Antífonas do Ó – III

Antífona de 19 de Dezembro

O Radix Jesse qui stas in signum populorum, super quem continebunt reges suum, quem gentes deprecabuntur: Veni ad liberandum nos; jam noli tardare.

Ó Raiz de Jessé, sinal das nações: oh, vinde livrar-nos e não tardeis mais!

A porta vai se abrir, é preciso arrumar a casa

   Uma palavra para todos os que quiserdes receber a Deus neste Natal: – “Padre, eu amo a Deus, que, farei?” Se tiverdes a casa suja, varrei-a; se houver poeira, pegai em água e molhai-a.

   Haverá aqui alguns que não varrem a casa há dez meses ou mais. Existirá mulher tão desleixada que, tendo um marido muito asseado, fique dez meses sem varrer a casa? Há quanto tempo não vos confessais? Irmãos, não vos pedi na Quaresma passada que vos acostumásseis a confessar-vos algumas vezes ao ano? Pelo menos no Natal, nos dias de Nossa Senhora e em outras festas religiosas importantes do ano, mas penso que vos esquecestes.

   Irmãos, pecamos todos os dias. Se até hoje fostes preguiçosos em varrer a vossa casa, pegai agora na vassoura que é a vossa memória. Lembrai-vos do que fizestes ofendendo a Deus e do que deixastes de fazer a seu serviço; ide ao confessor e jogai fora todos os vossos pecados, varrei e limpai a vossa casa.

   Depois de varrida, molhai o chão.  – “Mas não posso chorar, padre”. E se vos morre o marido ou o filho, ou se perdeis um pouco do vosso dinheiro, não chorais? – “Claro que choro, padre, e tanto que quase chego ao desespero”. Pobre de nós que, se perdemos um pouco de dinheiro, não há quem nos possa consolar, mas se nos sobrevém um mal tão grande como perder a Deus – pois isso acontece a quem peca – , o nosso coração é de tal forma uma pedra que são necessários muitos pregadores, confessores e admoestadores para que sintamos um pouco de tristeza! Mais valorizas o real perdido do que o Deus que perdes.

Senhor, abrandai meu coração!

   – “Que me leva a ter o coração tão duro e a não poder chorar?” De todos os tempos apropriados que há ao longo do ano, este é o mais apropriado para os duros de coração. Valorizai o tempo santo em que estamos, considerai esta semana como a mais santa de todas no ano. É uma semana santa, e se a aproveitardes bem e vos preparardes como já sabeis, certamente vos será tirada a dureza do coração.

   Quando daqui [alguns] dias o virdes feito criança recém-nascida, colocada numa manjedoura, vê-lo-eis feito carne, e, por ter-se revestido de uma carne tão branda, Ele se torna brando, e não será difícil que vos dê corações brandos. Aproximai-vos do presépio e pedi com fé: – “Senhor, já que Te tornastes brando, abrandai o meu coração”. Desse modo, sem dúvida alguma, Deus vos dará água para que laveis a vossa casa cheia de pó.

   Santa Margarida de Cortona nunca deixou de chorar as suas culpas. Certo dia disse-lhe o confessor: “Margarida, deixa-te de chorar; o Senhor já te perdoou.”  – “Como”, respondeu a Santa, “como poderei dar-me por satisfeita com as lágrimas derramadas e com a dor daqueles pecados, que afligiram o meu Jesus Cristo durante a sua vida toda?” Imitemos esta Santa [que foi] pecadora, e pensando muitas vezes nos nossos pecados, digamos frequentemente ao Senhor:

Oração:

   Ó meu amor, perdoai-me e vinde tomar posse de todo o meu coração. Se em outros tempos Vos expulsei de mim, agora Vos amo e não quero outra coisa senão a vossa graça. Eis que Vos abro a porta, entrai em meu pobre coração, mas entrai para nunca mais sair dele. Meu coração é pobre, mas entrando nele Vós o fareis rico. Serei rico enquanto Vos possuir, ó supremo Bem. – Ó Rainha do Céu, Mãe aflita desse aflito Filho, a Vós também causei dores amargas, porquanto tivestes tão grande parte nos sofrimentos de Jesus. Minha Mãe, perdoai-me e alcançai-me a graça de servir fielmente, agora que, como espero, Jesus de novo entrou em minha alma.

Fonte:
O Mistério do Natal – São João de Ávila, Editora Quadrante, São Paulo, 1998, p. 17-20
Pe. Thiago Maria Cristini, C. SS. R., “Meditações para todos os dias do ano tiradas das obras de Santo Afonso Maria de Ligório, Bispo e Doutor da Igreja”, Herder e Cia., tomo I, págs. 53 – 55, Friburgo em Brisgau, Alemanha, 1921.