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Antífonas do Ó – IV

Antífona de 20 de Dezembro

   O Clavis David et sceptrum domus Israel: qui aperis, et nemo claudit; claudis et nemo aperit: Veni, et educ vinctum de domo carceris, sedentem in tenebris et umbra mortis

   O Chave de Davi, que abre as portas do Reino eterno; oh vinde e livrai do cárcere o preso, sentado nas trevas.

Devemos fechar nossa porta para os pecados

 

   O nome de Jesus Cristo é o Desejado de todos os povos. Antes de ter vindo, fora desejado por todos os patriarcas e profetas; todos suspiravam: “Senhor, vede como Vos desejamos, vinde remediar-nos!” Fora desejado pela Santíssima Virgem e por todos. Ditosos os que Vos esperam, diz Isaías (30,18). Irmãos, se nessa semana vierem bater-vos à porta os pecados, não os recebais. Dizei-lhes: – “Saí daqui porque estou esperando um hóspede”. Quem está a espera de Deus colocou um grande freio na sua boca e nas suas obras. O que tens de fazer é suspirar por Deus: – “Senhor, só Tu és o meu bem e o meu descanso; falte-me tudo, mas não me faltes Tu; perca-se tudo, mas não Te perca a Ti! Ainda que queiras tirar-me tudo o que me queres dar, se me der a Ti, pouco me importa que me falte tudo”.

Cada um de nós temos um estábulo

   Confessai-vos, dai esmolas, desejai a Deus, suspirai por Ele de coração: – “Meu Deus, dentro da minha fraqueza, preparei-Vos a minha pobre casinha e estábulo; não desprezeis os lugares miseráveis, como não desprezastes o presépio e o patíbulo”. Ele quis nascer num estábulo para que, embora eu tenha sido mau e meu coração estábulo de pecados, confie em que não haverá de menosprezar-me. Senhor, embora eu tenha sido mau, preparei-me o melhor que puder; digo-vos cheio de vergonha: – “O meu estábulo está preparado; vinde, Senhor, que o estabulozinho está varrido e livre de pó.

A Mansidão de Deus

   Tempo houve em que este Menino, que agora não fala, falou, e quem o ouvia afligia-se. O Menino que acaba de nascer é o mesmo que, quando Adão pecou, lhe disse: “Onde estás Adão? (cf Gên 3,9) E foi tão forte essa palavra que Adão se escondeu para não ouvi-la; foi tão terrível, que o expulsou do paraíso terrestre.

   Apareceu a benignidade e a humanidade de Deus, nosso Salvador (Tit 3,4). Essa humanidade significa mansidão, como diz o mesmo Apóstolo em outro trecho: Vou-me servir de uma linguagem humana (Rom 6,19). Significa, pois, que apareceu a mansidão de Deus. Bem aventurado dia em que apareceu a mansidão de Deus Pai e de Deus Filho e de Deus Espírito Santo: a carne de Cristo na terra!

E o menino não fala

   Menino bom, não falais? Para que tanto silêncio? O Menino cala-se para te dar a entender, pecadorzinho, que, embora tenhas cometido pecados, não te chamará à sua presença como fez com Adão, não te assustará nem te repreenderá. Encontrá-lo-ás tão mudo para repreender como agora para te falar.

   Haverá alguém mais fraco e incapaz de fazer o mal do que um menino? Desde quando uma criança de dias esbofeteou ou matou alguém? Não há nada que cause menos temor do que um recém-nascido. Pois este é o mistério que celebramos nesta festa, não como as pessoas mundanas, mas em espírito, como Ele próprio disse: como verdadeiros adoradores em espírito e verdade (cf. Jo 4,23).

   Esta é a Divindade que, sem armas, diz: – “Não te farei mal, pecador, aproxima-te de mim. Do mesmo modo que não deves fugir de uma criança não deves fugir da minha Divindade. E como no meu corpo vês mansidão, igualmente deves vê-la na minha Divindade” Esta é a grandeza de Deus: tal como aparece externamente, assim é interiormente, tão manso e tão misericordioso. Bendito seja esse Deus e bendita seja a sua misericórdia que a este dia nos deixou chegar, o dia da mansidão e da misericórdia de Deus.

