Mons. João Clá Dias, EP
Em Fátima, Nossa Senhora não se dirigiu apenas à geração do início do século XX, mas sobretudo às que vieram depois. E à medida que as décadas vão passando, (…) as palavras proféticas da Mãe de Deus tomam mais realidade. Parecem ditas para os nossos dias, para nossa Pátria, para cada um de nós, para ti, leitor…
O que veio a Santíssima Virgem anunciar à humanidade pecadora? O que veio implorar? Quem teria coragem de recusar um pedido premente da Mãe de Deus?
Deus faz preceder suas grandes intervenções na história por numerosos e variados sinais. Com frequência, serve-se Ele de homens de virtude insigne para transmitir aos povos suas advertências, ou predizer acontecimentos futuros.
Assim procedeu o Padre Eterno em relação à vinda do Messias, seu Filho Unigênito. A magnitude de tal fato, em torno do qual gira a história dos homens, exigia uma longa e cuidadosa preparação. Assim, foi prenunciado durante muitos séculos pelos Profetas do Antigo Testamento, de tal forma que, por ocasião do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo, tudo estava maduro para Sua vinda ao mundo. Até entre os pagãos, muitos esperavam algum acontecimento que desse uma saída para a crise moral na qual os homens de então estavam imersos.
Quase se poderia afirmar com segurança que, quanto mais importante o acontecimento previsto, tanto maior a grandeza dos sinais que o precedem, a autoridade dos profetas que o anunciam e o tempo de espera.
Dir-se-ia que, em sua infinita sabedoria, Deus, no trato com os homens, se pauta por determinadas regras para as quais muito dificilmente abre exceções.
Com efeito, “o Império Romano do Ocidente se encerrou com uma catástrofe iluminada e analisada pelo gênio de um grande Doutor, que fo Santo Agostinho. O ocaso da Idade Média foi previsto por um grande profeta, que foi São Vicente Férrer. A Revolução Francesa, que marca o fim dos Tempos Modernos, foi prevista por outro grande profeta, que foi ao mesmo tempo um grande Doutor: São Luís Maria Grignion de Montfort. Os Tempos Contemporâneos, que parecem na iminência de se encerrar com nova crise, têm um privilégio maior. Veio Nossa Senhora falar aos homens”.[1]
É fácil, à luz desta regra de História, avaliar a importância das profecias de Fátima, pois quem no-las anuncia não é um Anjo, nem um grande santo ou profeta, mas a própria Mãe de Deus.
Em Fátima, Nossa Senhora prediz inegavelmente o advento de grandes castigos para a humanidade (alguns dos quais já se cumpriram), caso esta não deixe de ofender a Deus. Porém, mais importante, num certo sentido, do que o anúncio das punições divinas, são os meios de salvação indicados pela Mãe de Deus: a oração do Rosário, a prática dos Cinco Primeiros Sábados, a devoção ao Imaculado Coração de Maria. Sua finalidade mais imediata é dar aos homens a possibilidade de sair das vias tortuosas do pecado. Se outro motivo não houvesse, seria esta suficiente para uma intervenção tão extraordinária como são as Aparições em Fátima.
No entanto, há algo mais, de importância primordial, que motivou a Mãe de Deus a vir em pessoa transmitir sua mensagem aos três pastorinhos. É o anúncio da vitória da Santíssima Virgem sobre o império de Satanás, ou seja, o Reino de Maria, previsto por São Luís Maria Grignion de Montfort e por vários outros santos: “Por fim o meu Imaculado Coração triunfará!” – afirmou Nossa Senhora, em Fátima.
“É uma perspectiva grandiosa de universal vitória do Coração régio e materno da Santíssima Virgem. É uma promessa apaziguadora, atraente e sobretudo majestosa e empolgante”[2]. (…)
Para que nossos olhos possam contemplar maravilhados o meio-dia desse sol – o triunfo do Imaculado Coração de Maria – cuja aurora despontou em Fátima naquele dia 13 de maio de 1917, a Virgem Maria nos dá os meios: “Se fizerem o que Eu vos disser, salvar-se-ão muitas almas e terão paz.”
Uma dificuldade surge, no entanto. Os pedidos de Nossa Senhora não foram atendidos; os homens continuam a pecar cada vez mais. Que razões temos para crer que Nossa Senhora dará cumprimento à sua promessa?
Suas próprias palavras. Pois a Santíssima Virgem só põe condições para evitar os castigos, mas não para fazer triunfar seu Imaculado Coração. O texto da Mensagem não deixa dúvidas. Após o anúncio da uma sucessão de calamidades que adviriam para a humanidade caso esta não se convertesse, Nossa Senhora concluir, categoricamente, sem antepor condição alguma: “Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará!”.
Como se chegará a essa vitória final sobre o pecado, não o sabemos, pois não parece tê-lo revelado a Mãe de Deus. Apenas é certo que todos quantos atenderem a seus pedidos se salvarão, e muito possivelmente serão chamados a participar desse magnífico triunfo do Imaculado Coração de Maria.
(João S. Clá Dias, Fátima, Aurora do Terceiro Milênio, São Paulo, Abril 1998, pp. 7-9)
[1] Plínio Corrêa de Oliveira,
Fátima: explicação e remédio da crise contemporânea, in Catolicismo, nº 29, maio de 1953.
[2] Plinio Corrêa de Oliveira, Fátima numa visão de conjunto, in Catolicismo, nº 197, maio de 1967.
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