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3º Domingo do Tempo Comum

 

Ao saber que João tinha sido preso, Jesus voltou para a Galileia.

   A prisão do Precursor, determina o fim do regime da Lei e dos profetas e o começo da pregação sobre o Reino dos Céus, conforme veremos na Liturgia deste 3º Domingo do Tempo Comum.

   Como podemos comprovar, pelos Evangelhos, Jesus era conduzido pelo Espírito e, por um sopro d’Ele, Se retira para a Galileia. Não por temer o martírio, mas por não haver ainda chegado sua hora.

   É o próprio Espírito Santo que com sabedoria nos inspira a escolher os tempos e os lugares. Ele é quem nos ensina quando devemos fugir das perseguições ou afrontá-las, em quais momentos temos obrigação de falar ou de calar, de manifestar-nos a todos ou de nos recolher. Se fôssemos inteiramente flexíveis aos sopros da graça do Espírito Santo, maravilhas sairiam de nossas mãos para a glória de Deus e da Santa Igreja, o bem dos outros e a santificação de nossas almas.

   Infelizmente, com raras exceções, a humanidade se move, ao longo da História, muito mais pelo interesse pessoal, pela ambição, pela inveja, pelo amor-próprio, pela vaidade, pelo prazer, em uma palavra, pelo pecado. Quão grande desperdício de dons, virtudes e graças, do qual se prestará contas diante do Juízo de Deus!

Deixou Nazaré e foi morar em Cafarnaum, que fica às margens do Mar da Galileia, a no território de Zabulon e Neftali…

   Como claramente se deduz, foi por motivos ocasionais que Jesus “foi morar em Cafarnaum”. Entretanto, pode-se afirmar, com segurança, que nada se passava na vida do Salvador sem ter grandes razões como causa.

   Um motivo mais sobrenatural levou Jesus a tomar este caminho: “Começa Jesus a evangelizar as regiões por onde tivera início a defecção de Israel. Demonstra com isso sua misericórdia e sabedoria, levando o remédio onde mais grave era o mal, servindo- Se de uma cidade populosa, mas incrédula e preocupada só com os negócios humanos, para que dali se irradiasse a pregação do Reino de Deus. Quis, assim, significar que quem mais necessita de remédio são os enfermos, não os sadios; e que nunca devemos resistir a nenhum apostolado sob pretexto de que o campo não está preparado para receber nosso trabalho”.

…para se cumprir o que foi dito pelo profeta Isaías: “Terra de Zabulon, terra de Neftali, caminho do mar, região do outro lado do rio Jordão, Galileia dos pagãos! O povo que vivia nas trevas viu uma grande luz, e para os que viviam na região escura da morte brilhou uma luz”.

Trata-se de uma belíssima profecia que se cumpre ao estabelecer-Se o Senhor em Cafarnaum. De fato, segundo nos é descrito pelo Segundo Livro dos Reis (cf. 15, 29), Teglat-Falasar, rei dos Assírios, invadiu várias regiões, entre as quais as terras de Zabulon e Neftali. Isto se deu por um castigo de Deus. Foi assim devastada a Galileia e tomada pelos gentios, e daí seu nome “Galileia dos pagãos”.

   Essa era a principal razão de se terem constituído seus habitantes em objeto de desprezo da parte do resto da nação, pois grande era a infiltração de gentios arameus, itureus, fenícios e gregos, que inevitavelmente se mesclavam com os judeus de raça. Ora, torna-se compreensível o quanto se corromperam as doutrinas e os bons costumes religiosos do povo eleito naquelas paragens, devido à forte e diversificada influência pagã, bem como o motivo pelo qual ele “vivia nas trevas” e na “região escura da morte”.

Daí em diante Jesus começou a pregar dizendo: “Convertei-vos, porque o Reino dos Céus está próximo”.

O Reino está próximo e, para nele penetrar, é preciso fazer penitência, humilhar-se, purificar-se. É a via segura para se obter a paz com Deus e consigo mesmo. Essa foi a condição colocada por Jesus, e, por este motivo, “não começou” — diz o Cardeal Gomá, referindo o pensamento de São João Crisóstomo — “pregando as altas coisas da justiça da Nova Lei, mas as coisas íntimas da retificação da vontade pela penitência.

Quando Jesus andava à beira do Mar da Galileia, viu dois irmãos: Simão, chamado Pedro, e seu irmão André. Estavam lançando a rede ao mar, pois eram pescadores. Jesus disse a eles: “Segui-Me, e Eu farei de vós pescadores de homens”. Eles imediatamente deixaram as redes e O seguiram. Caminhando um pouco mais, Jesus viu outros dois irmãos: Tiago, filho de Zebedeu, e seu irmão João. Estavam na barca com seu pai Zebedeu consertando as redes. Jesus os chamou. Eles imediatamente deixaram a barca e o pai, e O seguiram.

   O padre Luis María Jiménez Font, faz um excelente comentário sobre essa passagem: “Parece que a vocação dos Apóstolos se passou da seguinte maneira: Cristo recebeu espontaneamente os que a Ele se juntaram, procedentes do discipulado do Batista — André e Pedro, João e Tiago —, e no primeiro retorno à Galileia, Filipe e Natanael, aos quais permitiu Jesus retomar suas atividades depois da cura do filho do régulo, acabada a primeira pregação na Judeia, pois o primeiro ministério do Senhor na Galileia, parece que Ele o fez completamente só. Quando já era conhecido na região, decidiu formalizar o ponto da colaboração alheia, e chamou outra vez aqueles que no início O tinham acompanhado por devoção, para que O seguissem de modo definitivo e plenamente dedicado, no dia da pesca milagrosa”.

Jesus andava por toda a Galileia, ensinando em suas sinagogas, pregando o Evangelho do Reino e curando todo tipo de doença e enfermidade do povo.

   Depois de longas décadas no silêncio oculto de Nazaré, vemos agora o Salvador no pleno exercício de sua missão pública, pregando sobre o Reino de Deus, curando os enfermos e expulsando os demônios. Não sabemos dizer quanto durou essa zelosa atividade apostólica, e não seria exagerado supor ter ela se prolongado por vários meses.

   No último ano de sua vida pública, a manifestação será revestida de um esplendor exuberante. Mas, neste período da Galileia, “o Evangelho do Reino” é pregado pelo Filho do Homem a uma opinião pública com insuficiente fé para reconhecer a infinita grandeza do Filho de Deus.

 

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Obra consultada:  DIAS, João S. Clá, O Inédito sobre os Evangelhos Vol II, Libreria Editrice Vaticana, Città del Vaticano, 2013

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