Fonte: O presente texto foi extraído do livro, O Mistério do Natal – São João de Ávila, Editora Quadrante, São Paulo, 1998

 

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Antífonas do Ó – III

Antífona de 19 de Dezembro

O Radix Jesse qui stas in signum populorum, super quem continebunt reges suum, quem gentes deprecabuntur: Veni ad liberandum nos; jam noli tardare.

Ó Raiz de Jessé, sinal das nações: oh, vinde livrar-nos e não tardeis mais!

A porta vai se abrir, é preciso arrumar a casa

   Uma palavra para todos os que quiserdes receber a Deus neste Natal: – “Padre, eu amo a Deus, que, farei?” Se tiverdes a casa suja, varrei-a; se houver poeira, pegai em água e molhai-a.

   Haverá aqui alguns que não varrem a casa há dez meses ou mais. Existirá mulher tão desleixada que, tendo um marido muito asseado, fique dez meses sem varrer a casa? Há quanto tempo não vos confessais? Irmãos, não vos pedi na Quaresma passada que vos acostumásseis a confessar-vos algumas vezes ao ano? Pelo menos no Natal, nos dias de Nossa Senhora e em outras festas religiosas importantes do ano, mas penso que vos esquecestes.

   Irmãos, pecamos todos os dias. Se até hoje fostes preguiçosos em varrer a vossa casa, pegai agora na vassoura que é a vossa memória. Lembrai-vos do que fizestes ofendendo a Deus e do que deixastes de fazer a seu serviço; ide ao confessor e jogai fora todos os vossos pecados, varrei e limpai a vossa casa.

   Depois de varrida, molhai o chão.  – “Mas não posso chorar, padre”. E se vos morre o marido ou o filho, ou se perdeis um pouco do vosso dinheiro, não chorais? – “Claro que choro, padre, e tanto que quase chego ao desespero”. Pobre de nós que, se perdemos um pouco de dinheiro, não há quem nos possa consolar, mas se nos sobrevém um mal tão grande como perder a Deus – pois isso acontece a quem peca – , o nosso coração é de tal forma uma pedra que são necessários muitos pregadores, confessores e admoestadores para que sintamos um pouco de tristeza! Mais valorizas o real perdido do que o Deus que perdes.

Senhor, abrandai meu coração!

   – “Que me leva a ter o coração tão duro e a não poder chorar?” De todos os tempos apropriados que há ao longo do ano, este é o mais apropriado para os duros de coração. Valorizai o tempo santo em que estamos, considerai esta semana como a mais santa de todas no ano. É uma semana santa, e se a aproveitardes bem e vos preparardes como já sabeis, certamente vos será tirada a dureza do coração.

   Quando daqui [alguns] dias o virdes feito criança recém-nascida, colocada numa manjedoura, vê-lo-eis feito carne, e, por ter-se revestido de uma carne tão branda, Ele se torna brando, e não será difícil que vos dê corações brandos. Aproximai-vos do presépio e pedi com fé: – “Senhor, já que Te tornastes brando, abrandai o meu coração”. Desse modo, sem dúvida alguma, Deus vos dará água para que laveis a vossa casa cheia de pó.

   Santa Margarida de Cortona nunca deixou de chorar as suas culpas. Certo dia disse-lhe o confessor: “Margarida, deixa-te de chorar; o Senhor já te perdoou.”  – “Como”, respondeu a Santa, “como poderei dar-me por satisfeita com as lágrimas derramadas e com a dor daqueles pecados, que afligiram o meu Jesus Cristo durante a sua vida toda?” Imitemos esta Santa [que foi] pecadora, e pensando muitas vezes nos nossos pecados, digamos frequentemente ao Senhor:

Oração:

   Ó meu amor, perdoai-me e vinde tomar posse de todo o meu coração. Se em outros tempos Vos expulsei de mim, agora Vos amo e não quero outra coisa senão a vossa graça. Eis que Vos abro a porta, entrai em meu pobre coração, mas entrai para nunca mais sair dele. Meu coração é pobre, mas entrando nele Vós o fareis rico. Serei rico enquanto Vos possuir, ó supremo Bem. – Ó Rainha do Céu, Mãe aflita desse aflito Filho, a Vós também causei dores amargas, porquanto tivestes tão grande parte nos sofrimentos de Jesus. Minha Mãe, perdoai-me e alcançai-me a graça de servir fielmente, agora que, como espero, Jesus de novo entrou em minha alma.

