da Boa Morte.
Não se sabe exatamente quando morreu São José, mas a Igreja considera que tenha sido antes de iniciar-se a vida pública de Nosso Senhor, pois nas Bodas de Caná Ele estava apenas em companhia de sua Mãe.
A devoção a São José ao longo dos tempos
Ao longo dos séculos, vários santos recomendaram com empenho a devoção a São José: São Vicente Ferrer, Santa Brígida, São Bernardino de Sena, São Francisco de Sales. Porém, quem mais a propagou foi Santa Teresa d.Ávila, a qual obteve, por sua intercessão, a cura milagrosa de uma doença terrível e crônica que a deixava quase inteiramente paralisada. A partir desse fato, nunca deixou de recomendar a devoção ao pai adotivo de Jesus.
Parece que outros santos têm especial poder para solucionar certos problemas. Mas Deus concedeu a São José um grande poder para ajudar em tudo. Com efeito, todos os conventos que fundou Santa Teresa, a Grande, foram colocados sob a proteção do Santo Patriarca.
A festa de São José é celebrada em 19 de março desde o pontificado de Sixto IV (1471 – 1484). Em 1870 o Bemaventurado Papa Pio IX declarou-o patrono da Igreja Universal, e São Pio X aprovou, em 1909, a Ladainha em louvor a ele.
Um conselho do Santo Padre
No mundo atual, no qual abundam as famílias desfeitas e é raro encontrar a singela harmonia do lar, a devoção a São José desponta como especialmente recomendável. Neste sentido, o homem a quem Deus chamava “pai” é-nos indicado como intercessor pelo Papa João Paulo II. Ainda no Ângelus de 18 de março de 2001, após apontá-lo como “exemplo a seguir e protetor a invocar”, o Santo Padre recordou a Família que é modelo para todas, inclusive as de hoje:
— “Quão valiosa é a escola de Nazaré para o homem contemporâneo, ameaçado por uma cultura que muito amiúde exalta as aparências e o êxito, a autonomia e um falso conceito de liberdade individual! Pelo contrário, quanta necessidade há de recuperar o valor da simplicidade, da obediência, do respeito e da busca amorosa da vontade de Deus!”
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