Fui um torpedo humano – parte 1

            Pe. Ooki, S.J.

castelo japonês 2            Eu cursava o segundo ano da Universidade de Tókio quando estalou a guerra no Pacífico. Ardendo em mim o ideal de fazer alguma coisa grande pela minha pátria e pelo meu Imperador, ofereci-me como voluntário na frota dos submarinos.

            Inventaram então os torpedos humanos: potentes bombas guiadas por voluntários que dirigiam e faziam explodir esses engenhos mortíferos no casco dos navios inimigos. Como me dominava o ideal apaixonante de fazer o mais possível, alistei-me como voluntário na pequena frota desses torpedos suicidas.

            Nessa altura acreditava sinceramente que o Imperador do Japão era Deus e pensava que, morrendo ao seu serviço, receberia grande recompensa depois da morte.

            Cada dia, ao ouvir a lista dos nomes dos meus colegas que tinham dado a vida pela pátria e pelo Imperador na explosão dos torpedos, sentia dentro do meu peito incrível emoção e perguntava-me:

            – Quando chegará a hora em que eu entrarei num torpedo?

            Durante vários meses vi partir os meus companheiros que marchavam para aquela heróica e mortal aventura. Tinha-lhes inveja!

            Por fim,  ouvi o meu nome! Era chegado o dia do meu grande heroísmo e da minha recompensa para além da morte. Pela manhã soaram as sirenes avisando-nos que estivéssemos prontos para entrar em ação. Vesti o meu traje de escafandro e, antes de me sentar ao volante, lavei o rosto e refresquei a testa, porque queria estar plenamente consciente, sem sombra de enjôo, nos últimos momentos da minha vida. Contendo a respiração, esperava o sétimo minuto para ouvir o sinal de partida e lançar-me disparado para o mar e daí para a eternidade.

            Sucedeu então o imprevisto. As sirenes soaram longamente em toque de atenção. Com o meu nervosismo quase punha o motor em andamento e me lançava para a frente sem esperar a hora exata da partida. Contive-me, porém, continuando atento. O que eu ouvi não foi a ordem de marchar, mas uma contra ordem. Deixar os torpedos suicidas e voltar para o porto.

            Todos nós, os rapazes da morte, manifestamos ansiedade e contrariedade nos nossos olhares, perguntando uns aos outros: — Que foi isto? Por que essa  mudança tão repentina?

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