Fonte:
O Mistério do Natal – São João de Ávila, Editora Quadrante, São Paulo, 1998, p. 17-20
Pe. Thiago Maria Cristini, C. SS. R., “Meditações para todos os dias do ano tiradas das obras de Santo Afonso Maria de Ligório, Bispo e Doutor da Igreja”, Herder e Cia., tomo I, págs. 53 – 55, Friburgo em Brisgau, Alemanha, 1921.

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24º Domingo do Tempo Comum

 13 de Setembro de 2013

Era fria aquela manhã. Muitas ruas ainda dormiam e o sol aos poucos se fazia ver no horizonte nublado. Alguns passos apressados se faziam ouvir no calçamento centenário das ruelas até chegarem à igreja matriz. Um sacerdote começava a subir o altar para a missa, enquanto outros  atendiam os penitentes no tribunal da confissão. Um destes então viu aproximar-se um homem, não era um estranho, já estivera ali outras vezes. Ajoelhou-se e após declinar suas faltas recebeu a absolvição. O sacerdote então ficou pensando: “Este homem vem aqui todos os dias e confessa a mesma falta. Diz que quer mudar de vida, mas não muda, por isso vem sempre aqui… e esta é a oitava vez esta semana!”

No dia seguinte, aquele padre estava junto ao altar marcando as folhas do missal. Faltava ainda algum tempo para a missa e a igreja estava quase vazia. Ao levantar o olhar em direção a porta viu o penitente do dia anterior entrar e ir em direção a ele. “Padre, o senhor pode atender-me em confissão?”. O ministro de Deus então disse que aquilo era um absurdo e que não daria a absolvição. “Eu não te perdoo!” disse o padre. Nesta hora, ouviu-se um forte estalo. O grande crucificado que pendia no altar desprendeu sua mão do madeiro e traçando um enorme sinal da cruz, disse: “Eu te perdoo porque me custaste muito. Custaste-me todo o meu sangue”. 

Este fato, ocorrido em uma pequena cidade da Espanha durante a Idade Média é um pequeno exemplo da misericórdia de Deus. Entretanto ele é nada perto de uma das mais belas parábolas contadas por Nosso Senhor Jesus Cristo, e que a liturgia reserva para este 24º Domingo do Tempo Comum.

Mons. João S. Clá Dias em sua obra “O inédito sobre os Evangelhos” ao comentar o texto de São Lucas nos diz:

“O filho trocou a inocência do lar pela vida devassa. Expressiva imagem de todos os batizados que, desprezando a condição de filhos de Deus, abandonam o estado de graça ao cometer uma falta grave! Esbanjando o tesouro sobrenatural entregue pelo Pai celeste, preferem o prazer fugaz do pecado à felicidade do convívio com Deus e Maria Santíssima, na eternidade.

“Por sua vez, em nenhum momento o pai se esqueceu do jovem e, sem jamais perder as esperanças de reencontrá-lo, continuamente elevava ao Céu aflitas orações por sua conversão. Com igual indulgência Deus reage conosco quando O ofendemos e, em sua bondade, nunca nos desampara, mesmo quando nos afastamos d’Ele com o pecado. Refletindo sobre esta clemência.

“É bem provável que o pai tenha sentido acenderem-se, muitas vezes, suas esperanças quanto à volta do filho. Dirigia-se, então, a um local de onde podia divisar os caminhos da região e ali passava longos períodos rezando, numa confiante espera… Até o dia em que…

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